Centro de Inteligência da Marinha

O Centro de Inteligência da Marinha (CIM), antigo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), é um órgão de assessoramento do Comando da Marinha do Brasil e órgão central de seu Sistema de Inteligência (SIMAR). Suas responsabilidades são a supervisão técnica da atividade de inteligência na Marinha,[3] o monitoramento do pessoal, a contrainteligência e o lobby da Marinha nas Comissões de Orçamento do Legislativo.[4]

Centro de Inteligência da Marinha (CIM)
Brasão
Brasão
Resumo da agência
Formação 20 de novembro de 1947[1]
Sede Brasília[2]
Agência mãe Comando da Marinha

Mais antigo serviço de inteligência nas Forças Armadas, surgiu como o Serviço Secreto da Marinha (SSM) em 1947, depois reorganizado como o Serviço de Informações da Marinha (SIM), em 1955, e Centro de Informações da Marinha (Cenimar), em 1957. O Cenimar era inicialmente subordinado ao Estado-Maior da Armada[1] e organizado com um diretor (capitão de mar e guerra), um vice-diretor e divisões de Busca, Registro e Seleção e Serviços Gerais.[5] Nos primeiros anos, seus interesses eram exclusivos à Marinha, como a diplomacia, as fronteiras marítimas e a própria corporação.[6]

Após a Revolta dos Sargentos de 1963, o Cenimar monitorou de perto a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, a entidade que protagonizou a Revolta dos Marinheiros de 1964. Imediatamente após o golpe de Estado de 1964, oficiais do Cenimar perseguiram e prenderam marinheiros ligados à Associação.[7] Em 18 de setembro de 1964 o jornalista Márcio Moreira Alves denunciou no Correio da Manhã que o Cenimar era um dos centros de tortura na Guanabara, publicando cartas de presos alegando terem sofrido torturas de oficiais da Marinha nas dependências do Centro. Naquele momento o general Ernesto Geisel presidia uma investigação sobre tortura em unidades militares, ordenada pelo presidente Castelo Branco com base nas denúncias do Correio.[8] Em resposta, a Marinha negou a existência de tortura no Cenimar e pediu ao Ministro da Justiça Milton Campos que processasse o Correio.[9]

Nos primeiros anos da ditadura militar subsequente, a organização permaneceu focada em assuntos internos, transferindo suas atenções à chamada subversão devido ao crescimento da luta armada de esquerda no final dos anos 60.[5] Em 1971 o órgão foi reorganizado, passando à subordinação do Ministério da Marinha,[1] para o qual, além de coletar informações, poderia realizar operações especiais.[10] O diretor passou a ser um oficial-general, e funcionários civis foram admitidos ao quadro de pessoal. A produção de informações foi centralizada no órgão, em detrimento das 2.ª Seções, que informavam o Estado-Maior da Armada.[5] O maior crescimento do órgão foi no governo Médici (1969–1974).[6]

Trecho de informe do Cenimar sobre movimentos subversivos em São Paulo, 1967

O Cenimar, seus congêneres nas outras Forças, o Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) e Centro de Informações do Exército (CIE), e o Serviço Nacional de Informações (SNI) formavam a “comunidade de informações” da ditadura.[11] Os serviços de inteligência das três Forças não só coletavam informações sobre os opositores da ditadura, como também os reprimiam fisicamente.[6] A Comissão Nacional da Verdade aponta oficiais do Cenimar como responsáveis por casos de tortura em bases da Marinha, como a ilha das Flores, por onde passaram 200 presos políticos entre 1969 e 1971.[5]

Militares das demais Forças tinham rivalidade e inveja com o Cenimar, considerado o órgão de informação militar mais eficiente. Isto provavelmente se deve à sua antiguidade, pois ele já tinha uma estrutura montada, com uma rede de informações e quadro profissional formado, antes de entrar na repressão política.[1] Seus agentes infiltrados permitiam-no conhecer a organização, estrutura e doutrina das principais organizações de esquerda.[5] Seu acervo de informações sobre o Partido Comunista era imenso. O Cenimar era também o serviço mais fechado, e revelava pouquíssimo sobre sua estrutura e pessoal.[6]

Em 1991 o órgão passou à sua denominação e sigla atuais.[3]

Referências

  1. Quadrat, Samantha Viz (1998). «O sistema de informações e a ditadura militar no Brasil». ANPUH-Rio. VIII Encontro Regional de História
  2. «Centro de Informações da Marinha». Marinha do Brasil. Consultado em 29 de agosto de 2023
  3. Soares, Jorge Luiz Ferrari de Lima (2021). Possíveis contribuições da inteligência marítima em proveito da atividade de inteligência desenvolvida no estado do Rio Grande do Sul (PDF) (Artigo científico). p. 8-10.
  4. Cruz, Eduardo Lucas de Vasconcelos (2009). Desafios dos Serviços de Inteligência das Forças Armadas: a projeção de cenários como subsídio à capacidade de pronta-resposta e à estimativa dos prazos críticos de mobilização (PDF) (Trabalho). p. 7.
  5. Comissão Nacional da Verdade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade (volume I) (PDF). Brasília: CNV. p. 158-159.
  6. Santos, Valdir Erick dos (2022). A luta anticomunista a partir dos órgãos de informação da ditadura brasileira (1969-1979) (PDF) (Dissertação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 81-82, 84.
  7. Rodrigues, Flávio Luís (2017). Marinheiros contra a ditadura brasileira: AMFNB, prisão, guerrilha-nacionalismo e revolução? (PDF) (Tese). Universidade de São Paulo.p. 74, 107.
  8. Márcio Moreira Alves (18 de setembro de 1964). «GB: Presos confirmam torturas». Correio da Manhã, ano LXIV, edição 21920, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de setembro de 2023
  9. GASPARI, Elio (2002). A Ditadura Envergonhada. [S.l.]: Cia da Letras. p. 148. ISBN 978-85-359-0277-8
  10. Fico, Carlos (2001). Como eles agiam. Os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record. p. 91.
  11. Gomes, Bianca Maselli (2011). O serviço nacional de informações: as visões dos militares (PDF) (Monografia). Universidade de Brasília. p. 28.
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