Fome em Cabo Verde

A fome em Cabo Verde tem ocorrido por diversas vezes entre os anos 1580 e 1950, em episódios directamente ligados à seca. Durante esses períodos de seca e fome, dezenas de milhares de habitantes morreram de fome e doenças.[1][2]

Contexto

As ilhas de Cabo Verde têm um clima semi-árido geralmente quente, com chuvas substanciais limitadas aos meses de agosto e setembro. As áreas mais secas são as baixas ilhas orientais (Maio, Sal e Boa Vista), e as partes do sudoeste das ilhas mais montanhosas. As partes mais altas e localizadas à nordeste, nas Ilhas de Barlavento, recebem mais precipitação. A agricultura depende fortemente das chuvas de verão; em anos com menos chuva, a quebra de safra era comum. A situação foi ainda mais agravada pela escolha inadequada de culturas, superpopulação, pastoreio excessivo, erosão do solo e resposta inadequada da administração colonial portuguesa.[3][4]

Fomes históricas

As seguintes episódios de fomes severas foram registados:

Fome nos anos de 1940

Duas das piores fomes de Cabo Verde ocorreram em 1941-43 e 1947-48, matando cerca de 45.000 pessoas.[4] Os mais atingidos foram as ilhas de São Nicolau e Fogo, onde respectivamente, 28% e 31% da população foi morta.[5] Em 1946-48, Santiago perdeu 65% de sua população.[5] Vários milhares de ilhéus emigraram, por exemplo, aceitando contratos de trabalho nas plantações de cacau de São Tomé e Príncipe.[3] Entre 1900 e 1970, cerca de 80.000 cabo-verdianos foram enviados para São Tomé e Príncipe.[5] O governo do Estado Novo de Portugal mostrou pouco interesse em sua colónia africana e não tomou medidas para melhorar o acesso à água potável ou fornecer ajuda alimentar.[3]

Fome 47, uma das mais conhecidas canções do músico cabo-verdiano Codé di Dona, relata a seca, a fome e a emigração para São Tomé em 1947.[6] A terceira e última parte do romance Chiquinho, de Baltasar Lopes da Silva, foca na calamidade da seca, um grande problema em Cabo Verde, que resulta em fome e muitas mortes.[7]

Ver também

Referências

  1. Caniato, Benilde Justo. «Cabo Verde: a fome em sua literatura» (PDF). impactum.uc.pt. Consultado em 13 de março de 2019
  2. Barcellos, Christiano José de Senna (1904). «As fomes em Cabo Verde desde 1719 a 1904». Consultado em 13 de março de 2019
  3. Keese, Alexander (2012). «Managing the Prospect of Famine. Cape Verdean Officials, Subsistence Emergencies, and the Change of Elite Attitudes During Portugal's Late Colonial Phase, 1939-1961» (PDF). Itinerario. XXXVI (1). p. 49-69. doi:10.1017/S0165115312000368
  4. Brooks, George E. (2006). «Cabo Verde: Gulag of the South Atlantic: Racism, Fishing Prohibitions, and Famines». History in Africa. 33. p. 101–135
  5. Cape Verde History Timeline, WorldAtlas
  6. «Codé di Dona: 1940-2010». Odia que passa blog. 6 de Janeiro de 2010
  7. «Chiquinho and Baltasar: Mark of Cape Verde's literature». Consultado em 8 de Novembro de 2016
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