Klaxon

Klaxon foi uma revista mensal de arte moderna que circulou em São Paulo de 15 de maio de 1922 a janeiro de 1923.[1] Foi a primeira publicação modernista brasileira após Semana de Arte Moderna. Seu nome é derivado do termo usado para designar a buzina externa dos automóveis. A utilização do nome de uma, na época famosa, marca norte-americana de buzinas foi pensada por querer remeter a um barulho que incomoda.[2]

Klaxon
Klaxon
Slogan Mensario de arte moderna
Frequência Mensal
Formato 27,5 x 19 cm
Encadernação Canoa
Fundação 1922
Primeira edição Maio de 1922
Última edição Janeiro de 1923
País Brasil
Idioma Português
ISSN 0302-8712

O principal propósito da revista foi servir de divulgação para o movimento modernista, além de criticar o tradicionalismo na arte, e nela colaboraram nomes como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre outros artistas e escritores.[3]

Também destacam-se na revista a busca pelo atual; o culto ao progresso; a concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade; aproveitamento das lições de uma nova arte em evidência, o cinema.[3]

Embora tenha feito muito sucesso no Brasil e até no exterior devido a sua ousadia, a revista não conseguiu se manter com as assinaturas, nem com os anunciantes que deixaram de contribuir após desaprovar certos anúncios.[2] Seu sustento maior vinha da venda direta dos exemplares e do patrocínio dos seus idealizadores, então, a partir do momento em que eles não mais se divertiam com a produção da revista ela chega ao fim, encerrando por definitivo suas atividades em Janeiro de 1923.[4]

Contexto histórico

O início do século XX, tanto na Europa quanto no Brasil, foi marcado pela tentativa de mudança de valores culturais e artísticos em meio a uma crise profunda em que o mundo atravessava com grandes guerras. Esses processos de mudança caracterizam o "Modernismo". [5]

No Brasil, em Fevereiro de 1922, foi realizada a Semana de Arte Moderna em São Paulo em que ocorreram diversas reflexões e contestações sobre a arte no país. Essa manifestação não só é intensificada pelo período de intensas transformações em todo o mundo, como também pela comemoração do centenário da Independência que trouxe discussões sobre a identidade nacional expressa através da arte. São Paulo foi a cidade sede devido ao seu processo de industrialização e reuniu na Semana de Arte Moderna jovens artistas e intelectuais que revisaram e criaram novos projetos culturais. O início do movimento foi marcado pela exposição de Anita Malfatti em 1917-1918 e sua repercussão.[6]

Conteúdos da revista

A revista Klaxon foi pioneira na crítica cinematográfica brasileira com textos escritos por Mário de Andrade.[4] Além disso, ele escreveu seções de crítica sobre outras vertentes artísticas como música e literatura na Revista Klaxon: Mensário de Arte Moderna.[3]

Mário de Andrade buscou afastar a revista de associações do conteúdo com o Futurismo e o Manifesto de Marinetti. Em uma das edições destaca-se a frase: “Klaxon não é futurista. Klaxon é klaxista”. O autor repudiou assuntos que integram o documento italiano como o desprezo às mulheres, incentivo ao militarismo e à guerra. Figuras femininas importantes do período, entre elas cantoras e atrizes, ganharam destaque em páginas da Klaxon.[3]

O conteúdo da revista também trazia anúncios diferenciados, com forte apelo visual e contribuições autônomas de artistas plásticos associados ao movimento. Uma publicidade muito famosa, publicada na Klaxon, possui a autoria de Guilherme de Almeida. Nela, o chocolate Lacta foi anunciado na contracapa do número de estreia através de uma composição que renovaria seu sentido após o surgimento da poesia concreta na década de 1950. [2] Além disso, havia anúncios fictícios que satirizavam temas como o Parnasianismo. Em uma publicidade, por exemplo, da "Panthosopho e Pateromnium & Cia", uma empresa fictícia que produzia sonetos mostrava o descontentamento do editorial moderno da Klaxon com a "fabricação" repleta de normas rígidas e formais de poemas daquele estilo, às quais os modernistas faziam duras críticas.[4]

Entre outros assuntos publicados, estão artigos de autores nacionais como Manuel Bandeira e Sérgio Milliet, poemas internacionais em seus idiomas nativos, ensaios, crônicas, piadas e gravuras. [4]

Nas participações nomeadas como “extra-texto”, estavam presentes cenas com ilustrações em preto e branco de artistas como Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti e John Graz. Todos eles estiveram na Semana de Arte Moderna. Villa-Lobos, compositor carioca, também contribuiu ao trazer uma partitura publicada no último número do mensário.[2]

Design da revista

A organização da Klaxon era horizontal, não possuía hierarquia jornalística ortodoxa (diretor, redator, editor, etc). Os funcionários participavam de diversas etapas, o que permitia um forte envolvimento nos processos produtivos.[4]

A capa da Klaxon foi idealizada por Guilherme de Almeida. Em seu depoimento para o jornal O Estado de S. Paulo em 1968, ele afirma que foi juntamente com Couto, Tácito, Aranha e Rubens à Tipografia Paulista para recolher ideias. Em seguida, Almeida criou a composição tipográfica baseada em letras maiúsculas e selecionou uma enorme letra “A” que estava em um cartaz da ópera Aída encontrado na parede. Utilizando o “A” como base, ele aplicou todas as diretrizes da capa.[2]

Posteriormente, Sérgio Buarque de Holanda contou outra versão de que a capa da revista teria sido inspirada na capa do livro “La Fin du Monde Filmée par L’Ange Notre Dame”, de Blaise Cendrars, feita por Fernand Léger. Nela destaca-se a letra “N” das demais e está presente na maioria das palavras. Essa hipótese foi contestada pelos membros que nunca admitiriam uma inspiração francesa na Klaxon.[3]

O formato 27,5 x 19 cm, com mancha de 25 x 18 cm repete-se nas capas de edição a edição. Apenas a cor do papel cartolina e a cor da letra A possuem variações.[2]

Autores e participações na revista

Apesar de muitos textos da Klaxon serem anônimos ou coletivos, o primeiro volume sendo assinado apenas por "a redacção", tiveram participações na revista diversos artistas nacionais e internacionais como:[2]

Klaxon Extra-texto

Klaxon Extra-texto foi uma edição clandestina da kalxon que saiu logo após o encerramento da revista. O volume gerou bastante controvérsia sendo inclusive relacionada a rituais satânicos, isso porque foi confeccionado através da sobreposição das páginas de todas as edições anteriores da revista resultando em um visual um tanto quanto peculiar. O responsável pela confecção e distribuição dessa obra continua um mistério.[2]

A produção desse volume funcionou de forma que as páginas de mesmo número de cada exemplar ficassem sobrepostas. Portanto, a capa seriam todas as capas 1-9 impressas uma por cima da outra, a página 2 seriam todas as páginas 2 das edições 1 a 9 uma impressas uma por cima da outra e assim em diante.[2]

Por conta da forma em que foi distribuída, aparecendo misteriosamente no meio de pilhas aleatórias, e sua estética peculiar, a revista causou revolta e estranhamento. As três letras “x” presentes no título foram relacionadas ao número da besta, e por conta disso apelidaram a revista de “xxx”.[2]

A Klaxon Extra-texto e seu apelido foram utilizados como referência para diversos grupos na posterioridade como: jovens artistas dos anos 1960 e 1970 que procuravam reviver a rebeldia da primeira fase do Modernismo; o Grupo Rex que fez homenagens para a edição não apenas na escolha da sonoridade de seu nome como na edição de seu jornal, o Rex Time de 3 de junho de 1966; e o Movimento Terrorista Andy Warhol (MTAW), que utilizava a expressão “movimento xxx”. [2]

Ver também

Referências

  1. Pontes, Iran. «A Revista Klaxon». Design Culture. Consultado em 31 de Julho de 2014
  2. Klaxon em revista. Daniel Rangel, Marilá Dardot, Fabio Morais, Marcos Augusto Gonçalves, Instituto de Cultura Contemporânea, Cosac Naify. São Paulo: [s.n.] 2013. ISBN 9788540505285
  3. Guimarães, Adalberto (2013). «Revista Klaxon» (PDF)
  4. Ferreira, Leonardo. KLAXON: modernismo e cinema em revista. disponível em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/6o-encontro-2008-1/KLAXON.pdf>
  5. Lucia., Helena, (1986). Modernismo brasileiro e vanguarda. [S.l.]: Editora Ática. OCLC 948337960
  6. Ajzenberg, Elza (1 de maio de 2012). «A Semana de Arte Moderna de 1922». Revista de Cultura e Extensão USP: 25–29. ISSN 2316-9060. doi:10.11606/issn.2316-9060.v7i0p25-29. Consultado em 25 de agosto de 2022

Ligações externas

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