Avidyā (Budismo)

Avidyā (sânscrito अविद्या; Pāli: अविज्जा, avijjā; fonética tibetana: ma rigpa) na literatura budista é comumente traduzido como "ignorância".[1][2][3] O conceito refere-se à ignorância ou equívocos sobre a natureza da realidade metafísica, em particular sobre as doutrinas da realidade de impermanência e do não-eu.[2][4][5] É a causa raiz da Dukkha (sofrimento, dor, insatisfação),[6] e afirmado como o primeiro elo, na fenomenologia budista, de um processo que leva ao renascimento sucessivo.[7]

Avidia é mencionada nos ensinamentos budistas como sendo ignorância ou mal-entendido em vários contextos:

  • Quatro nobres verdades[8]
  • O primeiro elo dos doze elos da originação dependente[9]
  • Um dos três venenos da tradição budista Mahayana
  • Um dos seis kleshas-raiz dos ensinamentos Mahayana Abhidharma
  • Um dos dez grilhões da tradição Theravada
  • Equivalente a moha dentro dos ensinamentos Theravada Abhidharma[10]

Etimologia

Avidyā é uma palavra sânscrita védica composta por a e vidya, significando "sem vidya". A palavra vidya é derivada da raiz sânscrita vid, que significa "saber, perceber, ver, entender".[11] Então avidya significa "não saber". Os termos relacionados a vid* aparecem extensivamente no Rigveda e outros Vedas.[11]

Na literatura védica, avidyarefere-se a "ignorância, ignorância espiritual, ilusão"; nos primeiros textos budistas, afirma Monier-Williams, significa "ignorância com a inexistência".[12]

Conceito

Avidya é explicada de diferentes maneiras ou em diferentes níveis, dentro de diferentes ensinamentos ou tradições budistas. No nível mais fundamental, é a ignorância ou incompreensão da natureza da realidade;[nt 1] mais especificamente sobre a natureza das doutrinas do não-eu e da origem dependente.[2][5][15] Avidya não é falta de informação, afirma Peter Harvey, mas a falta de "uma percepção mais profunda da realidade".[8] Gethin cama a Avidya de "equívoco positivo", não mera ausência de conhecimento.[16] É um conceito-chave no budismo, no qual a "Avidya" sobre a natureza da realidade, ao invés do pecado, é considerada a raiz básica da Dukkha.[17] A remoção desta Avidya leva à superação daDukkha.[18]

Enquanto a Avidyā encontrada no budismo e em outras filosofias indianas é frequentemente traduzida como "ignorância", afirma Alex Wayman, esta é uma tradução incorreta, porque a palavra significa mais que ignorância. Ele sugere que "falta de sabedoria" seja uma tradução ou interpretação mais adequada.[19] O termo inclui não apenas a ignorância das trevas, mas também o obscurecimento, os conceitos errôneos, a ilusão de ser realidade ou confundir o impermanente como sendo permanente, ou o não-ser como o eu (ilusões).[19]

Notas

  1. Avidya pode ser definida em diferentes níveis; por exemplo, uma má percepção da natureza da realidade, ou como não entender as quatro nobres verdades. Por exemplo:
    • Jeffrey Hopkins diz: "[Ignorância] não é apenas uma incapacidade de apreender a verdade, mas uma má compreensão ativa do status de si mesmo e de todos os outros objetos - a própria mente ou corpo, outras pessoas e assim por diante. É a concepção ou suposição de que os fenômenos existem de uma maneira muito mais concreta do que realmente existem. Com base nessa má compreensão do status de pessoas e coisas, somos atraídos pelo desejo aflitivo (Ira) e ódio (dvesha)..."[13]
    • Sonam Rinchen diz: "Toda ação deixa sua marca na mente e, mais tarde, o desejo e a apreensão ativam a marca para produzir seu resultado. Subjacente a esse tipo de ação está a nossa ignorância, a saber, o nosso equívoco inato do eu, a raiz de todos os nossos problemas.[14]

    Referências

    1. Keown 2013, p. 73.
    2. Trainor 2004, p. 74.
    3. Robert Buswell & Donald Lopez 2013, pp. 1070.
    4. Dan Lusthaus (2014). Buddhist Phenomenology: A Philosophical Investigation of Yogacara Buddhism and the Ch'eng Wei-shih Lun. [S.l.]: Routledge. pp. 533–534. ISBN 978-1-317-97342-3
    5. Conze 2013, pp. 39-40.
    6. Robert Buswell & Donald Lopez 2013, p. 86.
    7. David Webster (31 de dezembro de 2004). The Philosophy of Desire in the Buddhist Pali Canon. [S.l.]: Routledge. p. 206. ISBN 978-1-134-27941-8
    8. Harvey 1990, p. 67.
    9. Gouveia 2016, p. 140.
    10. Parashar 2016, p. 236.
    11. Monier Monier-Williams (1872). A Sanskrit-English Dictionary. [S.l.]: Oxford University Press. p. 918
    12. Monier Monier-Williams (1872). A Sanskrit-English Dictionary. [S.l.]: Oxford University Press. p. 96
    13. Dalai Lama (1992), p. 4 (da Introdução por Jeffrey Hopkins)
    14. Sonam Rinchen (2006), p. 14.
    15. Williams & Tribe 2000, pp. 66-67, Citação: Nesta perspectiva, o não-eu e a origem dependente juntos formam os dois pilares da gnose final (vidya), que é o antídoto para a ignorância. (avidya)..
    16. Gethin 1998, p. 150.
    17. Harvey 1990, pp. 65-68.
    18. Edelglass 2009, p. 171.
    19. Alex Wayman (1957). «The Meaning of Unwisdom (Avidya)». Philosophy East and West. 7 (1/2): 21–25. JSTOR 1396830. doi:10.2307/1396830

    Fontes

    • Robert Buswell; Donald Lopez (2013), Princeton Dictionary of Buddhism, ISBN 9780691157863, Princeton, NJ: Princeton University Press
    • Conze, Edward (2013), Buddhist Thought in India: Three Phases of Buddhist Philosophy, ISBN 978-1-134-54231-4, Routledge
    • Edelglass, William; et al. (2009), Buddhist Philosophy: Essential Readings, ISBN 978-0-19-532817-2, Oxford University Press
    • Gethin, Rupert (1998), Foundations of Buddhism, Oxford University Press
    • Gouveia, Ana Paula (2016), Introdução à Filosofia Budista, ISBN 978-85-349-4458-8, Paulus Editora, p. 140
    • Harvey, Peter (1990), An Introduction to Buddhism, Cambridge University Press
    • Parashar, Singh M. (2016), Inner and Outer Meanings of Buddhism, ISBN 978-1-5245-9539-5, Xlibris UK, p. 263
    • Peter Harvey (2013), The Selfless Mind: Personality, Consciousness and Nirvana in Early Buddhism, ISBN 978-1-136-78329-6, Routledge
    • Keown, Damien (2013). Buddhism: A Very Short Introduction. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-966383-5
    • Trainor, Kevin (2004), Buddhism: The Illustrated Guide, ISBN 978-0-19-517398-7, Oxford University Press
    • Williams, Paul; Tribe, Anthony (2000), Buddhist Thought: A Complete Introduction to the Indian Tradition, ISBN 0-415207010, Routledge
    • Ajahn Sucitto (2010). Turning the Wheel of Truth: Commentary on the Buddha's First Teaching. Shambhala.
    • Bhikkhu Bodhi (2003), A Comprehensive Manual of Abhidhamma, Pariyatti Publishing
    • Chogyam Trungpa (1972). "Karma and Rebirth: The Twelve Nidanas, by Chogyam Trungpa Rinpoche." Karma and the Twelve Nidanas, A Sourcebook for the Shambhala School of Buddhist Studies. Vajradhatu Publications.
    • Dalai Lama (1992). The Meaning of Life, translated and edited by Jeffrey Hopkins, Boston: Wisdom.
    • Mingyur Rinpoche (2007). The Joy of Living: Unlocking the Secret and Science of Happiness. Harmony. Kindle Edition.
    • Sonam Rinchen (2006). How Karma Works: The Twelve Links of Dependent Arising, Snow Lion.

    Leitura adicional

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