Escola Profissional Masculina

A Escola Profissional Masculina foi criada pelo Governo do Estado de São Paulo por meio do Decreto nº 2118-B publicado em 28 de setembro de 1911.[1] De acordo com o decreto, a escola seria destinada ao ensinamento de artes e ofícios, e foi uma das primeiras escolas públicas da cidade de São Paulo dedicadas ao ensino profissional, juntamente com a Escola Profissional Feminina, criada e regulamentada pelo mesmo decreto, mas que ensinava economia doméstica e prendas manuais às mulheres.[1]

Vista lateral atual do prédio da Primeira Escola Profissional Masculina, construída em 1917 no bairro do Brás em São Paulo (SP), Brasil. Restaurado, o prédio hoje funciona como um Fórum de Varas Especiais da Infância e da Juventude
Placa que indica obras de restauro da Primeira Escola Profissional Masculina, construída em 1917 no bairro do Brás em São Paulo (SP), Brasil.

A Escola Profissional Masculina começou a funcionar em 1911 na Rua Müller, no Bairro do Brás, e teve sua primeira turma de alunos em 1914.[2] Na época, a cidade de São Paulo tinha aproximadamente 500.000 habitantes e deixava de ser exclusivamente agrícola para iniciar seu processo de industrialização.[2] No início de seus trabalhos, a escola dedicou-se aos ensinamentos de Português, Matemática, Desenho e Modelagem, matérias comuns a todos os cursos oferecidos pela instituição. Em 1917 a escola muda de endereço para a Rua Piratininga, nº 105, ainda no Brás,[2] devido a uma decisão do então governador do Estado de São Paulo Francisco de Paula Rodrigues Alves.[3] O governador acreditava no crescimento da demanda dos cursos ministrados pela Escola Profissional Masculina, em função da eclosão da Primeira Guerra Mundial e o consequente fim das importações. Sendo assim, em uma de suas visitas à escola, comunica ao diretor Aprigio de Almeida Gonzaga, sua decisão de construir um novo prédio para Escola Profissional Masculina, mais amplo e com aumento da sua capacidade.[3]

No ano de 1920, por conta de outro decreto, foram introduzidos os cursos de História e Geografia do Brasil, simultaneamente às oficinas de mecânica, carpintaria, pintura, funilaria e eletricidade.[2]

Existente até hoje, a Escola Profissional Masculina é chamada atualmente de Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, e localiza-se no bairro do Ipiranga, na capital paulista. O antigo prédio da Rua Piratininga, nº 105 foi tombado pela Prefeitura de São Paulo e funciona hoje como um Fórum de Varas Especiais da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.[4]

História

Fundada em 1911, a Primeira Escola Profissional Masculina tinha alunos com idade mínima de 12 anos e com curso primário ou equivalente concluído.[2] Os cursos oferecidos eram os de artes industriais: marcenaria, serralheria, pintura, mecânica e outras.[5] Como as verbas governamentais não eram suficientes para manter a escola, seções industriais foram criadas em 1917 para produzir receita. Professores, mestres e alunos produziam sob encomenda e obtinham ganhos por meio da venda dos produtos. Neste mesmo ano a escola é transferida para a Rua Piratininga, nº 105, e é obrigada a suspender temporariamente suas atividades por conta de uma epidemia de gripe, e passa a funcionar como hospital. A escola voltaria a ser fechada em 1924, devido à rebelião tenentista em São Paulo.[2]

Em pouco tempo de existência a escola torna-se referência e um instituição de projeção nacional, em virtude da competência dos profissionais lá formados e das produções dos alunos. Entre elas estão o primeiro automóvel brasileiro, apelidado de "A Baratinha", em 1917 e caldeirões e granadas que receberiam cargas explosivas no departamento de Química da Escola Politécnica para a Revolução Constitucionalista de 1932.[2]

Em 1940, foi aprovado o acordo para a organização de cursos rápidos para o preparo de operários industriais. Durante a década de 1940, por ser referência na capital paulista, autoridades do governo brasileiro e também de outros países visitam a escola. Dentre as autoridades brasileiras está Getúlio Vargas, que marcou presença no prédio da Primeira Escola Profissional Masculina nos anos de 1940 e 1941.[2] Com isso, como forma de homenagem ao ex-presidente do Brasil, a escola é renomeada e passa a chamar Escola Técnica Getúlio Vargas.[2]

Desde o início de seu funcionamento, a escola teve diversos nomes: Escola Profissional Masculina (1911-1931), Escola Profissional Industrial (1931-1933), Instituto Profissional Masculino (1933 - 1942), Escola Técnica de São Paulo (1942 - 1943), Escola Técnica Getúlio Vargas (1943 - 1965) e Colégio Industrial Estadual Getúlio Vargas (1965 - 1972), Centro Interescolar de Ensino Técnico (1972 – 1976), Centro Estadual Interescolar “Getúlio Vargas” (1976 – 1982). Atualmente, recebe o nome de Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas,[5][3] e está localizada no Ipiranga.[6]

Em 1964, a escola é desmembrada, tendo os cursos básicos e o ginásio industrial transferidos para as atuais ETE Rocha Mendes e ETE Martin Luther King. Os cursos técnicos do 2º grau migram para a ETE Getúlio Vargas.[2]

Em 1971, o Departamento de Ensino Técnico do Governo do Estado de São Paulo deixa de existir e a responsabilidade das escolas técnicas são passadas para a rede de Ensino Básico da Secretaria de Educação.[2]

Nomes de destaque formados pela Escola Profissional Masculina

Muitos artesão e artistas foram formados nos cursos de pintura, desenho e estudos artísticos , da Escola Profissional Masculina.[5] Entre eles:

Alfredo Volpi (1896 - 1988);

Aldo Bonadei (1906 - 1974);

Alfredo Rizzotti (1909 - 1972);

Mario Zanini (1907 - 1971);

Francisco Rebolo (1902 - 1980);

Manoel Martins (1911 - 1979).

Formação técnica e moral

Fundadas em meio ao processo de difusão do ensino para os trabalhadores e seus filhos na Primeira República, as escolas técnicas e profissionais não só pregam a formação técnica de uma sociedades que está se acostumando com o processo de industrialização, mas também aposta na formação moral do aluno.[5] A ideia era formar "bons cidadãos" após o recente fim da escravidão no Brasil.[5]

Por esse motivo, o cursos duravam, em média, três anos e tinham em sua grade curricular as disciplinas de português, geografia, aritmética, entre outras, além das aulas práticas nas oficinas. A principal matéria do curso era o desenho pois, além de possibilitar ao aluno a execução de projetos, estimulava a firmeza da observação, que tem reflexo direto na formação moral do aluno.[5]

Características

Localizado na rua Piratininga, 105 e com o prédio número 85 anexo (hoje unidade da Fundação Casa), a edificação tinha dois pavimentos e o prédio anexo, o térreo mais cinco pavimentos.[7] Entre 1912 e 1917 o prédio é construído com base em uma arquitetura de padrão eclético e com referência aos preceitos educacionais da época da Primeira República.[7] As características do prédio da Primeira Escola Profissional Masculina tinham aspecto renovador e deixavam para trás aspectos do colonialismo para entrar cada vez mais no período da industrialização e da modernização.[7]

O padrão arquitetônico apresenta uma fachada com simetria e proporcionalidade diretamente atrelados à escola clássica e ao Barroco.[7]

Tombamento

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), resolveu, em 2016, tombar o edifício da Escola Profissional Masculina e atual Fórum do Brás de Varas Especiais da Infância e da Juventude, localizado na Rua Piratininga, nº 105. Esse processo determinou a preservação das características arquitetônicas externas da edificação e da configuração do pátio interno e também dos forros de madeira, escada de acesso ao pavimento superior e placas comemorativas do hall de entrada do prédio.[4]

O processo de tombamento do edifício da Escola Profissional Masculina foi motivado, de acordo com o documento oficial publicado pela Prefeitura do Município de São Paulo e pelo CONPRESP, pelas seguintes considerações: " a importância do ensino profissionalizante para a capacitação da mão de obra para o comércio e a indústria desde o início da industrialização em São Paulo", "a Escola Profissional Masculina faz parte do conjunto das primeiras escolas técnicas e profissionalizantes do Estado de São Paulo e da capital, segundo a Lei Estadual n.º 1.214, de 24/10/1910 e Decreto Estadual nº 2118-B de 28 de setembro de 1911" e pelo " importante papel da Escola Profissional Masculina na formação de artesãos e artistas que se tornam, posteriormente, nomes destacados nas artes visuais brasileiras, como Alfredo Volpi e os Gêmeos".[4]

Referências

  1. «Os edifícios ocupados pela centenária escola técnica estadual Getúlio Vargas (SP) e sua história contada por um personagem» (PDF). CAMILA POLIDO BAIS HAGIO, MARIA LUCIA MENDES DE CARVALHO
  2. «ESCOLAS PROFISSIONAIS PÚBLICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO UMA HISTÓRIA EM IMAGENS» (PDF)
  3. Saito, Mário. «Os Egressos da GV do Brás» (PDF). Mário Izumi Saito
  4. «RESOLUÇÃO Nº 24 / CONPRESP / 2016» (PDF). Prefeitura da Cidade de São Paulo
  5. Cultural, Instituto Itaú. «Escola Profissional Masculina do Brás (São Paulo, SP) | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural
  6. Midia, L2. «Localização - ETEC Getúlio Vargas». www.etecgv.com.br. Consultado em 20 de novembro de 2018
  7. Documento oficial de Tombamento do Prédio da Primeira Escola Profissional Masculina. [S.l.: s.n.]
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