Grupamento de Unidades-Escola - 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada

O Grupamento de Unidades Escola - 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada (GUEs/9ª Bda Inf Mtz) é uma grande unidade do Exército Brasileiro sediada no Rio de Janeiro e subordinada à 1.ª Divisão de Exército.[2] Suas unidades são usadas em demonstrações táticas na instrução de oficiais e sargentos, e assim, devem representar um padrão de adequação à doutrina. O GUEs original surgiu em 1945, agrupando unidades-escola mais antigas, e chegou a ser considerado de elite nos anos 60. Seu comando foi reaproveitado em 1968 e hoje corresponde à 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima. Um novo comando surgiu em 1971, com as mesmas funções do original. A brigada atual, além de sua função histórica, participa de operações urbanas no Rio de Janeiro. Em parte ela opera o blindado VBTP-MR Guarani.

Grupamento de Unidades-Escola - 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada
País  Brasil
Estado  Rio de Janeiro
Corporação Brasão do Exército Brasileiro Exército Brasileiro
Subordinação 1.ª Divisão de Exército
Sigla GUEs/9ª Bda Inf Mtz
História
Condecorações Ordem do Mérito Militar[1]
Sede
Guarnição Rio de Janeiro
Página oficial www.9bdainfmtz.eb.mil.br

Natureza das unidades-escola

As unidades que depois constituiriam o Grupamento eram as que serviam à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais após sua criação nos anos 20, realizando demonstrações e recebendo o comando de oficiais-alunos.[3] O Grupamento foi criado para aproximar-se do ideal de material, efetivo e adequação à doutrina, possibilitando a experimentação doutrinária e demonstrações táticas para as escolas,[4][5] cooperando assim com a formação tanto de oficiais quanto de sargentos. Também está ligada ao Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil e ao Centro de Adestramento Leste. Em tamanho, é uma das maiores brigadas do Exército.[6] As demonstrações aos oficiais-alunos em campos de instrução continuam no presente.[7]

História

O GUEs original surgiu em 1945 mas mudou sua designação em 1968, tornando-se em seu desenvolvimento posterior a atual 1.ª Brigada de Infantaria de Selva. A atual Organização Militar foi criada em 1971, herdando a função e algumas unidades da original.[8][9]

GUEs (1945-1968) e antecedentes

As unidades-escola da EsAO sofriam com deficiências de efetivo, material e instrução nos anos 20.[3] Entre elas estava o 1º Regimento de Artilharia Montada, usado para demonstrações em 1922.[10] Em 1932 foram criados “com destino exclusivo aos trabalhos de instrução da EsAO e a ela subordinados” o Batalhão Escola (de infantaria) e Grupo Escola (de artilharia montada).[11] Combateram a Intentona Comunista no Rio de Janeiro em 1935.[12][13]

Compreendendo junto à ESAo e outras escolas o Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo, o GUEs foi criado com:[14][15][16]

  • Regimento Escola de Infantaria pela transformação do Batalhão Escola
  • Regimento Escola de Artilharia pela transformação do Grupo Escola
  • Regimento Escola de Cavalaria (Andrade Neves), designado como Escola em 1932[17][18]
  • Batalhão Escola de Engenharia, pela transformação da Companhia Escola de Engenharia
  • Companhia Escola de Transmissões
  • Companhia Escola de Saúde
  • Companhia Escola de Intendência
  • Companhia Escola de Manutenção

A Companhia Escola de Guerra Química, criada em 1953, inicialmente pertenceu ao GUEs.[19] Em 1960 estava abaixo do I Exército e contava com o 1º Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm, Batalhão Escola de Manutenção e Esquadrão Escola de Reconhecimento Mecanizado. O regimento de artilharia tinha só um grupo[20][21] e foi reduzido ao Grupo Escola de Artilharia em 1963.[22] A infantaria, o REsI,[lower-alpha 1] era o único regimento de infantaria completo do país e tinha o melhor armamento do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos.[23]

Em 1961 o GUEs integrou a Divisão Cruzeiro, formação que enfrentaria o III Exército após sua adesão à Campanha da Legalidade.[24] O general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar da Presidência, propôs desembarcar o REsI em Curitiba após uma captura do aeroporto pelos paraquedistas, mas o ministro da Guerra Odílio Denys não aceitou.[25]

No golpe de Estado de 1964 o GUEs foi deslocado ao Vale do Paraíba para defender o Governo João Goulart contra o II Exército, que avançava para a Guanabara.[26] Considerado tropa de elite,[27][28] era militarmente superior a seus oponentes.[29][30] O general Médici, da Academia Militar das Agulhas Negras, tomou o partido do II Exército e ocupou a via Dutra com seus cadetes.[26] O GUEs encontrou os cadetes perto de Barra Mansa na tarde do dia 1º de abril. Eles eram obstrução psicológica a seu avanço e surgiram defecções. Um cessar-fogo foi estabelecido e o I Exército rendeu-se no mesmo dia. Seu comandante, o general de brigada Anfrísio da Rocha Lima,[31][32] foi expurgado imediatamente após o golpe, transferido para a reserva.[33]

Em 1968 foi substituído pela 1ª Brigada de Infantaria, composta do REsI, o 1º Regimento de Infantaria e o 1º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria. No mesmo ano surgia a 2ª Brigada de Infantaria: eram um arranjo transitório na adoção das brigadas na organização do restante da força.[34] A 1ª Brigada de Infantaria deu lugar em 1972 à 1ª Brigada de Infantaria Motorizada e em 1992 à 1ª Brigada de Infantaria de Selva.[8]

GUEs (1971-atual)

Atual quartel da brigada, na antiga Escola Militar do Realengo

Em 1971 o Grupamento de Unidades Escola foi reconstituído com as mesmas funções da original.[35] Foi chamado de 9ª Brigada de Infantaria Motorizada (Escola) de 1973 a 1995, quando tomou o nome atual.[36]

As unidades da formação original tiveram destinos variados. Os componentes de infantaria, artilharia e manutenção têm sua continuidade no 57º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola), 31º Grupo de Artilharia de Campanha (Escola) e 25º Batalhão Logístico (Escola). Já a cavalaria foi inicialmente parte da nova formação[35], passou à divisão e ao exército e retornou ao novo GUEs somente de 1995 a 2007.[17] A engenharia tornou-se em 1971 o 7.º Batalhão de Engenharia de Combate, em Natal.[37]

Guarani do 57º batalhão

Algumas unidades vieram de outras origens. A nova formação surgiu já com o 2º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola), derivado do 2º RI.[35] Em 1980 o 1º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola), antigo 1º RI, também já fazia parte.[38] O 56º Batalhão de Infantaria fazia parte em 2013,[39] mas foi dissolvido em 2016,[40] e à sua sede a 2ª Companhia de Infantaria chegou no ano seguinte.[41] O 15º Regimento de Cavalaria Mecanizado foi incorporado em 2007, recebendo a designação de (Escola).[42] Uma unidade de Escola para a engenharia existe, mas está no 5º Grupamento de Engenharia.[43]

A brigada contribuiu integrantes para a a Força de Paz no Haiti em 2010 e tem experiência em operações urbanas de garantia da lei e da ordem na capital fluminense,[44][6] tendo sido uma das forças subordinadas ao Comando Conjunto do Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro em 2018.[45] Atualmente tem experiência também com o blindado Guarani.[6]

Organização

Estrutura atual da brigada[12][2]
  • 1º Batalhão de Infantaria Mecanizado (Escola)[46]
  • 2º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola)
  • 57º Batalhão de Infantaria Motorizado (Escola)
  • 15º Regimento de Cavalaria Mecanizado (Escola)
  • 31º Grupo de Artilharia de Campanha (Escola)
  • Batalhão Escola de Comunicações
  • 25º Batalhão Logístico (Escola)
  • Companhia de Comando do GUEs - 9ª Brigada de Infantaria Motorizada
  • 9ª Bateria de Artilharia Antiaérea (Escola)
  • 9º Pelotão de Polícia do Exército
  • 2ª Companhia de Infantaria

Notas

    1. Pronúncia: “rei".

    Referências

    1. BRASIL, Decreto de 29 de julho de 1994.
    2. 1ª Divisão de Exército – Organograma. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    3. Pereira, Fabio da Silva; Almeida, Sérgio Luiz Augusto de Andrade (2022). «Os desafios da estruturação básica da Escola para Aperfeiçoamento de Oficiais (EAO) (1919 – 1928)». In: Rodrigues, Fernando da Silva; Franchi, Tássio (orgs.). Exército Brasileiro: perspectivas interdisciplinares 1ª ed. Rio de Janeiro: Mauad. p. 319.
    4. Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes (2018). Modernização e reestruturação do Exército brasileiro (1960-1980) (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: UFRJ. Consultado em 28 de dezembro de 2020. p. 180.
    5. Santos, Alex Nascimento Rocha dos (2019). O apoio logístico do 25º B Log (ES) em operação GLO: um estudo de caso à cerca dos principais apoios da última década (PDF) (Trabalho Acadêmico). Rio de Janeiro: EsAO. Consultado em 30 de dezembro de 2020. p. 5.
    6. Silveira Júnior, Ary da Costa (2020). Avaliação multicritério da viatura blindada de transporte de pessoal média sobre rodas Guarani - versão Remax (TCC). Brasília: UnB. Consultado em 22 de junho de 2022. p. 50.
    7. «Alunos da EsAO acompanham demonstração de Operações Defensivas no Campo de Instrução de Gericinó». DefesaNet. 16 de março de 2020. Consultado em 22 de junho de 2022
    8. 1ª Bda Inf Sl — Síntese Histórica. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    9. BRASIL. Ministério da Defesa. Normas para a preservação das tradições das Organizações Militares do Exército Brasileiro. 16 de janeiro de 2003.
    10. McCann, Frank (2009). Soldados da Pátria: história do Exército Brasileiro, 1889–1937. Traduzido por Motta, Laura Pereira. Rio de Janeiro e São Paulo: Biblioteca do Exército e Companhia das Letras. p. 341.
    11. BRASIL, Decreto 20.986, de 21 de janeiro de 1932. Cria unidades escolas e dá outras providências. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, p. 1494, 26 de janeiro de 1932.
    12. GUES/9ª Bda Inf Mtz – OM Subordinadas. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    13. Aragão, José Campos de (1973). A intentona comunista de 1935. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. p. 75.
    14. BRASIL, Decreto-lei nº 7888, de 21 de agosto de 1945. Cria o Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, p. 13906, 24 de agosto de 1945.
    15. BRASIL, Decreto-lei nº 8033, de 4 de outubro de 1945. Altera dispositivos do Decreto-Lei n° 7.888, de 21 de agosto de 1943. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, p. 15829, 8 de outubro de 1945.
    16. BRASIL, Decreto-lei nº 8282, de 4 de dezembro de 1945. Dispõe sobre a transformação de unidades-escolas. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, p. 18407, 8 de dezembro de 1945.
    17. 2º RCG – Histórico 2º RCG. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    18. Junqueira, Flávio (1967). «Unidades de Cavalaria do Exército Brasileiro». A Defesa Nacional (611). Consultado em 30 de dezembro de 2020. p. 72.
    19. Wippel, Klaus dos Santos; Moreira, Fábio dos Santos (2018). Uma proposta do emprego do pelotão de descontaminação da cia de defesa química, biológica, radiológica e nuclear nas operações especiais em apoio a um time tático do destacamento de contraterrorismo numa entrada tática em ambiente contaminado (TCC). Rio de Janeiro: EsAO. Consultado em 30 de dezembro de 2020. p. 1.
    20. Pedrosa 2018, Apêndice 3.
    21. BRASIL, Ministério da Guerra. Boletim Reservado do Exército N.11-D, 1959. Quadros p.78-94. Disponível no Sistema de Informações do Arquivo Nacional sob o documento “BR_DFANBSB_2M_0_0_0123_v_01_d0001de0001", p.567.
    22. AHEx (2020). «Catálogo de destino dos acervos das Organizações Militares do Exército Brasileiro» (PDF) 2ª ed. Rio de Janeiro: Arquivo Histórico do Exército. Consultado em 6 de março de 2021. p. 82.
    23. Pedrosa 2018, p. 146.
    24. Araripe, Luiz de Alencar (2001). «General Cordeiro de Farias: o soldado e o político». A Defesa Nacional (790). Consultado em 23 de junho de 2022. p. 5.
    25. Markun, Paulo Sérgio; Urchoeguia, Marilda Hamilton (2017). 1961 - o Brasil entre a ditadura e a guerra civil. São Paulo: Benvirá. cap. 13.
    26. Almeida, Jorge Luis Gregorio de (2018). Origens, conflitos e mudanças: a participação da Academia Militar das Agulhas Negras no golpe militar de 1964 (Dissertação de Mestrado). Niterói: Universo. Consultado em 21 de maio de 2021. p. 11-12 e 147-148.
    27. Chagas, Carlos (1985). A Guerra das Estrelas (1964/1984): Os bastidores das sucessões presidenciais 2ª ed. Porto Alegre: L&PM. p. 42-44
    28. Duarte, Eurilo (1964). 32 mais 32, igual a 64. Os idos de março e a queda em abril 2ª ed. Rio de Janeiro: José Álvaro. p. 150.
    29. D'Aguiar, Hernani (1976). A Revolução por Dentro. São Cristóvão: Artenova. p. 131.
    30. Pinheiro, Luiz Adolfo (2001). JK, Jânio e Jango: três jotas que abalaram o Brasil. Rio de Janeiro: Letrativa. p. 256.
    31. D'Aguiar 1976, p. 139-142.
    32. Motta, Aricildes de Morais (coord.) (2003). 1964-31 de março: O movimento revolucionário e sua história. Col: História Oral do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora. Tomo 1, p. 36-41.
    33. BRASIL, Ato do Comando Supremo da Revolução nº 3, de 11 de abril de 1964. Ato nº3 – Transferência para a reserva, oficiais das Forças Armadas. Diário Oficial da União, Brasília, p. 3258, 11 de abril de 1964.
    34. Pedrosa 2018, p. 162-163.
    35. Pedrosa 2018, p. 180.
    36. AHEx (2020) p. 385.
    37. 7º BE Cmb – Histórico. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    38. Pedrosa 2018, Apêndice 4.
    39. BRASIL. Exército Brasileiro. Comandante do Exército. Portaria nº 432, de 4 de junho de 2013. Reorganiza o Grupamento de Unidades-Escola/9ª Brigada de Infantaria Motorizada e dá outras providências. Boletim do Exército Nº24/2013, Brasília, p. 9-10, 14 de junho de 2013.
    40. AHEx 2020, p. 489.
    41. AHEx 2020, p. 536.
    42. 15º R C Mec – Histórico. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    43. EsAO – Visita ao 5º Grupamento de Engenharia. Consultado em 30 de dezembro de 2020.
    44. Pinheiro, Ajax Porto (2011). «A Atuação do Batalhão Brasileiro Após o Terremoto do Haiti». Military Review (Edição Brasileira). Consultado em 30 de dezembro de 2020. p. 31.
    45. Vaz 2019.
    46. DefesaTV – Regimento Sampaio se torna 1ª unidade de Infantaria Mecanizada do Comando Militar do Leste. Consultado em 30 de dezembro de 2020.

    Ver também

    Ligações externas

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