Massacre dos Genoveses

O Massacre dos Genoveses foi um confronto armado ocorrido em setembro de 1303 em Constantinopla entre a colônia de mercadores genoveses residentes na cidade e as tropas almogávares da Companhia Catalã do Oriente. Apesar de as fontes divergirem sobre como e quem provocou o confronto, há unanimidade em relação ao resultado: os almogávares massacraram cerca de 3 000 genoveses[1] [2] [3]

A Torre de Gálata, reconstruída pelos genoveses em 1348, sobressai na antiga colônia comercial genovesa de Pera situada em frente a Constantinopla propriamente dita

Antecedentes

Para fazer face à expansão dos turcos, o imperador bizantino Andrônico II Paleólogo contratou os serviços da Companhia Catalã do Oriente, que chegou a Constantinopla em setembro de 1303. A chegada deste novo contingente mercenário catalão e aragonês provocou uma convulsão no equilíbrio de interesses e de poder que sustinham o império Bizantino; em especial irritou os Genoveses, que viram a chegada da Companhia Catalã do Oriente como uma intromissão da Casa de Aragão na área de influência da República de Gênova: o Mediterrâneo Oriental e o império Bizantino.

Por parte de Aragoneses e Catalães, em especial destes últimos, a rivalidade com a República de Gênova fora-se agravando paulatinamente. Apesar de a Coroa de Aragão ter praticamente conseguido expulsar a República de Gênova do Mediterrâneo Oriental e consolidar a sua hegemonia político-militar e comercial, as tensões entre Catalães e Genoveses eram constantes, até o ponto de os Catalães desprezar os Genoveses com o insulto de: "Genoveses, os Mouros brancos". Neste contexto de tensão, a presença de Catalães e Genoveses, juntos numa mesma cidade, derivou depressa num confronto armado.

Versões sobre a origem do confronto

Versão de Ramon Muntaner

Ver artigo principal: Crônica de Muntaner

Ramon Muntaner não explicita como se iniciaram os confrontos, mas atribuiu a responsabilidade aos Genoveses e à sua soberba por se terem concentrado frente do palácio de Blaquerna agitando a bandeira da República de Gênova enquanto se celebrava a festa pelo casamento de Rogério de Flor com Maria Asanina (filha de João Asen III da Bulgária)[4].

Versão de Paquimeres

Jorge Paquimeres afirma que a origem da disputa foi uma dívida de 20 000 ducados que Rogério de Flor contraíra com os Genoveses na época da Guerra de Sicília e que nunca saldara. Isto teria provocado a sua indignação e levá-los-ia a se concentrarem frente do palácio de Blaquerna durante a festa do casamento.

Versão de Francesc de Montcada

Francesc de Montcada i de Montcada afirma que o confronto se originou quando, ao verem um almogávar que passeava só por Constantinopla, dois Genoveses burlaram-se devido à sua vestimenta e figura. O almogávar respondeu à ofensa verbal com violência, e não duvidou em tirar a espada e atacar os Genoveses. A partir deste momento começaram os confrontos.

A batalha

Os Genoveses apresentaram-se frente do Palácio de Blaquerna em formação e agitando a bandeira da República de Gênova durante a festa de casamento de Rogério de Flor. Os quartéis das tropas almogávares encontravam-se perto do palácio e, sem nenhuma indicação por parte dos oficiais, as tropas almogávares e os marinheiros da companhia saíram armados dos quartéis portando uma bandeira do Rei de Aragão[3]. Primeiramente, começaram a bater todos os setores que rodeavam o complexo palaciano e, assegurado o perímetro, concentraram-se frente da formação dos Genoveses. [5]

O Palácio de Blaquerna a norte de Constantinopla e a colônia genovesa de Pera na outra margem do estuário.

Ainda com a presença das tropas almogávares, os Genoveses, liderados por Russo de Finar, persistiram na sua atitude hostil e desafiante, confiados em que o seu grande número dissuadiria os Almogávares. Neste momento chegaram 30 escudeiros com os cavalos armados, pois os cavaleiros da Companhia encontravam-se com o restante da aristocracia bizantina celebrando o casamento de Rogério de Flor. Finalmente, os escudeiros brocaram os cavalos e investiram contra a multidão de Genoveses pelo centro, onde se encontrava Russo de Finar agitando a bandeira de Gênova. A carga dos escudeiros quebrou a formação genovesa; depois, os Almogávares iniciaram a ofensiva penetrando no meio da formação. A partir daquele momento o pânico estendeu-se entre os Genoveses, e os Catalães dedicaram-se a exterminar [5] e degolar[2] todos os Genoveses que encontravam.

Finalmente, os que se encontravam no Palácio deram-se conta do que estava ocorrendo. Apesar de que o imperador Andrônico II Paleólogo, que se encontrava com Rogério de Flor, afirmou que se alegrava de que os Genoveses topassem com quem humilhasse o seu orgulho, ordenou ao grande drungário, Estêvão Marzala, que parasse a matança de Genoveses e impedisse aos Almogávares cruzar o estuário, para evitar que alcançassem a colônia comercial genovesa de Pera. Contudo, os esforços bizantinos para parar a carniçaria foram em vão, e Estêvão Marzala também foi assassinado e o seu cadáver foi trociscado pelos Almogávares. [2]

Então, o confronto com os Genoveses derivara numa caçada, e o perigo de que os Almogávares se lançassem sobre colônia comercial genovesa de Pera era iminente. O imperador Andrônico II Paleólogo suplicou a Rogério de Flor que parasse a almogavaria e este ordenou a todos os cavaleiros e rico-homens da Companhia que se alinhassem. Finalmente, Rogério de Flor e os cavaleiros conseguiram parar os Almogávares e estes voltaram para os quartéis militares do Palácio de Blaquerna. O massacre dos genoveses de Constantinopla terminou com um balanço de 3000 mortos.

Consequências

Expansão comercial da República de Gênova.

O confronto com os Genoveses deixara claro que a Companhia Catalã do Oriente não era uma simples companhia de mercenários como outras que serviram ao império Bizantino, senão, apesar de se tratar efetivamente de mercenários, consideravam-se uma unidade militar politizada, onde residia a honra da Casa de Aragão. A política agressiva e expansionista que a Coroa de Aragão tinha imposto no Mediterrâneo Ocidental, rivalizando com a República de Gênova, transladava-se agora ao Mediterrâneo Oriental.

Por outro lado, o confronto com uns teóricos aliados, ambos na luta contra a invasão dos Otomanos, deixava uma ferida difícil de cicatrizar. Durante o seu reinado, o imperador bizantino Andrônico II Paleólogo aplicara uma drástica redução da despesa pública destinada a fins militares, e a frota bizantina ficara reduzida à mínima expressão. A consequência disto, as munições, o translado de tropas e o envio de fornecimentos ficariam sob domínio dos Genoveses. Além disso, o poder da República de Gênova no Mediterrâneo Oriental era enorme[5], com colônias comerciais e presídios repartidos por toda Grécia, o Ponto e Palestina.

Rogério de Flor tentou compensar parcialmente este desequilíbrio. Durante o massacre também resultara morto Estêvão Marzala, o grande drungário, que era o almirante da frota bizantina e, portanto, subalterno direto do mega-duque, cargo ocupado pelo mesmo Rogério de Flor. Isto ofereceu a este a possibilidade de situar um homem da sua máxima confiança e pressionou o Imperador bizantino para que aceitasse a nomeação de Ferrando de Ahones como novo grande drungário da frota. Assim Rogério de Flor assegurou-se de que, quando a Companhia se internasse em território inimigo, teria a garantia de contar sempre com o apoio da frota, ou ao menos de uma parte dela, para os socorrer no que fosse preciso, quer se tratasse de evacuá-los, de lhes trazer reforços, ou de aprovisioná-los com fornecimentos. Novamente o peso político e militar de Rogério de Flor dentro do império Bizantino acrescentava-se, conseguindo tornar-se não apenas em parente direto do imperador bizantino, amparado por um cargo de dignidade imperial, mas agora conseguia, além disso, o controlo da frota bizantina.

Notas e referências

  1. Desconhece-se a fonte na qual Ramon Muntaner se baseou para os números, mas as suas estimativas são sempre muito desproporcionadas em favor da Companhia
  2. Montcada, cap. VIII
  3. Muntaner, cap. 202
  4. Пламен Павлов - Бунтари и авантюристи в средновековна България
  5. Sáez Abad, cap. 4

Bibliografia

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