Artemisia annua

Artemisia annua é uma espécie do género Artemisia autóctone das regiões temperadas da Ásia, mas encontrada em todo o mundo. Apresenta folhas semelhantes ao feto e flores amarelo-vivo. Mede, em média, 2 m de altura, apresenta um caule único, ramos alternados e folhas alternadas com 2,5-5 com de comprimento. Sofre polinização cruzada pelo vento ou por insetos.[1]Um dos tratamentos para a Malária recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é feito com medicamentos derivados da artemisinina, cujo princípio ativo é extraído da Artemisia annua. Esses medicamentos são potentes inibidores do metabolismo do grupo HEME, presente na hemoglobina, feito pelo plasmódio para evitar o estresse oxidativo celular. Em países como o Camboja, Tailândia, Laos e Vietnã existe grande disseminação de uma mutação do Plasmodium falciparum, que confere resistência aos fármacos derivados da artemísia.[2]

Artemisia annua

Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: Angiospermas
Clado: Eudicotiledóneas
Clado: Asterídeas
Ordem: Asterales
Família: Asteraceae
Género: Artemisia
Espécie: A. annua
Nome binomial
Artemisia annua
L.

O potencial Farmacológico da Artemisia annua L.

A Artemisinina

A espécie Artemisia annua L. é proveniente da China. Seu nome em chinês antigo, Qing Hao, significa "erva verde". Existem duas teorias sobre a origem do termo. Uma diz que esse é o nome da deusa grega Artemis, que significa, literalmente, "aquela que cura doença"; ela era, na verdade, deusa da caça e das florestas (FERREIRA et al, 1997; GUIRAND, 1959). A outra teoria é de que a Artemísia foi nomeada em homenagem à rainha Artemísia de Caria, da Turquia, que viveu no século quatro a.C.. Ela ficou tão agravada pela morte do seu marido e irmão, que passou a misturar suas cinzas com toda bebida que ingeria para torná-las mais amargas (BRUCE-CHWATT, 1982).[3]

A A. annua L., contém artemisinina, que é o princípio ativo mais eficaz para o tratamento da malária que é um problema de saúde global, com mais de um bilhão de pessoas vivendo em áreas de alto risco da doença (GRAHAM et al., 2010). A artemisinina foi isolada pela primeira vez na China, em 1971, em suas folhas e flores (KLAYMAN, 1985). Desde então, A. annua L. tornou-se uma das plantas mais amplamente investigada nos últimos anos. A busca de outros compostos ativos na planta conduziu à descoberta e isolamento de muitos fitoquímicos, tais como monoterpenóides, sesquiterpenóides, flavonóides, cumarinas, alifáticos e lipídios compostos.

Existem duas patentes relacionadas a A. Annua L. que são:

Processo de extração e purificação de artemisinina a partir de massa sólida de Artemisia annua utilizando dióxido de carbono - País de prioridade: Brasil – setor de interesse: Extrato

Processo de obtenção de artemisinina a partir de Artemisia annua L - País de prioridade: Brasil Setor de interesse: Ativo vegetal

O estudo da composição do óleo essencial desta planta medicinal levou à identificação de centenas de componentes como cetona, germacreno D e 1,8-cineol, os quais são geralmente encontrados como os principais componentes. Além de sua atividade antimalárica devido ao seu principal princípio ativo que é a Artemisinina, a A. annua L. mostra atividade anti-inflamatória, antipirética, antifúngica, antiparasitária, antiulcerogênica, atividade citotóxica e anticancerígena devido a outros princípios ativos que também existem em seu óleo essencial que são a Artemisia cetona, alfapineno e a cânfora. A A. annua L. possui grande quantidade de pelos foliares conhecidos por tricomas glandulares, encontrados nas folhas, caules e flores, os quais são considerados os prováveis sítios de acumulação de artemisinina e os análogos de trioxano (MARCHESE, 1999; COVELLO, 2007; CAPELIN, 2012, TING WU, 2012). Os tricomas são estruturas vegetais originados do crescimento de células epidérmicas das plantas, considerados de extrema importância na taxonomia vegetal devido ao fato de sintetizarem, armazenarem e secretarem vários metabólitos secundários especializados. Como os tricomas sobressaem da epiderme e muitas vezes podem ser facilmente separados e colhidos, tornando-se acessíveis à análise. Desde modo, eles se tornam excelentes sistemas experimentais para a identificação das enzimas e caminhos responsáveis pela síntese dos metabólitos especializados (ANTHONY, 2008). Os tricomas estão ativamente implicados em uma variedade de processos adaptativos nas plantas, incluindo a defesa contra herbívoros e microrganismos. A inibição de microrganismo e similares ocorre devido à presença de óleos essenciais em sua estrutura, no caso da A. annua. L. a artemisinina.  A maioria destes compostos também tem elevados valores comerciais em indústrias farmacêuticas, alimentares e cosméticas devido a resistência de pragas e doenças, a diversas atividade e aplicações farmacológicas, e propriedades organolépticas úteis (WAGNER, 2004; TING WU, 2012).[4]

Potencial Farmacológico da Artesiminina

A artemisinina é o princípio ativo característico da artemísia, ela é uma lactona sesquiterpênica com um grupamento endoperóxido. A teoria mais aceita sobre o mecanismo de ação dos endoperóxidos antimaláricos é de Meshnick e colaboradores, o qual o descreve em duas etapas, na primeira, a artemisinina é ativada pelo íon ferro (II) presente no grupo heme da hemoglobina formando radicais livres, com a função de impedir a desintoxicação do heme no interior do parasita, produzindo radicais livres e espécies citotóxicas, deste modo passando para a segunda etapa, em que essas espécies reagiriam com uma proteína específica associada à membrana do parasita levando-o à morte (MESHNICK et al., 1996)[5]

Seu uso tradicional segundo a medicina chinesa, para o tratamento de malária, febre à tarde relacionada à Deficiência de YIN, febre causada por tuberculose, icterícia e febre causada por excesso de sol é a administração de chás em uma infusão utilizando as partes aéreas da planta.[6]

Como a artemisinina não é solúvel em água nem em óleo, ela precisa passar por transformação química para que seja solúvel em um solvente que possa ser administrado ao homem. Dois derivados da artemisinina, o arteméter e o artesunato, solúveis em óleos e água, representam alternativas eficazes no tratamento da doença e permitem a aplicação na forma endovenosa e intramuscular.[3]

Fármaco derivado da artemisinina: Artesunato

O artesunato é um derivado semissintético da artemisinina que, in natura, é encontrada nas folhas e flores da Artemisia annua L. é usado para o tratamento de malária complicada, a recomendação da OMS é o tratamento com artesunato injetável via intravenosa (IV) ou intramuscular (IM), de ação potente e rápida por no mínimo 24 horas até que o infectado possa tomar a medicação oral, dando sequência ao tratamento  com alguma Terapia de Combinação da Artemisinina (ACT) disponível. O Artesunato é um agente de rápida ação e duração que elimina os parasitas mais rapidamente do que os antimaláricos convencionais. Isso porque é um ativo que atua contra as fases sexuada e assexuada do ciclo do parasita - evitando a reprodução e todas as fases do ciclo de vida do plasmodium a partir de anéis jovens, resultando numa recuperação mais rápida.

Artesunato + Mefloquina

Medicamento usado para o tratamento da malária aguda e sem complicações, causada pelo Plasmodium falciparum. O Artesunato pertence a um grupo de substâncias derivadas da artemisinina que e é um ativo utilizado em conjunto com outros compostos na conhecida Terapia de Combinação da Artemisinina (ACT). Neste medicamento, o artesunato é combinado com um análogo de quinino, a Mefloquina, composto conhecinho como antimalárico. O Artesuanato + Mefloquina, é comercializado em forma de comprimidos que devem ser administrados via oral. [7]

A polêmica sobre a cura de COVID-19

Em 2020, durante a Pandemia de COVID-19, a planta se tornou "famosa" depois do presidente da República de Madagáscar, Andry Rajoelina, dizer que ela curaria a doença. Diversos países, como Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Libéria chegaram a comprar um tônico preparado com a planta, mas a OMS e a União Africana (African Union - AU) emitiram alertas sobre não haver estudos científicos para comprovar a eficácia da Artemisia annua. A AU emitiu um comunicado no dia 04 de maio anunciando que estava pedindo mais dados ao governo de Madagascar e que o Centro para Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC da África) "revisaria os dados científicos coletados sobre a segurança e eficácia do tônico com base em normas técnicas". [8] [9] O Instituto Max Planck de Coloides e Interfaces, na Alemanha, está conduzindo testes clínicos em uma espécie diferente e mais potente da mesma planta, cultivada no Kentucky, EUA[10].

Referências

  1. Organização Mundial de Saúde (2006). WHO monograph on good agricultural and collection practices (GACP) for Artemisia annua L. (PDF). [S.l.: s.n.] ISBN 9789241594431
  2. «Malaria: Artemisinin resistance». www.who.int (em inglês). Consultado em 11 de dezembro de 2020
  3. Fragoso, Thaís Palmeira (2014). «Análise do uso medicinal do gênero Artemisia no Brasil com base em fatores tradicionais, científicos, políticos e patentários para subsidiar o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos». Consultado em 21 de dezembro de 2022
  4. Cervezan, Thalita (2017). «Perfil fitoquímico de Artemisia annua L. em diferentes tipos de manejo pós-colheita» (PDF). UNESP. Repositório institucional. Consultado em 20 de dezembro de 2022
  5. Almeida, Laís Cardoso; Santos, Elisângela; Santana, Carine Sampaio; Araújo, Janay Stefany Carneiro; Taranto, Alex Gutterres; Leite, Franco Henrique Andrade (2016). «REVISÃO DE LITERATURA SOBRE O MECANISMO DE AÇÃO DA ARTEMISININA E DOS ENDOPERÓXIDOS ANTIMALÁRICOS – PARTE II». Textura (16): 16–25. ISSN 2447-9934. Consultado em 19 de dezembro de 2022
  6. Amaral, Edna (2015). «Aspectos históricos e utilização da Artemisinina em seu tratamento» (PDF). UFSJ: p.1-8. Consultado em 20 de dezembro de 2022
  7. Ramos, Rodrigo (2018). «Artesunato + Mefloquina: comprimidos revestidos» (PDF). Farmanguinhos Fiocruz. Consultado em 20 de dezembro de 2022
  8. «COVID19: African Union in Discussions with Madagascar over herbal remedy | African Union»
  9. «Do not use untested Covid-19 remedies, WHO warns». BBC News (em inglês). 5 de maio de 2020
  10. Hirsch, Afua (21 de maio de 2020). «Why are Africa's coronavirus successes being overlooked? | Afua Hirsch». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077
  11. CERVEZAN, Thalita Cristina. PERFIL FITOQUÍMICO DE Artemisia annua L. EM DIFERENTES TIPOS DE MANEJO PÓS-COLHEITA. Repositório Institucional UNESP, 2017. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/151234/cervezan_tcm_dr_bot.pdf;jsessionid=08A5FEC6FB87760AC41D70867F031D90?sequence=3. Acesso em: 18 dez. 2022.
  12. FRAGOSO, Thaís Palmeira. ANÁLISE DO USO MEDICINAL DO GÊNERO ARTEMISIA NO BRASIL COM BASE EM FATORES TRADICIONAIS, CIENTÍFICOS, POLÍTICOS E PATENTÁRIOS PARA SUBSIDIAR O PROGRAMA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS. ARCA REPOSITÓRIO INSTITUCIONAL DA FIO CRUZ, 2014. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/handle/icict/11122/21.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 18 dez. 2022.
  13. AMARAL, Edna Ferreira. Malária: Aspectos históricos e utilização da Artemisinina em seu tratamento. UFSJ, 2015. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/coqui/TCC/Monografia-TCC-Edna-Ferreira-Amaral-20152.pdf. Acesso em: 18 dez. 2022.
  14. ARTESUNATO + MEFLOQUINA : comprimidos revestidos. Responsável técnico Rodrigo Fonseca da Silva Ramos. Rio de Janeiro: Farmanguinhos, 2018. Bula de remédio 2p.. Disponível em: https://www.far.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/04/Artesunato-mefloquina_Bula_Paciente.pdf. Acesso em: 19 dez. 2022.
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