Hidroelétricas em Portugal

Alqueva
Barragem do Alqueva no Baixo Alentejo. A sua albufeira é maior lago artificial da Europa em superfície do espelho de água. Para além de uma hidroelétrica com 255,6 MW, serve um sistema de 130.000ha de regadio.

O contexto histórico

A construção de aproveitamentos hidroelétricos com grande dimensão, começou em Portugal após a Lei de Electrificação do País, em 1944 e a criação da CNE (Companhia Nacional de Eletricidade), que definiu a Rede Elétrica Nacional, e que unificou varias áreas de distribuição anteriormente não conectadas entre si, tendo nesse tempo, maioritariamente a termoelétrica a carvão como fonte geradora. A grande fase de construção de hidroelétricas em Portugal foi entre 1950 e 1965 com uma média de uma grande hidroelétrica por ano .

O facto das barragens ficarem longe das maiores áreas de consumo levou à implementação de uma rede de transmissão de energia elétrica de muito alta tensão que acabou por ligar a totalidade do país. Esta rede é explorada desde 1994 pela REN (Redes Energéticas Nacionais) em 9.425 Km de linhas de transmissão (2022) com diferença de potencial entre os 150 Kilovolts (KV) e os 400 KV.

A actualidade

Na atualidade existe uma revitalização a nível mundial da produção de eletricidade a partir da energia hidráulica, porque é uma energia renovável e uma das formas da humanidade reduzir o recurso a hidrocarbonetos, principal responsável pela emissão de CO2 e consequente aumento do efeito de estufa.

O estado português lançou em 2007 o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico, destinado a construir dez novos aproveitamentos hidroelétricos que colocariam na rede cerca de 2.000 MW de potência instalada até 2020. No entanto dois destes projetos receberam parecer ambiental negativo e outros três não encontraram até ao momento interesse por parte de empresas concessionárias. Deste plano estão agora concluídos ou em fase final de construção 1.595 MW de potência instalada, aproximadamente 75% do inicialmente previsto para o total do Plano.

A contribuição para produção elétrica nacional

Gráfico sobre a contribuição de cada tipo de produção elétrica em 2023 (Fonte: APREN)

Portugal é o décimo país europeu em produção hidroeléctrica com 8.252 MW (incluindo todos os tipos de aproveitamentos), e o segundo se for considerada a dimensão populacional, só ultrapassado pela Noruega. Num ano hidrológico médio (como 2023), a contribuição das hidroelétricas para a produção total de energia em Portugal é de 27%, ligeiramente inferior à produção eólica (29%).

Em 2022, de acordo com informação da União Europeia, Portugal é o oitavo país dos 27 em produção electrica de fontes renováveis com uma contribuição de 63% para o total do consumo nacional.


O papel na estabilização da rede

As hidroeléctricas têm um papel fundamental na gestão das redes elétricas, porque são a única forma rápida de redundância a outras formas de energia renovável como a eólica ou a solar, que por razões meteorológicas são pouco previsíveis. Isto deve-se à alta disponibilidade da Turbina hidráulica, capaz de entrar em funcionamento em poucos minutos, contrariamente às centrais que utilizam a pressão do vapor de água, como a Central Nuclear e a Termoelétrica.

As hidroelétricas podem também ajudar a regulação do sistema elétrico em momentos de excedente de produção de outras energias renováveis. Quando inicialmente projetadas para esta função, usam o bombeamento de uma albufeira a cota inferior para armazenar água numa outra albufeira em cota superior, que será usada em período de baixa produção eólica ou solar. Existem em Portugal treze centrais com bombagem, totalizando 2,7 GW de potência instalada em turbinas[1], incluindo o sistema integrado hídrico-eólico de Daivões/Gouvães que permite esta forma inteligente de aproveitamento do excesso de produção elétrica na rede.


Como interpretar as características de produção eléctrica

Os dois parâmetros mais importantes para definir um aproveitamento hidroelétrico são a sua capacidade instalada, ou seja a sua potência elétrica máxima medida em milhões de watts (MW), e a quantidade total de produção elétrica (média) durante um ano em mil milhões de watt por hora ou Gigawatt-hora (GWh). A relação entre os parâmetros não é direta entre si, dependendo essencialmente da duração do período estival na sua bacia hidrográfica e da sua capacidade de armazenamento de água na albufeira. Se período estival for mais curto, ou a sua capacidade de armazenamento no período húmido for maior, a barragem tem mais horas de produção por ano (GWh).

O impacto ambiental

A construção de uma barragem também tem impacto ecológico, sobretudo ao nível da destruição de habitat local. Este custo ambiental é porem muito menor face ao que é o provocado pela utilização massiva do petróleo, carvão ou gás nos seus efeitos sobre as alterações climáticas. Existe um aspecto discreto mas de grande impacto sobre a orla marítima que é a retenção de materiais sólidos e sedimentos aluviais a montante da barragem.

Todas formas de produção eléctrica industrial, incluindo a renovável, acabam por ter impactos sobre a natureza de vária ordem. Cabe aos planeadores e aos investigadores de impacto ambiental determinar em cada caso se o benefício supera o impacto sobre os ecossistemas e também sobre as populações e economias locais.

O papel das albufeiras

As barragens são construídas em regra com um objetivo principal que pode ser o abastecimento de água, a rega agrícola ou a regulação de caudais de cheia tendo a produção elétrica um papel secundário. Esta realidade é observável em barragens com uma altura de parede menor onde são usadas as turbinas Kaplan (similar no comportamento hidrodinâmico a uma hélice de navio) , mas não nos grandes empreendimentos, cuja altura de parede e consequente albufeira são projetados únicamente para uma coluna de água turbinável por turbinas Francis.

Assim, muitas das barragens para aproveitamento hidroelétrico têm aproveitamentos secundários, como por exemplo a Barragem de Castelo do Bode, que abastece de água a região de Lisboa, ou a Barragem do Alqueva, que tem finalidades de rega no Baixo Alentejo.

Para além disso as albufeiras criadas pelas barragens são utilizadas como fonte de rendimento turístico, já que permitem a prática de atividades de lazer e de recreio e, por isso, incrementam o turismo das regiões onde se encontram as barragens. Assim, é possível, por exemplo no rio Douro, que haja navegação em 208 quilómetros de extensão, através de cinco enclusas em barragens, de barcos de cruzeiros e lazer que transportam turistas com o objetivo de apreciar a paisagem e visitar as localidades ao longo do rio, podendo ser uma mais-valia para as economias locais.

Na actualidade este papel das albufeiras sobre o turismo não é totalmente consensual, existindo a opinião oposta de que as albufeiras retiram os aspectos singulares das paisagens limitando o ecoturismo. De qualquer das formas, as localizações possíveis para a instalação de novas grandes barragens com albufeiras de grande impacto estão esgotadas no território nacional para além das três já pré-projetadas e ainda não construídas.


Barragens com centrais hidroelétricas em Portugal

Critério de inclusão: Capacidade instalada superior a 10 MW.

Total de centrais hidroelétricas em operação: 42

Total de Potência Instalada: 5.822 MW

Total de Produção Anual (média): 12.997 GWh

Última atualização: Novembro de 2023

Nome da BarragemBacia HidrográficaDistritoInauguraçãoPotência Instalada (MW)Produção Anual (GWh)Altura Parede (metros)Coroamento (metros)
Barragem do Alto-LindosoLimaViana do Castelo1992630948110297
Barragem de Miranda do DouroDouroBragança1961390103680535
Barragem da AguieiraMondegoCoimbra/Viseu198127021089400
Barragem Foz do TuaDouroBragança2011254275107172
Barragem do AlquevaGuadianaBeja200224026996458
Barragem do FridãoDouroPorto(3)238295
Barragem do AlvitoTejoCastelo Branco(4)225370475
Barragem da ValeiraDouroBragança/Viseu197521680148380
Barragem de BempostaDouroBragança1964210108687297
Barragem do CarrapateloDouroPorto197221087157400
Barragem do PocinhoDouroBragança/Guarda198218653449430
Barragem de PicoteDouroBragança19581801038100139
Barragem do Baixo SaborDouroBragança2016180444
Barragem da RéguaDouroVila Real197315673841350
Barragem de TorrãoDouroPorto198814622869218
Barragem da Venda NovaCávadoVila Real195114438997230
Barragem de Castelo do BodeZêzereSantarém1951139390115
Barragem de FratelTejoPortalegre19731303484887
Barragem de Vilarinho das FurnasCávadoBraga197212522594385
Barragem PadroselosDouroVila Real(4)113102
Barragem de GouvãesDouroVila Real202288015330887
Barragem DaivõesDouroVila Real2022109148
Barragem de Crestuma-LeverDouroPorto198510836765470
Barragem do CabrilZêzereCastelo Branco195497301132297
Barragem Alto TâmegaDouroVila Real2024 (1)901141557
Barragem RibeiradioVougaViseu201582134
Barragem de BelverTejoSantarém19528117630327
Barragem de PinhosãoVougaViseu(2)77106
Barragem de GirabolhosMondegoGuarda(2)7299
Barragem do Alto RabagãoCávadoVila Real19646897941970
Barragem de VilarDouroViseu19656414858555
Barragem da CaniçadaCávadoBraga19556034676163
Barragem da ParadelaCávadoBraga195654256,7110540
Barragem da BouçãZêzereLeiria19555015763181
Barragem de SalamondeCávadoBraga19534223275281
Barragem de PracanaTejoSantarém1950406260246
Barragem de AlmourolTejoSantarém(2)3696
Barragem de Santa LuziaZêzereCoimbra1942325576115
Barragem do CaldeirãoMondegoGuarda1993324539122
Barragem de VarosaDouroViseu1976256076213
Barragem de TouvedoLimaViana do Castelo1993226743134
Barragem da QueimadelaAveBraga1993204536200
Barragem de PedrógãoGuadianaBeja2005104543448
Barragem de Senhora de MonforteDouroGuarda1993103320
Barragem de Bouçais-SonimDouroVila Real200410304387
Barragem do Vale do RossimMondegoGuarda19561028271437
Barragem do SordoDouroVila Real1997102536108
Barragem de NunesDouroVila Real1995104222542

(1) Em construção (2) De momento sem interessados (3) Sem data definida (4) Construção suspensa por decisão governamental em 2019

Ver também

Ligações externas

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