Concheiro de Fiais

O Concheiro de Fiais é um sítio arqueológico na freguesia de Boavista dos Pinheiros, no Município de Odemira, em Portugal.

Concheiro de Fiais
Tipo Concheiro
Construção mesolítico
Geografia
País Portugal Portugal
Região Alentejo
Coordenadas 37° 35' 00.3" N 8° 40' 19.2" O
Localização em mapa dinâmico

Descrição e história

O sítio arqueológico situa-se no Monte das Lágrimas,[1] a cerca de 2 Km da vila de Odemira, no sentido Sudeste.[2] Consiste num concheiro, que ocupava uma área de cerca de 1000 m², sendo considerado como uma das maiores estruturas deste tipo na zona de planície do litoral alentejano.[2]

No local foi encontrado um espólio muito rico, que incluía vértebras de peixes, e moluscos de espécies marinhas e de estuário, como a lapa, mexilhão, caramujo, púrpura, berbigão, lamejinha, ostra, amêijoa, e lingueirão.[1] Também continha milhares de ossos de mamíferos, pertencentes a espécies não domesticadas.[2] Os ossos pertencem principalmente à família dos cervídeos, nomeadamente veados, corços, javalis e auroques, enquanto que os outros animais incluem coelhos, lebres, raposas, gatos silvestres ou linces, texugos e cães.[1] Uma análise dos vestígios osteológicos dos grandes vertebrados revelou que estes eram quase todos machos, e que foram abatidos antes de atingir a maturidade, o que indicia uma cuidadosa estratégia na escolha das presas, de forma a garantir a continuidade da sua reprodução.[1]

Também foram encontradas contas de colar, e várias peças líticas, como um polidor em grauvaque.[2] No grupo dos elementos líticos, destaca-se a presença de micrólitos de forma geométrica, que incluíam lamelas, lâminas de crista e de outros tipos, esquírolas, lascas de rejuvenescimento do núcleo e de outras tipologias em quartzito, cristais de rocha e quartzo, peças geométricas e em forma de trapézios e triângulos, um raspador de configuração côncava, e lamelas em cherte de vários tipos, como de dorso, apontadas, e com encoche.[2] Foram igualmente descobertos vestígios osteológicos humanos, demonstrando que a área do concheiro também foi utilizada como necrópole, situação que também sucedeu com outras estruturas deste tipo nos vales dos rios Sado e Tejo, e na faixa literal do Sudoeste alentejano.[1]

O sítio terá sido ocupado durante o período mesolítico, há cerca de sete a oito mil anos atrás, podendo ser parte de acampamento permanente de povos caçadores-recolectores,[1] que estaria ligado a outros locais que seriam habitados de forma temporária, e que teriam funções especializadas.[2] Estes habitantes aproveitavam os recursos da região do baixo vale do Rio Mira, cuja disponibilidade mudava de acordo com a época do ano.[1]

Foi alvo de vários trabalhos arqueológicos entre 1986 e 1995.[2] Porém, esta área foi ocupada, a partir dos finais da década de 1990, por uma grande exploração agrícola de regadio, que segundo o arqueólogo Jorge Vilhena, «tem destruído a jazida de forma irreparável, devido à implantação de estruturas, ao profundo revolver e alterações físico-químicas provocadas no subsolo, uma vez que as camadas com restos biológicos de grande antiguidade e valia científica se encontram apenas a 40 cm de profundidade».[1] Explicou que «a carga de estruturas, revolvimento do solo e alterações químicas provocadas pelo uso de fertilizantes, herbicidas e pesticidas inviabilizam a conservação dos importantes restos bioarqueológicos com oito mil anos de história».[1]

Ver também

Referências

  1. VILHENA, Jorge. «Concheiro de Fiais». Atlas do Sudoeste Português. Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral. Consultado em 13 de Março de 2023
  2. «Fiais». Portal do Arqueólogo. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 13 de Março de 2023

Ligações externas


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