Haçane Abenamar

Amim Adaulá Abu Maomé Haçane Abenamar[1] ou ibne Amar[2] (Amīn al-Dawla Abū Muḥammad al-Ḥasan ibn ʿAmmār),[3] geralmente chamado simplesmente Abenamar nas fontes árabes,[4][5] foi um comandante e estadista árabe do Califado Fatímida. membro da família cálbida, esteve ativo nas guerras com o Império Bizantino na Sicília na década e 960, liderando a captura de Taormina e Rometa, que concluíram a conquista muçulmana da Sicília. Enviado ao Egito em 971, tornou-se líder dos berberes cotamas e ministro chefe (vasita) durante o primeiro ano do reinado do califa Aláqueme Biamir Alá (r. 996–1021).

 Nota: Para outros significados, veja Haçane.

Vida

Haçane era filho de Amar ibne Ali Alcalbi, membro da família cálbida, que tornou-se proeminente através do irmão de Amar, Haçane ibne Ali Alcalbi. Junto com Amade, Amar lutou nas guerras com o Império Bizantino na Sicília e sul da Itália, e se afogou durante uma expedição abortiva contra Otranto em 958.[6]

Após a reconquista bizantina de Creta em 960-961, os fatímidas novamente viraram sua atenção à Sicília, onde decidiram reduzir os entrepostos bizantinos remanescentes no nordeste e completar a conquista muçulmana da ilha. No Natal de 962, Haçane e seu primo Amade capturaram Taormina após um cerco de sete meses e meio, enquanto em 24 de agosto de 963 Haçane liderou cerco em Rometa. A guarnição da última enviou pedido de ajuda ao imperador Nicéforo II Focas (r. 963–969). O imperador preparou uma grande expedição, com alegados 40 000 homens, que chegaram na Itália no final de 964. Ciente disso, Haçane também procurou reforços, que chegaram sob o comando de seu tio homônimo. Os bizantinos tentaram aliviar Rometa, e em 25 de outubro enfrentaram o exército de Haçane. Os bizantinos venceram o confronto inicial, mas Haçane conseguiu reagrupar seus homens e vencer uma vitória esmagadora. Segundo Almacrizi e Abulféda, mais de 10 000 bizantinos pereceram, incluindo o sobrinho do imperador, Manuel Focas, e vários outros comandantes. Os bizantinos sobreviventes fugiram em pânico, mas foram atacados novamente quando os árabes encontraram-se com eles num desfiladeiro ("batalha do abismo", uacate alufra). As tropas bizantinas remanescentes embarcaram seus navios, mas a frota imperial foi destruída na Batalha do Estreito por Amade, primo de Haçane, selando o destino de Rometa. A cidade rendeu-se poucos meses depois, no começo de 965, depois de suas provisões se exaurirem e seus habitantes começaram a fugir da cidade.[4][7]

Em 971, os carmatas lançaram uma invasão do Egito, conquistado apenas dois anos antes pelo general fatímida Jauar, o Siciliano. Haçane foi encarregado de liderar os reforços da Ifríquia (principalmente berberes cotamas), enquanto seu primo Amade ibne Haçane Alcalbi foi encarregado com a missão de liderar a parte naval da expedição.[8] No evento, em dezembro de 971, pouco antes da chegada de Abenamar, os carmatas foram derrotados em Aim Xemece, próximo de Fostate.[5]

Os berberes, e especialmente os cotamas, tradicionalmente forneceram a maior parte dos exércitos fatímidas, e desempenharam papel central na tomada de Ifríquia e a conquista do Egito e sul do Levante. Sob o califa Alaziz (r. 975–996), contudo, começaram a ser eclipsados por mercenários turcos e dailamitas do Oriente islâmico, a quem Alaziz concedeu patrocínio, enquanto por outro lado os fatímidas falharam em atrair novos recrutas dos cotamas. Consequentemente, uma intensa rivalidade surgiu entre os dois grupos, rotulados Magariba ("ocidentais") e Maxarica (orientais) respectivamente.[9][10] Sob Alaziz, Abenamar, desempenhou várias missões administrativas, e foi um líder proeminente dos cotamas. Gozou de grande prestígio como virtualmente "o último da antiga aristocracia ifriquiana" (Michael Brett) e esteve presente no leito de morte de Alaziz em outubro de 996. Relatadamente recebeu as instruções finais do califa, que encarregou-o com a missão de administrar os assuntos de seu filho e herdeiro de 11 anos, Aláqueme.[11][12] Depois da morte de Alaziz, os berberes tomaram a oportunidade e incitaram Aláqueme a demitir o vizir cristão ibne Nasturis (que foi executado pouco depois) e nomear Abenamar como chefe do governo, embora que com o título de vasita ("intermediário") em vez de vizir.[10][13][14]

O governo de Abenamar rapidamente descambou à tirania: ele imediatamente começou a preencher o governo com berberes, que conduziram uma pilhagem virtual dos cofres do Estado. As tentativas dos berberes para excluir os outros grupos interessados do poder — não apenas os turcos e outros contingentes étnicos do exército, mas também a burocracia civil, cujo salário foi cortado — alienou não apenas os maxaricas, mas alarmou o ambicioso tutor e guardião de Aláqueme, o eunuco Barjauã. Barjauã contactou o governador fatímida de Damasco, o turco Manjutaquim, e convidou-o a marchar no Egito e depor Abenamar. Manjutaquim aceitou, mas foi derrotado pelas tropas de Abenamar sob Solimão ibne Jafar ibne Falá em Ascalão e foi levado prisioneiro. Barjauã, contudo, logo encontrou um novo aliado na pessoa do líder cotamas Jaixe ibne Sassama, governador de Trípoli, que ibne Falá demitiu e substituiu por seu próprio irmão. Jaixe e Barjauã reuniram um grupo de outros líderes berberes insatisfeitos, e começou uma revolta no Cairo em outubro de 997. Abenamar foi forçado a fugir, e Barjauã substituiu-o como vasita.[15][16][17]

Durante sua proeminência, Barjauã conseguiu balancear as duas facções, cumprindo as demandas dos maxaricas enquanto tomou conta dos cotamas. Nessa linha, perdoou Abenamar e restaurou seu salário mensal de 500 dinares de ouro. Depois do assassinado de Barjauã em 25 de março de 1000, contudo, o califa Aláqueme assumiu as rédeas do governou e começou um expurgo das elites fatímidas, durante o qual Abenamar e muitos outros líderes cotamas foram executados.[15][17]

Referências

  1. Alves 2014, p. 61.
  2. Coelho 1989, p. 225, 227, 238.
  3. Walker 2002, p. 106.
  4. Lilie 2013, al-Ḥasan b. ‘Ammār al-Kalbī (#22562).
  5. Kennedy 2004, p. 318.
  6. Brett 2001, p. 240–241.
  7. Brett 2001, p. 242.
  8. Brett 2001, p. 320.
  9. Daftary 1992, p. 186.
  10. Lev 1987, p. 344–346.
  11. Lev 1987, p. 346.
  12. Brett 2001, p. 418.
  13. Daftary 1992, p. 186–187.
  14. Kennedy 2004, p. 327–328.
  15. Daftary 1992, p. 187.
  16. Kennedy 2004, p. 328.
  17. Lev 1987, p. 345–346.

Bibliografia

  • Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Leya. ISBN 9722721798
  • Brett, Michael (2001). The Rise of the Fatimids: The World of the Mediterranean and the Middle East in the Fourth Century of the Hijra, Tenth Century CE. The Medieval Mediterranean 30. Leida: BRILL. ISBN 9004117415
  • Coelho, António Borges (1989). Portugal na Espanha Arabe: História. Lisboa: Editorial Caminho. ISBN 9722104209
  • Daftary, Farhad (1992). The Isma'ilis: Their History and Doctrines. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-42974-0
  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4
  • Lev, Yaacov (1987). «Army, Regime, and Society in Fatimid Egypt, 358–487/968–1094». International Journal of Middle Eastern Studies. 19: 337–365
  • Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt
  • Walker, Paul E. (2002). Exploring an Islamic Empire: Fatimid History and its Sources. Londres: I.B. Tauris. ISBN 9781860646928


This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.