Oração eucarística

A Oração Eucarística, também chamada de anáfora, cânon ou regra da oração, é o momento central da celebração eucarística católica, já que se trata da preparação para o Sacrifício Eucarístico. No Missal Romano há várias fórmulas de orações eucarísticas, todas constituídas por elementos caraterísticos. Depois de convidar o povo a elevar os corações a Deus e dar-Lhe graças, o sacerdote proclama a oração, em nome de todos os presentes, dirigindo-se ao Pai por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo.[1][2] As orações eucarísticas constam no Missal Romano, promulgado pelo Papa Paulo VI em 1969.[3]

O significado desta Oração é que toda a assembleia dos fiéis se una com Cristo para magnificar as grandes obras de Deus e para oferecer do sacrifício.
 
Ordenamento Geral do Missal Romano, 78[1].
A oração eucarística no momento da consagração.

História

Primeiros séculos

Na história da liturgia é possível notar ao longo dos séculos que os cristão criaram uma forma especifica de Oração Eucarística para celebrar o memorial, morte e ressurreição de Cristo. Os textos utilizados para a redação da oração foram materiais judaicos existentes, e os transformaram segundo o estilo literário da época helenística. Os escritos eram extremamente cristológicos, pois descreviam a obra da salvação realizada por Cristo, sem referência ao Antigo Testamento, privado do sanctus, numa linguagem muito precisa.[4]

O texto latino mais conhecido é o de Santo Hipólito, que se tornou conhecido devido ao fato de o Missal Romano de 1968 tê-lo utilizado como Oração Eucarística II:[4]

Nós te damos graças, ó Deus, por teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos enviaste nos últimos tempos, salvador e Redentor, porta-voz da tua vontade, teu Verbo inseparável, por meio de quem fizeste todas as coisas e, por ser do teu agrado, enviaste do céu ao seio de uma Virgem; aí presente, cresceu e revelou-se teu Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem.

Cumprindo a tua vontade, obtendo para ti um povo santo, ergueu as mãos enquanto sofria para salvar do sofrimento todos aqueles que em ti confiaram. Se entregou voluntariamente à Paixão para destruir a morte, quebrar as cadeias do demônio, esmagar o poder do mal, iluminar os justos, estabelecer a Lei e trazer à luz a ressurreição. Tomou o pão e deu graças a ti, dizendo: ‘Tomai e comei: isto é o meu Corpo que será destruído por vossa causa’.

Tomou igualmente o cálice e disse: ‘isto é o meu sangue, que será derramado por vossa causa. Quando fizerdes isto, fá-lo-eis em minha memória’. Por isso, lembramos de sua morte e ressurreição e oferecemos-te o pão e o cálice, dando-te graças por nos considerardes dignos de estarmos na tua presença e de te servir.

E pedimos: envie o teu Espírito Santo ao sacrifício da Santa Igreja, reunindo todos os fiéis que receberem a eucaristia num só rebanho, na plenitude do Espírito Santo, para fortalecer nossa fé na verdade. Concede que te louvemos e glorifiquemos, por teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder e honra, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na tua Santa Igreja, agora e pelos séculos dos séculos. Amém”.

Pós-Concílio Vaticano II

As orações eucarísticas constam no Missal Romano, promulgado pelo Papa Paulo VI em 1969. Nos países lusófonos, foram utilizadas traduções provisórias, até o lançamento da versão portuguesa do Missal em 1970. Esta foi a primeira modificação do Missal do Papa Pio V, que esteve na Igreja Católica desde 1570. Em 1991, foi feita uma revisão, com pequenas modificações e o acréscimo das novas Orações Eucarísticas, pois até então só havia quatro, chegando atualmente ao número de 14. Em 2000 pequenos acréscimos foram feitos, e que ainda não foram traduzidos para o português.[3]

Estrutura

Ao início, segue-se o Prefácio, que, segundo o Missal, é uma ação de graças pelos dons de Deus, em particular pelo envio do seu Filho como Salvador. O Prefácio conclui-se com a aclamação do Santo, normalmente (e preferencialmente) cantada. Em seguida, é feita a invocação do Espírito Santo, que é aquele que consagra o pão e o vinho, ou seja, aquele que a Igreja afirma que os transforma verdadeiramente em Corpo e Sangue de Cristo. A oração eucarística pede a Deus que receba a todos os seus filhos, junto do Papa e do bispo responsável pela diocese em que a Missa é celebrada; sendo assim, na celebração a comunidade está totalmente ligada à Igreja universal e à Igreja particular. A Igreja Católica afirma que as súplicas são apresentadas a Deus por todos os seus membros, tanto os vivos quanto os já falecidos na esperança de "partilhar a herança eterna do céu, com a Virgem Maria" (cf. CIC, 1369-1371). Intenções particulares também podem ser colocadas na oração através do pedido pessoal ou de leitura em voz alta.[1][5]

Segundo o Catecismo da Igreja Católica

No Catecismo da Igreja Católica é feita uma explicação momento a momento da Oração Eucarística:[5]

§1352. A anáfora: Com a oração eucarística, oração de ação de graças e de consagração, chegamos ao coração e cume da celebração:

no prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une, então, as suas vozes àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e todos os santos – cantam ao Deus três vezes Santo:

§1353. Na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua bênção)(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e o sangue de Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese);

na narração da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o corpo e o sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez por todas;

§1354. Na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e regresso glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que nos reconcilia com Ele:

nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na comunhão com os pastores da Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério e os seus diáconos, e todos os bispos do mundo inteiro com as suas Igrejas.

§1355. Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fracção do pão, os fiéis recebem «o pão do céu» e «o cálice da salvação», o corpo e o sangue de Cristo, que Se entregou «para a vida do mundo» (Jo 6, 51):

Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga, «eucaristizados» (186), «chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar parte nela se não acreditar na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu o banho para a remissão dos pecados e o novo nascimento e se não viver segundo os preceitos de Cristo» (187).

Orações eucarísticas

No total, o Rito Latino possui 14 orações eucarísticas,[3] sendo que algumas são mais longas e outras mais breves; umas só podem utilizar-se em determinados dias ou circunstâncias, enquanto que outras podem ser utilizadas sempre. Os sacerdotes (bispos e presbíteros podem escolher aquela que lhes pareça mais indicada para determinada Missa, porém sabendo que há algumas normas a se considerar, todas contidas na Instrução Geral do Missal Romano, mas, regra geral, pode-se escolher uma Oração Eucarística (OE) entre várias possíveis. A liturgia não indica determinada Oração eucarística para uma Missa, mas sim faz sugestões, embora fundamentadas liturgicamente, mas não de normas absolutas. As regras litúrgicas dizem é que determinada Oração eucarística pode ser usada de tal forma: sempre (OE I); mais indicada para os dias feriais e circunstâncias peculiares (OE II); de preferência nos domingos e festas (OE III); quando a Missa não tem Prefácio próprio e nos domingos do Tempo Comum (OE IV).[6]

Oração Eucarística I

Ver artigo principal: Oração Eucarística I

Também chamada de cânone romano, essa foi, desde o século IV, e durante muitos séculos, a única Oração Eucarística da liturgia da Igreja Latina. A autorização para a elaboração de novas orações eucarísticas foi dada pelo Papa Paulo VI autorizou a preparação de novas orações eucarísticas. Àquela época, o então Pontífice estabeleceu que o cânone romano permanecesse inalterado e que se prepararia duas ou três novas orações eucarísticas para serem usadas em momentos específicas. O texto não contém uma ação de graças, e, por isso o prefácio é variável e se apresenta como uma grande intercessão, baseando-se na oferta e sacrifício. No que se refere à sua composição literal e estilística, toda a Igreja representa ao Pai o sacrifício de Cristo num clima de exultação e alegria comum.[3][7]

Oração Eucarística II

Ver artigo principal: Oração Eucarística II

É a mais curta dentre as orações, e traz de volta uma das mais antigas orações eucarísticas que chegou até nós: aquela contida na Tradição Apostólica, atribuída a Santo Hipólito]. Sua principal característica é a conotação cristológica: a celebração eucarística é um memorial da Páscoa, repassa a história da salvação, e uma síntese de toda a vida de Cristo.[7]

Oração Eucarística III

Tem características da Oração Eucarística II, porém o texto é mais amplo e elaborado. Juntamente à Oração Eucarística IV, é uma verdadeira nova composição do Rito Latino, pela essência do Concílio Vaticano II. Elaborada pelo monge beneditino Cipriano Vagaggini, possui grande cultura bíblica e patrística.[7]

Oração Eucarística IV

Esta oração foi composta no modelo das antigas orações eucarísticas da tradição litúrgica oriental, sobretudo a Oração de São Basílio, e é a primeira a ter seu próprio prefácio fixo. Sua escolha pode ser feita no tempo per annum (domingos e dias da semana), nas memórias dos santos sem um prefácio próprio, nas missas rituais, nas missas para várias necessidades e missas votivas. É a oração com a linguagem mais bíblica das orações de rito romano.[7]

Oração Eucarística V

Esta foi uma oração escrita no Congresso Eucarístico de Manaus em 1975.[3]

Oração Eucarística VI

Esta também chamada de "Oração Eucarística Suíça", por ter sido preparada pelo Sínodo Suíço, foi concebida em quatro exemplares, com variações no prefácio e nas intercessões de acordo com o tema:[3][7][8]

  • VI-A) A Igreja a caminho da unidade
  • VI-B) Deus conduz sua Igreja pelo caminho da salvação
  • VI-C) Jesus, caminho para o Pai
  • VI-D) Jesus que passa fazendo o bem

Orações Eucarísticas de Reconciliação I e II

Compostas a pedido do Papa Paulo VI pelo Ano Santo da Reconciliação (1975), elas preveem um critério de seleção mais refinado, uma vez que o prefácio próprio forma um todo, não separável do restante da oração e só pode ser substituído por prefácios que "se refiram aos temas da penitência e da renovação da vida". Essas orações frisam o poder salvífico da Eucaristia e devem ser pronunciadas acentuando-se a "reconciliação".[3][7]

Orações Eucarísticas para Crianças I, II e III

Estas orações, foram formuladas em 1973, a pedido de Paulo VI, inicialmente em francês e alemão, depois sendo traduzida para o inglês, o espanhol e italiano.e posteriormente para outros idiomas.[3][9]

Referências

  1. Papa Francisco (8 de março de 2018). «A Oração Eucarística». Catequese do Brasil - CNBB. Consultado em 23 de fevereiro de 2021
  2. «Oração Eucarística nos primeiros séculos». 25 de maio de 2017
  3. Ocimar Francatto (6 de março de 2020). «Catequese Litúrgica com Pe. Ocimar Francatto: o que é a Oração Eucarística». Diocese de Limeira. Consultado em 6 de março de 2021
  4. «Oração Eucarística nos primeiros séculos». Diocese de Lorena. 25 de maio de 2017. Consultado em 24 de fevereiro de 2021
  5. «SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO». Vatican.va. Consultado em 24 de fevereiro de 2021
  6. «Questões e respostas Escolha da Oração Eucarística». Liturgia.pt. Consultado em 7 de março de 2021
  7. «As dez Orações eucarísticas». Instituto Humanitas Unisinos. 26 de novembro de 2019. Consultado em 5 de março de 2021
  8. «Orações Eucarísticas». Católico Orante. Consultado em 6 de março de 2021
  9. «Análise da oração eucarística para missas com crianças» (PDF). PUC-Rio. Consultado em 5 de março de 2021

Ver também

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