Método da bisseção

O método da bisseção (português brasileiro) ou método da bissecção (português europeu) é um método de busca de raízes que bissecta repetidamente um intervalo e então seleciona um subintervalo contendo a raiz para processamento adicional.[1] Trata-se de um método simples e robusto, mas relativamente lento quando comparado a métodos como o método de Newton ou o método das secantes.[2] Por este motivo, ele é usado frequentemente para obter uma primeira aproximação de uma solução, a qual é então utilizada como ponto inicial para métodos que convergem mais rapidamente.[3] O método também é chamado de método da pesquisa binária,[4] ou método da dicotomia.[5]

Método da bisseção.

O método

Bisseção do intervalo e os elementos envolvidos.

Este método pode ser usado para encontrar as raízes de uma função contínua , , tendo e sinais opostos, ou seja, . Nestas condições, o teorema do valor intermediário garante a existência de uma raiz no intervalo . O método consiste em dividir o intervalo no seu ponto médio , e então verificar em qual dos dois subintervalos garante-se a existência de uma raiz. Para tanto, basta verificar se . Caso afirmativo, existe pelo menos uma raiz no intervalo , caso contrário garante-se a existência de uma raiz no intervalo . O procedimento é, então, repetido para o subintervalo correspondente à raiz até que aproxime a raiz com a precisão desejada.[2][6]

Análise

A cada passo, o erro absoluto é reduzido pela metade, e assim o método converge linearmente. Especificamente, se é o ponto médio do intervalo, e é o ponto médio do intervalo da -ésima iteração, então a diferença entre e uma solução é limitada por[7][6]

Assim, se for a estimativa do erro absoluto na -ésima iteração, então

e o método da bisseção tem convergência linear, o que é comparativamente lento.

Esta fórmula também pode ser utilizada para determinar de antemão o número máximo de iterações que seriam necessárias para que a aproximação fornecida pelo método estivesse dentro de uma determinada margem de erro (ou tolerância) :

sendo o tamanho do intervalo inicial, isto é,

Algoritmo

Com o método da bisseção podemos construir um algoritmo para aproximar a raiz de uma função. Por exemplo, temos o seguinte pseudocódigo:[2]

ENTRADA: Função f, extremos do intervalo a, b, tolerância TOL, número máximo de iterações NMAX
CONDIÇÕES: a < b, ou f(a) < 0 e f(b) > 0 ou f(a) > 0 e f(b) < 0
SAÍDA: valor que difere de uma raiz de f(x)=0 por menos do que TOL
N ← 1
Enquanto NNMAX # limita o número de iterações para prevenir um loop infinito
  c ← (a + b)/2 # novo ponto médio
  Se f(c) = 0 ou (ba)/2 < TOL então # solução encontrada
    Retorne(c)
    Pare
  Fim
  NN + 1 # incrementa o contador de iterações
  Se sinal(f(c)) = sinal(f(a)) então ac senão bc # novo intervalo
Fim
Retorne("O algoritmo falhou.") # núm. máximo de iterações excedido

Exemplo

Calculemos os zeros da função

De início temos de achar valores para e tais que e tenham sinais contrários. e respeitam esta condição.

e

Como a função é contínua, sabemos que existe uma raiz no intervalo . A primeira iteração gera , e . Como é negativa, se tornará nosso novo para que continuemos tendo e com sinais opostos, e com isso saber que a raiz se encontra em . Repetindo esses passos, teremos intervalos cada vez menores até que o valor de convirja para o zero de nossa equação. Veja os valores plotados na tabela abaixo:

Iteração
1121.5−0.125
21.521.751.6093750
31.51.751.6250.6660156
41.51.6251.56250.2521973
51.51.56251.53125000.0591125
61.51.53125001.5156250−0.0340538
71.51562501.53125001.52343750.0122504
81.51562501.52343751.5195313−0.0109712
91.51953131.52343751.52148440.0006222
101.51953131.52148441.5205078−0.0051789
111.52050781.52148441.5209961−0.0022794
121.52099611.52148441.5212402−0.0008289
131.52124021.52148441.5213623−0.0001034
141.52136231.52148441.52142330.0002594
151.52136231.52142331.52139280.0000780

Como podemos ver, a partir da 13º iteração o valor de já tem 4 dígitos significativos corretos.

Ver também

Referências

  1. «Bissecção». Dicionário Online Priberam. Consultado em 17 de novembro de 2021
  2. Burden, Richard (2008). Análise Numérica - Tradução da 8ª Edição Norte-Americana. [S.l.: s.n.] ISBN 9788522106011
  3. Burden & Faires 1985, p. 31
  4. Burden & Faires 1985, p. 28
  5. «Dichotomy method - Encyclopedia of Mathematics». www.encyclopediaofmath.org. Consultado em 21 de dezembro de 2015
  6. Francisco Satuf. «"Método da Bisseção"» (PDF). Consultado em 2 de outubro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 5 de outubro de 2013
  7. Burden & Faires 1985, p. 31, Theorem 2.1
  • Burden, Richard L.; Faires, J. Douglas (1985), «2.1 The Bisection Algorithm», Numerical Analysis, ISBN 0-87150-857-5 3rd ed. , PWS Publishers
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