Fonologia do galês

A fonologia da língua galesa é caracterizada pelo número de sons que não ocorrem no português e que são tipologicamente raros nas demais línguas europeias, como a fricativa alveolar lateral surda [ɬ] e as consoantes nasais surdas. A tonicidade normalmente cai na penúltima sílaba de palavras polissilábicas, como no português, e as sílabas átonas no final de palavras são mais agudas que as sílabas tônicas. Cabe-se dizer que há duas variedades principais do galês, os dialetos falados no norte de Gales e os falados no sul, e sempre que houver divergências serão especificadas.

Consoantes

O galês tem os seguintes fonemas consonantais.[1]

  Labial Dental Alveolar Palatal Dorsal Glotal
central lateral
Oclusiva p  b   t  d     k  ɡ  
Africada         (tʃ)  (dʒ)    
Fricativa f  v θ  ð s  (z) ɬ ʃ χ  (ʁ) h
Nasal (m̥)  m   (n̥)  n     (ŋ̊)  ŋ  
Vibrante       r        
Aproximante       l j (ʍ)  w  

Os símbolos entre parênteses são ou alófonos ou somente encontrados em empréstimos. A sibilante sonora /z/ ocorre em palavras de origem estrangeira, como sw /zuː/ 'zoológico', embora seja pronunciada como /s/ nos dialetos setentrionais (/su:/). As africadas pós-alveolares /tʃ/ e /dʒ/ ocorrem principalmente em palavras estrangeiras, como tships /tʃɪps/ 'batata frita' e jeli /ˈdʒɛli/ 'gelatina' (do inglês 'chips' e 'jelly'), mas também em alguns dialetos onde /tj/ e /dj/ são africados, como em /dʒaul/ (de diafol /ˈdjavɔl/ 'diabo'). As oclusivas nasais /m̥ n̥ ŋ̊/ ocorrem majoritariamente no início de palavras, em consequência das mutações do galês (mutação nasal, neste caso). No início de palavras, /χw/ (ou /χʷ/) é coloquialmente realizado como /ʍ/ no sul, como chwech /χweːχ/ 'seis' sendo pronunciado /ʍeːχ/.

Diferentemente do português, as oclusivas galesas /p t k/ são distinguidas de /b d ɡ/ mais consistentemente por aspiração do que por sonorização, já que /b d ɡ/ são surdas em muitos contextos. Esta natureza de ensurdecer é demonstrada pela ortografia: os sons /sp sk/ são escritos com ⟨sb sg⟩, respectivamente, embora /st/ seja escrito com ⟨st⟩ por razões históricas.

As fricativas /v ð/ também podem ser ensurdecidas em alguns contextos, mas são sempre diferenciadas de /f θ/ por terem uma fricção de duração mais curta. Há uma tendência na língua falada de não pronunciar essas fricativas em certos contextos, como a palavra nesaf /nɛsav/ 'próximo' pronunciada como /ˈnɛsa/, ou i fyny /iː ˈvənɨ/ 'acima', vindo da palavra mynydd /mənɨ̞ð/ 'montanha'. Historicamente, isto ocorria com tanta frequência que a fricativa uvular sonora /ʁ/ desapareceu completamente do idioma como fonema.

A ocorrência e distribuição do fonema /ʃ/ varia de lugar para lugar. Pouquíssimas palavras nativas são pronunciadas com /ʃ/ por todos os falantes (como siarad/ˈʃarad/, 'falar'), embora apareça em empréstimos (siop /ʃɔp/ 'loja', do inglês 'shop'). Nos sotaques setentrionais, /ʃ/ pode acontecer quando /s/ precede /i:/ ou /j/, como em wnes i /neːʃ iː/ 'fiz'. Já em alguns dialetos meridionais /s/ é pronunciado assim quando é precedido por /ɪ/ ou /iː/: mis /miːʃ/ 'mês'.

Alega-se que o fonema /r/ é pronunciado como uma fricativa uvular sonora /ʁ/ por alguns falantes em Dyfed e Gwynedd, pronúncia conhecida como tafod tew (língua grossa).[2]

No dialeto setentrional, a aproximante lateral alveolar /l/ é velarizada /ɫ/ em todas as posições, o que não ocorre no sul.

Vogais

Gráfico mostrando as vogais de um falante da cidade de Bangor.[3]

Os fonemas vocálicos do galês são os seguintes:[1]

Anterior Central Porterior
curta longa curta longa curta longa
Fechada ɪɨ̞ɨːʊ
Média ɛə(əː)ɔ
Aberta aɑː

As vogais /ɨ̞/ e /ɨː/ só ocorrem nos dialetos setentrionais; nos dialetos do sul são substituídas por /ɪ/ e /iː/, respectivamente. Nos dialetos meridionais, o contraste entre vogais longas e curtas é encontrado somente em sílabas tônicas; nos dialetos do norte, o contraste só é encontrado em oxítonas, incluindo monossílabos tônicos.

A vogal /ə/ não ocorre no final de sílabas (exceto em alguns poucos proclíticos monossilábicos). Nos dialetos meridionais, esta vogal pode ser longa ou curta. Nos dialetos setentrionais é sempre curta porque as vogais longas só aparecem em sílabas finais, onde a vogal /ə/ nunca aparece.

DitongosSegundo componente
Primeiro componenteanteriorcentralposterior
fechada ʊi ʊɨ ɪu, ɨu
média əi/ɛi, ɔi əɨ/ɛɨ, ɔɨ əu/ɛu, ɔu
aberta ai aɨ, ɑːɨ au

Os ditongos contendo /ɨ/ só ocorrem nos dialetos setentrionais; nos dialetos do sul /ʊɨ/ é substituído por /ʊi/, /ɨu, əɨ~ɛɨ, ɔɨ/ se fundiram com /ɪu, əi~ɛi, ɔi/ e /aɨ, ɑːɨ/ se fundiram com /ai/. Há uma tendência no sul de simplificar ditongos na fala cotidiana, por exemplo, gwaith (trabalho) é pronunciado como /ɡwɑːɨθ/ no norte, mas como /ɡwaːθ/ no sul, e gweithio (trabalhar) é /ɡwɛiθjɔ/ no norte, mas /ɡwiθɔ/ no sul.

Tonicidade e Altura

A sílaba tônica nas palavras polissílabas normalmente é a penúltima e mais raramente, a última (ex:. verbos terminados em -áu).[4] Exceções podem surgir em relação a palavras de origem estrangeira, como ambiwlans (ambulância) e testament (testamento). Por causa do posicionamento da sílaba tônica, palavras relacionadas e até mesmo os seus plurais podem soar diferentes conforme mais sílabas vão sendo acrescentadas ao final da palavra e a tonicidade move correspondentemente. Ex:


ysgrif /ˈəsɡriv/— artigo
ysgrifen /əsˈɡriven/— escrita
ysgrifennydd /əsɡriˈvenɨð/— secretário
ysgrifenyddes /əsɡriveˈnəðes/— secretária

Nota-se também que ao adicionar uma sílaba a ysgrifennydd para formar ysgrifenyddes, a pronúncia do segundo "y" é alterada. O motivo é que a sua pronúncia depende se o "y" está na última sílaba ou não.

A tonicidade na penúltima sílaba é caracterizada por ser grave, que é seguida por uma sílaba final aguda. Em palavras onde a tonicidade é na última sílaba, esta também é aguda.[4]

Referências

  1. Glyn E. Jones (1984), "The distinctive vowels and consonants of Welsh". In Welsh Phonology: Selected Readings, ed. M. J. Ball and G. E. Jones. Cardiff: University of Wales Press. 40–64. ISBN 0-7083-0861-9.
  2. John C. Wells, Accents of English, Cambridge University Press, 1982, page 390.
  3. Martin J. Ball (1984), "Phonetics for phonology", in Welsh Phonology: Selected Readings, ed. M. J. Ball and G. E. Jones, Cardiff: University of Wales Press. 5–39. ISBN 0-7083-0861-9.
  4. Briony J. Williams (1983), Stress in Modern Welsh. Ph.D. dissertation, University of Cambridge. Distributed by Indiana University Linguistics Club.
This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.