Canal de Naravã

Naravã (em árabe: النهروان‎; romaniz.:Nahrawan) foi um grande sistema de irrigação dos períodos sassânida e islâmico inicial na Iraque Central, junto a margem oriental do Tigre e o curso baixo do rio Diala. Criado no século VI, alcançou seu pico sob o Califado Abássida, quando serviu como principal suprimento de água para a capital abássida de Bagdá, enquanto as regiões irrigadas por ele serviram como celeiro da cidade. Sua destruição e progressivo abandono em meados do século X em diante reflete o declínio do regime abássida.

História

Dracma de Cosroes I (r. 531–579)
Dinar de ouro de Almamune (r. 813–833)

Os primeiros trabalhos de irrigação junto do rio Diala foram realizados no período parta. De fato, pode ser que a parte inferior do Canal de Naravã foi originalmente o curso inferior do Diala. O sistema em larga-escala do canal do começo do período medieval foi criado no reinado do xá sassânida Cosroes I (r. 531–579), que também estabeleceu-o como um distrito administrativo separado chamado "Bazijão de Cosroes" (Bazidjan Khusraw). Um tesouro e fonte foram possivelmente estabelecidos lá.[1]

No começo do período islâmico, a cidade de Jicer Naravã, situada no meio do canal, foi o local duma batalha em 17 de julho de 658 entre o califa ortodoxo Ali (r. 656–661) e os carijitas de Abedalá ibne Uabe. Sob os primeiros califas, e especialmente sob os abássidas que fizeram a vizinha Bagdá sua capital, a rede do canal foi reparada e expandida, alcançando seu pico no século IX e começo do século X. Nos tempos abássidas, a região foi dividida em três distritos tributários, Naravã Superior, Médio e Inferior.[1]

O canal foi violado em 937/938, durante a revolta de Bajecã contra Maomé ibne Raique; o último tentou impedir o avanço de Bajecã de Uacite para Bagdá causando inundações na área entre elas. O movimento mal obstruiu Bajecã, mas conseguiu destruir a agricultura local, até então o celeiro da capital califal.[1] Como Hugh N. Kennedy escreve, "a violação do canal de Naravã foi simplesmente o exemplo mais dramático de um fenômeno muito difundido do período; e foi simbólico para o fim do 'poder abássida, assim como a violação da Represa de Maribe foi do fim da prosperidade da Sul da Arábia pré-islâmica".[2]

O Naravã Inferior e Médio foram inteiramente abandonados por quase 14 anos, até os buídas sob Muiz Adaulá (r. 945–967) restaurou o canal. No entanto, a rede do canal continuou a ser declinar dai por diante. Tão tarde quanto 1140, o governador seljúcida Biruz tentou restaurá-lo, mas de acordo com o estudioso do século XIII Iacute de Hama, lutas internas entre os seljúcidas mais uma vez significaram a negligência do canal, e seu uso como uma estrada por tropas deles agravou a destruição da rede. Pelo tempo de Iacute, a rede do canal tinha amplamente assoreado e o país em torno dele foi abandonado.[1][3]

Perfil

O leito seco do Canal de Naravã perto de Samarra, fotografado por Gertrude Bell em 1909
Mapa do Iraque abássida, com o Canal de Naravã balizado

Nos tempos islâmicos, o canal principal foi dividido em três seções, descritos em detalhe pelo geógrafo do século XIII Iacute de Hama, em seu Dicionário de países (Mu'jam Al-Buldan). O alimentador inicial do canal que drenou água do Tigre em Dural Arabaia (Dur da Arábia), próximo de Samarra, e transportou-a ao Diala em Bacuba (Ba'quba) foi chamado al-katul al-Kisrawi ("A fatia de Cosroes"). Durante seu curso, foi reunido por três canais menores provenientes do Tigre, o Iudi ("dos Judeus"), o Almamuni, nomeado em honra ao califa Almamune (r. 813–833), e o maior deles, o Abul Junde ("arca do guerreiro"), construído sob Harune Arraxide (r. 786–809).[4]

Cerca de 20 km ao sul do afluxo do Abul-Junde ficava a cidade de Basalva, e um pouco adiante Bacuba, a capital do distrito Naravã Superior, cerca de 50 km a norte-nordeste de Bagdá. De lá, o canal principal, agora conhecido como Tamarra, virou para sul às cidades de Bajicera (originalmente Baital Jicer (Bayt al-Jisr), "casa-ponte") e finalmente Jicer Naravã, de onde foi conhecido como o próprio Naravã. De Bajicera um canal, o Naral Calis (Nahr al-Khalis), conectou o canal principal com o Tigre em Baradã e supriu os subúrbios orientais de Bagdá com água, enquanto outro, o Narbin, conectou Jicer Naravã com Calvada (Kalwadha).[5]

Logo ao sul de Jicer Naravã, havia outro canal, o canal Diala - o atual curso do rio homônimo - que juntou-se ao Tigre cerca de 5 km ao sul de Bagdá.[5] Jicer Naravã foi um lugar rico, devido uma estrada conectando Bagdá com Coração e que cruzou o canal. Descrições sobreviventes registram que foi estendido em ambos os lados do canal, cada com suas próprias mesquitas, mercados e hotéis para viajantes e peregrinos. Foi abandonado pelo século XIV, quando a estrada para Coração foi desviada para norte, através de Bacuba.[6]

Abaixo de Jicer Naravã uma represa sassânida (Xadurvã [Shadhurwan]) seguiu pelas cidades de Jicer Buram/Puram (nomeadas em honra a mulher de Almamune), Iarzátia (Yarzatiya), outra represa chamada Abarta, e a cidade de Iscafe Bani Junaide, dividida pelo canal em cidades superior e inferior.[7] De Iscafe, o canal foi seguiu em frente por outros 100 km em meio a uma paisagem fortemente cultivada para juntar-se ao Tigre em Madaraia (Madharaya), próximo da moderna Kut.[1][8]

Referências

  1. Morony 1993, p. 912–913.
  2. Kennedy 2004, p. 197.
  3. Le Strange 1905, p. 59–60.
  4. Le Strange 1905, p. 57–58.
  5. Le Strange 1905, p. 58.
  6. Le Strange 1905, p. 61.
  7. Le Strange 1905, p. 59.
  8. Le Strange 1905, p. 60.

Bibliografia

  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4
  • Le Strange, Guy (1905). The Lands of the Eastern Caliphate: Mesopotamia, Persia, and Central Asia, from the Moslem Conquest to the Time of Timur. Nova Iorque: Barnes & Noble, Inc. OCLC 1044046
  • Morony, Michael G. (1993). «al-Nahrawān». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume VII: Mif–Naz. Leida e Nova Iorque: BRILL. ISBN 90-04-09419-9
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