Mosteiro de Likir

O Mosteiro de Likir ou Gompa de Likir, conhecido popularmente[1] como Klu-Kkhjil ("espíritos da águas")[2] é um mosteiro budista tibetano (gompa) da seita Gelug ("Chapéus Amarelos") do Ladaque, noroeste da Índia. Situa-se junto à aldeia de Likir, cerca de 52 km a noroeste de , a capital regional. Pertence à seita Gelug e foi fundado em 1065 pelo lama Duwang Chosje, por ordem do quinto rei do Ladaque, Lhachen Gyalpo (Lha-chen-rgyal-po).[3]

Mosteiro de Likir
Mosteiro de Likir
O mosteiro visto da estrada de acesso
Nomes alternativos Klu-Kkhjil
Tipo gompa
Estilo dominante tibetano
Construção 1065
Aberto ao público Sim
Religião Budismo tibetano (Gelug)
Geografia
País Índia
Cidade Likir
Território da União Ladaque
Distrito
Coordenadas 34° 16' 36" N 77° 12' 54" E
Mosteiro de Likir está localizado em: Ladaque
Mosteiro de Likir
Localização do Mosteiro de Likir no Ladaque
Vista do mosteiro do inverno
Pintura mural no interior do mosteiro

O mosteiro ocupa o cimo de um monte a 3 750 metros de altitude, acima de um vale, cerca de 14 km a norte do curso do rio Indo. Fica 10 km a norte da estrada Srinigar–Lé, 21 km a nordeste de Alchi e 50 km a leste de Khaltsi. Apesar de estar relativamente isolado, junto a ele passava uma antiga rota comercial importante, que vinha de oeste, por Tingmosgang e Hemis Shukpachan e seguia para leste, em direção a Lé.[4]

História

A gompa é mencionada nas crónicas ladaques como tendo sido erigida pelo rei Lhachen Gyalpo (Lha-chen-rgyal-po; r. c. 1050-1080).[5] Likir significa "naga enrolada", uma referências aos dois espíritos-serpente, as Naga-rajas Nanda e Taksako.[6] Presumivelmente, pertenceu originalmente à ordem Kadampa do budismo tibetano.[7][8] Quando o tibetologista August Hermann Francke visitou o mosteiro em 1909 foi-lhe mostrada uma longa inscrição escrita em tinta negra numa parede que resumia a história do mosteiro, que Francke copiou e interpretou da seguinte forma:

O rei Lha-chen-rgyal-po fundou o mosteiro no século XI. No século XV, o lama Lha-dbang-chos-rje (um discípulo famoso de Tsongkhapa) converteu os lamas às doutrinas reformadas da ordem Ge-lug-pa e refundou o mosteiro como um estabelecimento Ge-lug-pa. Diz-se que depois, passada sete gerações de Lha-chen-rgyal-po, o rei Lha-chen-dngos-grub (r. ca. 1290–1320) subiu ao trono e instituiu o costume de enviar todos os noviços para Lassa. Esta afirmação é encontrada exatamente com as mesmas palavras que encontramos no rGyal-rabs. [9]

Dezoito gerações mais tarde, o rei bDe-legs-rnam-rgyal reinou, mas o seu nome foi apagado da inscrição porque ele foi forçado a converter-se ao islão depois da batalha de Basgo, em 1646-1647. A inscrição data do reinado de Thse-dbang-rnam-rgyal II (Tsewang Namgyal II; ca. 1760-1780), que reparou o mosteiro depois dum fogo de grandes proporções.[5][10] Francke descreveu também uma grande estupa que já não existe, situada abaixo do mosteiro, que no interior tinha frescos representando Tsongkhapa e outros lamas do seu tempo.

Pintada acima da porta, encontra-se uma figura muito estranha que se parece muito com uma das representações comuns de Srong-btsan-sgam-po (Songtsen Gampo).[nt 1] Os lamas disseram-me que ele representa um lama do tempo de Srong-btsan-sgam-po. A figura tem um chapéu com três pontas de cor branca e carrega dois leopardos debaixo dos braços. A parte mais baixa do chorten é uma sala quadrada que um lama me disse ser o templo mais antigo em Likir, que já lá estava quando o rei Lha-chenrgyal-po construiu o mosteiro. [5]

O mosteiro de Likir tem sido dirigido por sucessivas reencarnações de Ngari Rinpoche (ou Naris Rinpoche),[3] cuja reencarnação atual é o irmão mais novo do Dalai Lama, que embora não resida em Likir permanentemente, é quem dirige as pujas budistas mais importantes.[11]

Em meados da década de 2010, o mosteiro tinha mais 120 monges e estudantes.[1] Na década anterior, na escola do mosteiro estudavam pouco menos de 30 alunos. A escola é administrada pelo Instituto Central de Estudos Budistas (Central Institute of Buddhist Studies) de Lé e nela são lecionadas aulas em hindi, sânscrito e inglês.[6]

O evento mais importante e famoso que ocorre no mosteiro é o Dosmochey, durante o qual são feitas oferendas votivas e realizadas danças sagradas. Tem lugar entre o 27.º e o 29.º dia do 12.º mês do calendário tibetano (segunda quinzena de fevereiro).[3]

Arquitetura

Estátua de de Maitreya com 23 metros de altura

O mosteiro situa-se no cimo de um monte, acima de campos agrícolas da aldeia de Likir. O templo principal ocupa o planalto mais alto do complexo. Além do templo principal, as partes mais importantes do mosteiro são dois dukhangs (salas de assembleia ou de oração), alojamentos para os monges e edifícios de serviços, como a cozinha e o refeitório. As diversas partes do mosteiro foram modificadas, construídas e reconstruídas ao longo da sua extensa história e na sua forma atual sugerem um mosteiro bem fortificado, compacto e estrategicamente situado.[carece de fontes?]

Dukhangs

O dukhang mais antigo situa-se no lado direito do pátio central. Nele há seis filas de assentos para os lamas, um trono para o lama chefe.[8] Lá se encontram estátuas de um bodisatva, outra de Amitaba, três de Sakyamuni de grandes dimensões, uma de Maitreya e outra de Tsongkhapa, o fundador da seita dos "Chapéus Amarelos" (Gelug).[3] A varanda tem thangkas (pinturas) dos Guardiões das Quatro Direções e de Yama segurando uma mandala da Roda da Vida.

Ainda no mesmo dukhang, há armários envidraçados onde são guardados exemplares obras como o Kandshur[nt 2] e o Thandshur.[nt 3] Nas vigas junto à entrada estão penduradas duas thangkas com representações de Sakyamuni e da divindade protetora de Likir.[8] Por cima do telhado ergue-se uma estátua dourada de Maitreya com 23 metros de altura, completada em 1999.[13] No pátio há uma grande árvore de espécie muito rara.[8]

O dukhang novo tem cerca de 200 anos e situa-se no lado diagonalmente oposto à entrada do pátio. Contém uma estátua de Avalokiteshvara com mil braços e onze cabeças. Ao lado da estátua há armários com os volumes do Sumbum, que relatam a vida e os ensinamentos de Tsongkhapa. A parede à esquerda tem pinturas com os 35 Budas Confessionais, enquanto a da esquerda tem uma imagem de Sakyamuni ladeado por dois dos seus discípulos.[8]

Zinchun e gonkhang

Uma escadaria conduz para fora do dukhang novo, a qual conduz a um portal que se abre para um pátio. Nesse pátio encontra-se o zinchun, a sala do lama chefe, que contém principalmente thangkas, imagens de lamas e as 21 manifestações da Tara Branca, a consorte de Avalokiteshvara.[8]

Descendo as escadas exteriores ao pátio do zinchun chega-se ao à sala do gonkhang[14] ("templo do protetor" e das oferendas rituais).[15] O gonkhang foi construído entre 1983 e 1984, quando o mosteiro passou por uma renovação.[14] Nas suas paredes há thangkas com as divindades protetoras. O mesmo se passa na sala fechada por um vidro que se encontra em frente ao gonkhang.[8]

Além de de manuscritos antigos, o mosteiro conserva importantes coleções de thangkas, vestuário antigo e cerâmica.[8][6]

Notas

  1. Songtsen Gampo foi o fundador do Império Tibetano e segundo a tradição foi quem introduziu o budismo no Tibete. Nasceu entre 557 e 617 e morreu em 649.
  2. O Kandshur é uma coleção de dezenas de livros com traduções dos ensinamentos de Buda.[12]
  3. O Thandshur é uma coleção de 225 volumes de comentários ao Kandshur compilada pelo mestre religioso Du-ston (1290–1364).[12]

Referências

  1. Rajput, Anil (2014). «Likir Gompa, Monastery, Ladakh» (em inglês). promarktravels.com. Consultado em 10 de agosto de 2016
  2. «Likir Monastery» (em inglês). chokhortravels.com. Consultado em 10 de agosto de 2016
  3. «Likir Gompa» (em inglês). www.buddhist-temples.com. Consultado em 10 de agosto de 2016
  4. Francke 1977, p. 91.
  5. Francke 1914, p. 87.
  6. Jina 1996, p. 210.
  7. Rizvi 1994, p. 241.
  8. «Likir Monastery, J&K» (em inglês). www.buddhist-tourism.com. Consultado em 10 de agosto de 2016. Arquivado do original em 1 de julho de 2012
  9. Francke 1914, pp. 24, 87.
  10. Francke 1914, p. 130.
  11. Rizvi 1996, pp. 242-242.
  12. «Phyang Gompa Ladakh» (em inglês). www.cultureholidays.com. Consultado em 10 de agosto de 2016
  13. Banerjee 2010, p. 131.
  14. «Likir Gompa» (em inglês). www.cultureholidays.com. Consultado em 10 de agosto de 2016
  15. «Glossary: Monastery, Residence & Retreat Terminology» (em inglês). Himalayan Art Resources. www.himalayanart.org. Consultado em 10 de agosto de 2016

Bibliografia

  • Banerjee, Partha S. (2010), Ladakh, Kashmir & Manali: The Essential Guide, ISBN 9788190327022 (em inglês) 2.ª ed. , Calcutá: Milestone Books
  • Francke, August Hermann (1907), A History of Western Tibet: One of the Unknown Empires, ISBN 9788120610439 (em inglês), Londres (publicado em 1977), consultado em 8 de agosto de 2016
  • Francke, August Hermann (1914), Thomas, Frederick William, ed., Antiquities of Indian Tibet: Personal narrative (em inglês), Nova Deli: S. Chand (publicado em 1972), consultado em 8 de agosto de 2016
  • Jina, Prem Singh (1996), Ladakh: The Land and the People, ISBN 9788173870576 (em inglês), Indus Publishing, consultado em 10 de agosto de 2016
  • Jina, Prem Singh (2009), «10. Likir A Geluk-pa Monastery in Ladakh», Cultural Heritage of Ladakh Himalaya, ISBN 9788178357454 (em inglês), Gyan Publishing House, pp. 121–162, consultado em 10 de agosto de 2016
  • Rizvi, Janet (1996), Ladakh: Crossroads of High Asia, ISBN 9780195645460 (em inglês) 2ª ed. , Deli: Oxford University Press India
  • Shankar, Pratyush; Memon, Anar (2007), Likir Monastery — The structuring principles of the complex (em inglês), Catmandu: International Centre for Integrated Mountain Development (ICIMOD), consultado em 10 de agosto de 2016
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