Incidente da Marinha Grande

O Incidente da Marinha Grande[1] ou Paulada da Marinha Grande[2] foi um incidente ocorrido a 14 de Janeiro de 1986 na Marinha Grande[3][4] quando um grupo de trabalhadores desempregados esbofetearam Mário Soares.[5][6][7] A agressão ocorreu aquando campanha eleitoral das eleições presidenciais de 1986 na quais Mário Soares concorria.[5][8] O motivo era a grave crise que afectava há anos a indústria do cristal e que tinha tirado o emprego à maioria dos trabalhadores.[5][9]

Contexto

O incidente teve lugar na Marinha Grande, uma região muito dependente da indústria do cristal a qual estava a passar sérias dificuldades naquela altura, dada a crise que a afectava há vários anos e que tinha tirado o emprego à maioria dos operários.[5][10] Mário Soares estava a fazer campanha eleitoral para as eleições de 1986 ainda na primeira volta contra Freitas do Amaral, Salgado Zenha, Maria de Lurdes Pintasilgo e Angelo Veloso. Soares acusou apoiantes do PRD da agressão apesar de a Marinha Grande ser um bastião histórico do PCP.[2][4]

A agressão

O Incidente da Marinha Grande.

Quando, a 14 de Janeiro de 1986, Mário Soares dispôs-se a visitar uma das poucas fábricas que tinham recebido subsídios do anterior governo (presidido pelo próprio Soares), nesse momento operários de outra fábrica que não os tinha recebido começaram a vaiar o político, sendo isto o prelúdio da agressão física que viria a seguir.[5] O presidente da Câmara de Marinha Grande avisou Soares da possibilidade de haver elementos que estavam lá para o boicotear ou agredir, tendo o político ignorado a recomendação.[2]

A ameaça, primeiramente verbal, acabou num ataque pessoal a Mário Soares quando um grupo de trabalhadores desempregados esbofetearam o candidato, esbofetearam também dois dos guarda-costas do político.[5]

O político sai do carro, acompanhado pelos guarda-costas e vai em direcção da Fábrica do Irmãos Stephens, nesse momento começa a agressão, um grupo de manifestantes ataca a comitiva de Mário Soares, usando as mãos e paus.[2] O subchefe Paulo da PSP interpôs a sua cabeça entre um golpe que ia para a cabeça do candidato, isto fez que começasse a sangrar bastante, tendo conseguido desviar o golpe para o pescoço e o ombro do candidato.[2]

Soares, acusaria pouco depois do acto de violência que este tinha sido executado por seguidores de Francisco Salgado Zenha,[2] afirmando que os que o agrediram tinha autocolantes de dito candidato, o qual, tinha estado uma hora antes no mesmo lugar.[5]

Mário Soares viria a descrever a agressão dizendo:

Os seguidores do candidato e os jornalistas conseguiram fugir até à Fábrica dos Irmãos Stephens, protegendo-se lá ficando a salvo da multidão enfurecida.[2]

Consequências

O Incidente seria amplamente usado por Mário Soares na sua campanha eleitoral e no seu tempo de antena.[4][11] É possível que o sucesso tenha tido influência decisiva no resultado da eleição presidencial a qual foi ganha por Soares por uma estreita margem de votos e a sua vitória eleitoral na Marinha Grande.[4][11][12] Alguns referem que o Incidente fez com que Mário Soares, que no início tinha pouco apoio (chegando apenas a 8% nas primeiras sondagens) e que à esquerda tinha dois candidatos: Maria de Lurdes Pintassilgo e Francisco Salgado Zenha,[7] vencesse não só os adversários de esquerda mas também Freitas do Amaral o qual tinha um apoio sólido da direita política.[6][13]

Referências

  1. Ribeiro, Nuno. «Mário Soares (1924-2017), o homem que nunca desistiu». PÚBLICO. Consultado em 8 de janeiro de 2017
  2. «"A paulada é que me dói mais"». Jornal Expresso
  3. «Soares agredido»
  4. SOL, Jornal. «Histórias de murros. Rajoy em Pontevedra, Mário Soares na Marinha Grande». Semanario SOL
  5. País, Ediciones El (17 de janeiro de 1986). «Trabajadores parados abofetean a Soares». EL PAÍS (em espanhol)
  6. «Reportagem: Presidenciais: Marinha Grande, a cidade "decisiva" nas eleições de 1986 que Mário Soares ganhou (C/Vídeo)». SIC Notícias
  7. «Histórias de murros. Rajoy em Pontevedra, Mário Soares na Marinha Grande». ionline
  8. Group, Global Media (15 de janeiro de 2016). «Presidenciais 2016 - "Marcelo é fixe", como Soares, até com operários na Marinha Grande». DN
  9. Day, Alan (1 de janeiro de 1994). The Annual Register: World Events (em inglês). [S.l.]: St. Martin's Press
  10. «Autarca e sindicalista da Marinha Grande convergem sobre Mário Soares». Notícias ao Minuto. 7 de janeiro de 2017
  11. «O histórico duelo entre Soares e Freitas | DN 150 Anos». Consultado em 8 de janeiro de 2017
  12. Cunha, Adelino (27 de dezembro de 2016). António Guterres: Os segredos do poder. [S.l.]: Alêtheia Editores. ISBN 9789896229245
  13. «Da Marinha Grande a Belém». Jornal Expresso
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