Cerco de Marcianópolis

O Cerco de Marcianópolis foi um cerco bem sucedido realizado pelos godos contra a cidade imperial e capital provincial de Marcianópolis (moderna Devnja, na Bulgária). Apesar de ser visto como um episódio histórico, sua datação é problemática, bem como os comandantes góticos que o conduziram.

Cerco de Marcianópolis
Guerra Gótica (249–253)

Diagramação da invasão de 249-251
Data 248/249 ou 250/251
Local Marcianópolis (moderna Devnja, na Bulgária)
Coordenadas 43° 13' N 27° 35' E
Desfecho Vitória gótica
Beligerantes
  Godos
Império Romano
Comandantes
  Argedo
  Gunderico
?
Marcianópolis está localizado em: Bulgária
Marcianópolis
Localização de Marcianópolis no que é hoje a Bulgária

Antecedentes

Desde o reinado do imperador Alexandre Severo (r. 222–235), contínuos movimentos de novos povos guerreiros próximo à fronteira danúbia foram percebidos.[1] Estes novos povos atacaram alguns dos centros da costa como Ólbia e Tiras, antigas colônias gregas na atual Ucrânia, que foram destruídas. Após a destruição do sítio de Istro em 238,[2][3] Maximino Trácio (r. 235–238) instituiu tributos anuais a serem pagos às tribos agressivas[4] e firmou acordos com elas. Sob Filipe, o Árabe (r. 244–249), no entanto, os acordos foram quebrados e os tributos deixaram de ser pagos, o que levou ao recomeçar das hostilidades.[5][4]

Segundo a Gética do escritor bizantino do século VI Jordanes, no final de 248 o rei gótico Ostrogoda reuniu um exército coligado de 300 000 soldados composto de godos e tribos aliadas germano-sármatas (taifalos, peucinos, asdingos e carpos) para invadir a Mésia e Trácia.[6] Com a nomeação pelo exército balcânico de Pacaciano (r. 248) como imperador e com a negligência do comandante Décio para lidar com o problema, os invasores foram bem-sucedidos em sua campanha.[7][8]

Ao chegar na região, de acordo com Jordanes, Décio viu-se incapaz de deter os invasores e preferiu liberar seus soldados do serviço militar.[9] Os soldados, revoltados, dirigiram-se para Ostrogoda pedindo proteção, que foi concedida, e eles foram incorporados ao exército invasor. Os subcomandantes góticos de Ostrogoda, chamados Argedo e Gunderico, foram enviados para devastar novamente a Mésia[2] e dirigiram-se para a cidade fortificada de Marcianópolis na Trácia.[10]

Cerco e rescaldo

Nas portas da cidade, os invasores coletaram pedras do entorno para utilizar como projéteis. Um aristocrata local chamado Máximo, que segundo o escritor grego do século IV Déxipo possuía inclinações à filosofia e era descendente de reis trácios, aconselhou os locais a suportar o bombardeio inicial sem respondê-lo. Os bárbaros lançaram intenso bombardeio, tido por Déxipo como chuva de granizo, mas que não surtiu efeito. Eles se retiraram por alguns dias, mas retornaram para atacá-la novamente.[11]

No segundo ataque, porém, os marcianopolitanos responderam, sob conselho de Máximo, o ataque inimigo e conseguiram provocar pesadas baixas aos invasores, que se viram obrigados a se retirar. Esse relato, contudo, é contrariado por aquele de Jordanes no qual é descrito que os invasores somente abandonaram o cerco quando foram subornados pelos cidadãos com um substancial resgate.[11][12]

Depois desse cerco, Ostrogoda retirou-se para seu país com seu butim.[10] Na primavera de 249, Décio, ainda no comando das legiões locais, foi aclamado imperador e decidiu marchar contra Roma para depor Filipe. Esse vácuo militar atraiu mais invasores.[5][13] Em 250, os carpos invadiram a Dácia, o leste da Mésia Superior e oeste da Mésia Inferior,[14] enquanto o rei gótico Cniva,[15] o sucessor de Ostrogoda, organizou suas forças e também atacou os romanos. As forças de Cniva parecem ter incluído godos, taifalos e vândalos, bem como veteranos romanos renegados.[9] Dado a descrição dos "citas" fornecido por Zósimo, é quase certo que havia elementos sármatas, como os roxolanos.[16]

Datação

A datação do cerco de Marcianópolis ainda é motivo de disputa entre os estudiosos, sobretudo devido à disputa quanto a existência ou não da personagem Ostrogoda descrita na obra de Jordanes. Supondo que efetivamente Ostrogoda tenha existido, o cerco ocorreu em 248 ou 249,[17][18] que foi o momento dessa primeira investida gótica, porém é também igualmente possível que Argedo e Gunderico, os comandantes do cerco, fossem, na verdade, subcomandantes de Cniva, o que permitira deslocar a data do cerco para 250/251, antes do cerco e posterior saque de Filipópolis.[11]

Referências

  1. Potter 2004, p. 244.
  2. Hussey 1985, p. 203.
  3. Potter 2004, p. 246.
  4. Southern 2001, p. 347.
  5. Wolfram 1990, p. 45.
  6. Christensen 2002, p. 199.
  7. Southern 2001, p. 74.
  8. Bowman 2005, p. 34.
  9. Jordanes, XVI.91.
  10. Chambers 2010, p. 14-15.
  11. Potter 2016, p. 337.
  12. Jordanes, XVI.90-92.
  13. Southern 2001, p. 222.
  14. Bowman 2005, p. 38.
  15. Wolfram 1990, p. 44-45.
  16. Zósimo, III.3..
  17. Burns 1991, p. 27.
  18. Coombs-Hoar 2015, p. 9.

Bibliografia

  • Bowman, Alan K. (2005). The Cambridge Ancient History. The Crisis of Empire, A.D. 193-337. XII. Cambridge: Cambridge University Press
  • Burns, Thomas S. (1991). A History of the Ostrogoths. Bloomington e Indianópolis: Indiana University Press. ISBN 0253206006
  • Chambers, Raymond Wilson (2010). Widsith: A Study in Old English Heroic Legend. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 1108015271
  • Christensen, Arne Søby (2002). Cassiodorus, Jordanes and the History of the Goths: Studies in a Migration Myth. Copenhague: Museum Tusculanum Press. ISBN 8772897104
  • Coombs-Hoar, Adrian (2015). Eagles in the Dust: The Roman Defeat at Adrianopolis AD 378. Barnsley, South Yorkshire: Pen and Sword. ISBN 1473852463
  • Hussey, J. M. (1985). The Cambridge Medieval History. Cambridge: CUP Archive
  • Potter, David Stone (2004). The Roman Empire at Bay AD 180–395. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-415-10057-7
  • Potter, David (2016). «War as Theater, from Tacitus to Dexippus». In: Riess, Werner; Fagan, Garrett G. The Topography of Violence in the Greco-Roman World. Ann Arbor: University of Michigan Press. pp. 325–349
  • Southern, Pat (2001). «Beyond the Eastern Frontiers». The Roman Empire from Severus to Constantine. Londres: Routledge. ISBN 0-415-23943-5
  • Wolfram, Herwig (1990). History of the Goths. Berkeley, Los Angeles e Londres: University of California Press. ISBN 9780520069831
  • Zósimo. História Nova In Ridley, R.T. (1982). Zosimus: New History (em inglês). Camberra: Byzantina Australiensia 2
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