Numeração babilônia
Os numerais babilônicos eram representados com a escrita cuneiforme, usando objetos como penas em forma de cunha para marcar tábuas de argila ainda moles que depois eram expostas à luz solar para que tivessem um registro permanente.

Os Babilônios, tão conhecidos por suas antigas observações e cálculos astronômicos, feitos com ábacos, uma invenção do mesmo povo, usavam um sistema de numeração herdado das civilizações Sumérios e acadianos. Para basicamente todos os textos, era utilizado um sistema não-posicional e decimal, um sistema comum multiplicativo. Para alguns trabalhos matemáticos e astronômicos, era utilizado um sistema posicional de base 60.
Formação dos algarismos
Somente dois símbolos básicos, o (
para as unidade e o
para as dezenas eram combinados para formar os dígitos de 1 a 59 numa forma semelhante à da numeração romana. Por exemplo, a combinação ![]()
representava o dígito 23.[1]
Sistema posicional
Foi o primeiro sistema posicional, ou seja, um sistema em que o valor de um número depende não só do seu valor intrínseco do seu símbolo, mas da sua posição relativa a outros símbolos. Por exemplo, o 3 em 32 e em 63 possui valores diferentes, mesmo sendo utilizado o mesmo símbolo. O sistema posicional babilônico provavelmente se desenvolveu por volta de 2000 AC, no período neo-sumério. A formação dos algarismos tinha um padrão decimal. Entretanto, o sistema era de base 60, pois os valores das casas posicionais eram potências de 60.[2]
Porém, esse sistema era de uso restrito a alguns contextos matemáticos e astronômicos e foi utilizado durante um período muito mais curto do que um sistema mais comumente utilizado na Babilônia, que não era posicional. O sistema posicional de base 60 servia principalmente para facilitar alguns cálculos.[2]
Era possível representar frações com as potências fracionárias de 60 (à direita da casa das unidades), porém não havia um símbolo como separador decimal (como a vírgula que utilizamos). Além disso, não havia símbolo para zero, usando-se um espaço no lugar, mas espaços nem sempre eram fáceis de identificar. Um contexto que facilitava a interpretação era quando, em uma tábula, o escritor alinhava as casas posicionais dos números. Assim, esse sistema era consideravelmente ambíguo, e não se era possível descobrir, com certeza, o valor de um número, devido à falta de um separador decimal e de um símbolo para o zero.[2]
Posteriormente, começou a ser introduzido um símbolo (
) para indicar a ausência de um número em uma posição. Os babilônicos não desenvolveram a ideia do zero como um número. Este símbolo poderia indicar a ausência de numeral em uma posição intermediária, por exemplo para diferenciar ![]()
![]()
(1×3600 + 0 + 20 = 3620) de ![]()
(1×60 + 20 = 80). Também era utilizado no início dos números para indicar um valor fracionário, ou seja, para indicar a ausência de unidades. Entretanto, ele poderia também ser utilizado simplesmente para marcar uma separação entre casas decimais, mas sem indicar ausência de número. Por exemplo, poderia se escrever ![]()
![]()
para 1207 (20×60 + 7), apenas para não confundir com o algarismo das unidades 27. Perceba que o 0 não indica ausência de númeo na casa do 60 (fazendo com que o 20 estivesse na casa do 602), ele apenas indica, neste caso, uma separação clara entre a casa do 60 e das unidades.[2]
Uma teoria para a escolha do uso do sessenta é de que este foi escolhido por ser um número altamente composto (também chamados de anti-primos), ou seja, possui a maior quantidade de divisores de todos os números naturais de 1 até ele mesmo. Além disso, é o menor natural divisível por 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
Repercussões
O sistema posicional babilônico era restrito a um grupo social extremamente pequeno, apenas matemáticos e astrônomos, enquanto mercadores e administradores não tinham conhecimento do seu uso. O sistema não se difundiu para outros povos do Oriente Médio, e não sobreviveriam o suficiente para ser influência dos numerais posicionais indianos. Posteriormente, os gregos fundiriam seu sistema numérico alfabético com o sistema posicional babilônico apenas para representar frações em contextos matemáticos e astronômicos, e foi o que influenciou a divisão sexagesimal do círculo por Erastótenes, embora ele não utilizasse o sistema posicional sexagesimal para representar frações.[2]
O legado sexagesimal babilônio ainda deixa vestígios até hoje, na forma dos graus de uma circunferência (360º), do ângulo interno de um triângulo equilátero (60º) e das subdivisões da trigonometria e da medição de tempo: 60 minutos em um grau ou numa hora, os 60 segundos num minuto (ângulo ou tempo), embora nesses caso haja bases misturadas.[carece de fontes]
Sistema comum
Embora o sistema de base 60 seja o mais famoso na atualidade, não era o sistema mais comum. O sistema babilônico comum, partilhado com os assírios, teve seu uso no início por cerca de 2000 AC e perdurou por mais de 1500 anos. Todos os textos administrativos, comerciais, literários e religiosos dos babilônicos e assírios eram escritos com esses numerais. Foi o sistema utilizado pelos babilônicos e pelos assírios até a conquista da Babilônia.[1]
Os algarismos são formados como no sistema anterior, porém o algarismo 60 era representado ou por seis repetições do símbolo 10 ou com uma palavra específica. O número 60 era apenas representado por um traço (como se fosse o sistema sexagesimal) para representar, em conjunto com os símbolos de 1 e 10, os números de 70 a 99. Para números acima de 100, era utilizada uma multiplicação com o 100. Para o 100, utilizava-se o símbolo para a primeira sílaba da palavra para 100 em babilônico (me'at), enquanto que o símbolo para 1000 era a junção do símbolo de 10 e de 100. Dessa forma, era possível representar qualquer número fazendo a justaposição repetidamente dos símbolos de 100 e 1000.[1]
Bibliografia
- Menninger, Karl W. (1969). Number Words and Number Symbols: A Cultural History of Numbers. [S.l.]: MIT Press. ISBN 0-262-13040-8
- McLeish, John (1991). Number: From Ancient Civilisations to the Computer. [S.l.]: HarperCollins. ISBN 0-00-654484-3
- Chrisomalis, Stephen (18 de janeiro de 2010). Numerical Notation: A Comparative History. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-87818-0
Ligações externas
- Numerais Babilônios
- Numeração cuneiforme
- Matemática Babilônia
- Fotos em alta resolução, descrições e análises da tábua da “raiz2” (YBC 7289) da coleção babilônia de Yale
- Fotografia, ilustração e descrição da tábua da “raiz2” da coleção babilônia de Yale
- Babylonian Numerals por Michael Schreiber, Wolfram Demonstrations Project.
- Weisstein, Eric W. «Sexagesimal» (em inglês). MathWorld