Dualismo (Filosofia Indiana)

O dualismo na filosofia indiana refere-se à crença de que para certas escolas de filosofia indiana a realidade é fundamentalmente composta de duas partes. Isso principalmente assume a forma de dualismo mente-matéria na filosofia budista ou dualismo consciência-'natureza' nas escolas Samkhya e Yoga da filosofia hindu. Estes podem ser contrastados com o dualismo mente-corpo na filosofia ocidental da mente,  mas também têm semelhanças com ele. Outra forma de dualismo na filosofia da Ìndia é encontrada na escola Vedanta Dvaita ("dualismo"), que considera Deus e o mundo como duas realidades com essências distintas; esta é uma forma de dualismo teísta. Em contraste, escolas como Advaita ("não-dualismo") Vedanta abraçam o monismo absoluto e consideram o dualismo uma ilusão (maya).[1]

Durante a era clássica da filosofia budista na Índia, filósofos como Dharmakirti defendiam um dualismo entre estados de consciência e o atomismo budista (os blocos de construção básicos que compõem a realidade), de acordo com a "interpretação padrão" da metafísica budista de Dharmakirti.  

Samkhya e filosofia yogue

Enquanto as tradições filosóficas ocidentais, como exemplificado por Descartes, equiparam a mente com o eu-consciente e discutem sobre a consciência com base no dualismo mente/corpo, algumas filosofias orientais fornecem um ponto de vista alternativo, intimamente relacionado ao dualismo da substância, traçando uma linha metafísica entre a consciência e matéria – onde a matéria inclui corpo e mente.[2][3]

No Sânquia e no Yoga, duas das seis escolas ortodoxas (āstika) da filosofia hindu, "há duas realidades irredutíveis, inatas e independentes: 1) a própria consciência (Purusha) e 2) a materialidade primordial (Prakriti)".  A materialidade primordial inconsciente, Prakriti, contém 23 componentes, incluindo intelecto (buddhi, mahat), ego (ahamkara) e mente (manas). Portanto, o intelecto, a mente e o ego são todos vistos como formas de matéria inconsciente.[4] Processos e eventos mentais são conscientes apenas na medida em que recebem iluminação de Purusha. A consciência é comparada à luz que ilumina as configurações materiais ou 'formas' assumidas pela mente. Assim, o intelecto depois de receber as estruturas cognitivas forma a mente e a iluminação da consciência pura cria estruturas de pensamento que parecem ser conscientes.[5] Ahamkara, o ego ou o eu fenomenal, apropria-se de todas as experiências mentais e, assim, personaliza as atividades objetivas da mente e do intelecto, assumindo a posse delas.[6] Mas a própria consciência é independente das estruturas de pensamento que ilumina.[5]

Ao incluir a mente no reino da matéria, o Samkhya Yoga evita uma das armadilhas mais sérias do dualismo cartesiano, a violação das leis de conservação física ao envolver algo não-material (mente cartesiana) nas ações humanas. Como no Sânquia e na Yoga a mente é uma evolução da matéria, os eventos mentais tem eficácia causal e, portanto, são capazes de iniciar movimentos corporais.[7]

Filosofia Dvaita

A escola de filosofia indiana Dvaita Vedanta defende um dualismo entre Deus e o universo, teorizando a existência de duas realidades separadas. A primeira e mais importante realidade é aquela Vishnu ou Brahman. Vishnu é o Ser supremo, Deus, a verdade absoluta do universo, a realidade independente. A segunda realidade é a do universo dependente, mas igualmente real, que existe com sua própria essência separada. Tudo o que é composto da segunda realidade, como a alma individual (Jiva), matéria, etc. existe com sua própria realidade separada. O fator diiferente desta filosofia em oposição ao Advaita Vedanta (conclusão monística dos Vedas) é que Deus assume um papel pessoal e é visto como uma entidade eterna real que governa e controla o universo. Porque a existência de indivíduos é fundamentada no divino, são retratados como reflexos, imagens ou mesmo sombras do divino, mas nunca de forma alguma idênticos ao divino. A salvação, assim, é descrita como a percepção de que toda realidade finita é essencialmente dependente do Supremo.[8]

Notas

  1. Chakraborty, Alpana (1997). Mind-body Dualism: A Philosophical Investigation (em inglês). [S.l.]: D.K. Printworld
  2. Haney, p. 17.
  3. Isaac, p. 339.
  4. Haney, p. 42.
  5. Isaac, p. 342.
  6. Leaman, p. 68.
  7. Leaman, p. 248.
  8. Fowler, Jeaneane D. Perspectives of Reality: An Introduction to the Philosophy of Hinduism. Sussex Academic Press. P. 340-344. ISBN 1-898723-93-1.

 Referências

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