Morus nigra

A Morus nigra[1], commumente conhecida como amoreira-negra[2], é uma da espécie de árvore da família das Moráceas, que produz frutos comestíveis, de coloração vermelho-escura, que dão pelos nomes comuns de amora-preta[3], amora-miúra[4] e amora-da-horta[5], e cujas folhas amiúde se destinam à alimentação do bicho-da-seda.[6]

Morus nigra

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Angiosperma
Classe: Eudicotiledôneas
Ordem: Rosales
Família: Moraceae
Género: Morus
Espécie: M. nigra
Nome binomial
Morus nigra
L.

Trata-se de uma espécie pertencente ao tipo fisionómico das megafanerófitas. [7]

Descrição

A amoreira-preta trata-se de uma árvore de folha caduca e casca rugosa, que pode ascender a alturas que rondam os 12 e os 15 metros.[8]

Tem folhas alternas, que quanto à forma podem ser ovadas a cordiformes acuminadas, exibindo margens duplamente dentadas[9]. No que toca à coloração, mostram-se verde-prásinas na página superior e de coloração mais clara na página inferior, no Outono amarelecem.[10] Quanto à textura, são ásperas na página superior, ao passo que na inferior já são mais pubescentes e sedosas.[11]

A copa desta árvore pauta-se pela sua grande densa e ramificação, podendo alcançar diâmetros com amplexos de dez metros.[10] Ao passo que os ramos mais jovens exibem uma casca lisa, à medida que a planta vai envelhecendo, tanto os ramos como o próprio tronco vão adquirindo uma casca rugosa e fendida.[9]

As inflorescências são cilíndricas, com amentilhos masculinos de maiores dimensões do que os femininos. É uma espécie monoica, pelo que cada espécime conta com órgãos sexuais dos 2 sexos.[10] A floração dá-se entre Março e Maio[7].

As flores apresentam uma coloração verde-clara e pendem de pedúnculos curtos.[9] As flores distinguem-se, ainda, consoante o sexo, assim, as flores femininas, por sinal, mais curtas, têm um formato que vai do arredondado ao ovóide, ao passo que as flores masculinos se afiguram em espigas compridas e grossas.[10]

As amoras-da-horta afiguram-se como uma infrutescência[9], isto é, trata-se de um conglomerado de pequenos frutos (bagas) assentes num eixo central carnudo, a que se dá o nome de sorose[12]. As amoras-miúras costumam ter um formato oblongado e medem entre dois a dois centímetros e meio de comprimento.[8] No que respeita à coloração, estas amoras mostram-se citeriormente de uma tonalidade púrpura e ulteriormente vermelho-escura, quando já estão mais maduras.[10] Quando ainda estão verdes, estas amoras têm um sabor muito ácido, pelo que só adocicam quando amadurecem. As amoras-pretas têm um paladar mais doce do que as amoras-brancas.[13]

A frutificação ocorre de maio a agosto.[8]

As sementes germinam ao fim de 2 ou 3 meses de estratificação fria, geralmente no advento da Primavera.[14] Sendo certo que há casos em que pode demorar um ano inteiro, se as condições propícias à germinação não se verificarem.[11]

Origem e ecologia

Esta espécie é originária das regiões temperadas da Ásia Menor.[7] Foi introduzida na bacia mediterrânica pelo menos desde o séc. XIV.[15]

Não é uma espécie espontânea em Portugal, embora esteja presente no país, tanto no continente como no arquipélago da Madeira, como árvore cultivada e ornamental.[9]

Trata-se de uma espécie ruderal[7], que medra nas cercanias de zonas de habitadas e nas orlas de caminhos.[10] Privilegia solos húmidos, profundos, resguardados da luz solar intensa e ricos em matéria orgânica.[16]

Usos

Além de ser usada como árvore ornamental, também cumpre finalidades alimentares, mercê das amoras doces que produz, bem como tem uma utilidade magistral na alimentação e criação dos bichos-da-seda.[10][6]

Com efeito, no foral de Ervededo, em 1233, D. Silvestre, a fim de proteger a nascente cultura do bicho-da-seda em Portugal, proibiu os habitantes da localidade de vender as folhas das amoreiras (preta e branca), por ser esta a fonte principal da alimentação do referido insecto sedígero. [17] Na mesma toada, em 1802, a Real Companhia do Novo Estabelecimento para as Fiações e Torcidos de Seda envidou esforços pela promoção do cultivo das amoreiras em Portugal, tendo em vista a dinamização da cultura do bicho-da-seda e da produção de seda.[18][6]

Há diversas partes desta planta que têm propriedades medicinais, que foram aproveitadas para a confecção de mezinhas, no ensejo da medicina folclórica tradicional.[14] As folhas têm propriedades adstringentes e diaforéticas, tendo sido usadas, quando secas, para fazer infusões.[15] Chegaram a ser feitas tinturas com a casca grossa do tronco desta árvore, para fazer preparos contra a dor de dentes.[14] A casca da raiz, por seu turno, foi usada no passado como agente antitússico.[16]

Legislação

Portugal

O concelho do Fundão classificou a espécie Morus nigra L como «arvoredo de interesse público».[19] Tendo sido proferido despacho do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em 2020, por molde a conferir paládio legal ao exemplar do século XVIII, que situa na vila de Atalia do Campo, o qual se reveste de singular importância histórica, porquanto assinala o local em que as tropas do 1.º regimento de cavalaria de Castelo Branco montaram emboscada às tropas francesas do general Junot, em 1810, aquando das invasões napoleónicas.[19]

Brasil

O município de Curitiba define a Morus nigra, através de seu Decreto 473/2008[20], como espécie exótica invasora. Tal caracterização enquadra a espécie como introduzida, cuja dispersão ameaça ecossistemas, habitats ou espécies. Com base no decreto o município desenvolve o programa Biocidade[21] visando o controle e substituição desta e de outras seis espécies por espécies nativas adequadas.

Mitologia

Na mitologia grega, o mito de Píramo e Tisbe, serve de conto etiológico da origem da amoreira-negra.[10] Na antiguidade clássica, esta árvore era consagrada ao culto da deusa Atena.[15]

Bibliografia

CORRÊA, M. P. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil. IBDF. 1984.

Lorenzi, H.; Bacher, L.; Lacerda, M. e Sartori, S.: Frutas brasileiras e exóticas cultivadas (de consumo in natura). Instituto Plantarum, 2006.

Referências

  1. http://www.efloras.org/florataxon.aspx?flora_id=2&taxon_id=220008839
  2. Infopédia. «amoreira-preta | Definição ou significado de amoreira-preta no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2021
  3. Infopédia. «amora-preta | Definição ou significado de amora-preta no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2021
  4. Infopédia. «amora-miúra | Definição ou significado de amora-miúra no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2021
  5. «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 24 de julho de 2021
  6. Sanchez, Manuel D.; Nations, Food and Agriculture Organization of the United (2002). Mulberry for Animal Production: Proceedings of an Electronic Conference Carried Out Between May and August 2000 (em inglês). [S.l.]: Food & Agriculture Org.
  7. «Morus nigra». Jardim Botânico Utad. Consultado em 27 de junho de 2021
  8. «Plantas». www3.uma.pt. Consultado em 24 de julho de 2021
  9. Freitas, F. (2013). Plantas e seus usos tradicionais (PDF). Freguesia Fajã da Ovelha: Parque Natural da Madeira. p. 35. 200 páginas. ISBN 978-989-95497-9-1
  10. «Amoreira-preta». Jardim Gulbenkian. Consultado em 24 de julho de 2021
  11. Press, J. R; Short, M. J; Natural History Museum (London) (2016). Flora of Madeira (em English). [S.l.: s.n.] OCLC 1056969477
  12. Infopédia. «sorose | Definição ou significado de sorose no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2021
  13. CORRÊA, M. P. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil. IBDF. 1984.
  14. «Morus nigra Black Mulberry PFAF Plant Database». pfaf.org. Consultado em 24 de julho de 2021
  15. Kristbergsson, Kristberg; Otles, Semih (18 de abril de 2016). Functional Properties of Traditional Foods (em inglês). [S.l.]: Springer
  16. «Morus nigra Black Mulberry PFAF Plant Database». pfaf.org. Consultado em 24 de julho de 2021
  17. Sequeira, Joana (1 de dezembro de 2014). O Pano da Terra: Produção têxtil em Portugal nos finais da Idade Média. [S.l.]: U. Porto Edições - Universidade do Porto
  18. «História da Seda». braganca. Consultado em 24 de julho de 2021
  19. «Despacho (extrato) 5926/2020, 2020-05-29». Diário da República Eletrónico. Consultado em 24 de julho de 2021
  20. CURITIBA. «Decreto 473» (PDF). Prefeitura Municipal de Curitiba. Consultado em 25 de março de 2020
  21. http://www.biocidade.curitiba.pr.gov.br/. «Biocidade». http://www.biocidade.curitiba.pr.gov.br/
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