O Que Diz Molero

O que diz Molero é um romance da autoria de Dinis Machado publicado pela primeira vez em 1977.

O Que Diz Molero
Autor(es) Dinis Machado
Idioma português
País Portugal Portugal
Editora Bertrand
Formato capa mole
Lançamento 1977
Páginas 182

Recepção

O que diz Molero foi o maior sucesso literário de Dinis Machado, tanto junto da crítica como do público, tendo marcado o reinício de um processo crítico sobre a necessidade de nos interrogarmos acerca da identidade portuguesa, bem como os caminhos possíveis para a convivência de uma pluralidade de formas artísticas.[1] A linguagem coloquial, humorada e inventiva, a que não é alheia uma oralidade popular, tenta cristalizar figuras, lugares e imagens de um quotidiano que parece perdido.[2] Sobre este romance de Dinis Machado, afirmou Eduardo Lourenço, que vê na obra um indício das novas relações entre texto contemporâneo e cultura, ou, pelo menos, um exemplo representativo do relevo assumido por "uma nova cultura" que já não recebe da modelação escolar os seus tópicos decisivos[1] tratar-se «de um livro-chave do nosso tempo». António Mega Ferreira considerou-o o «mais importante texto de ficção que se publicou em Portugal nos últimos anos [...] páginas miraculosamente repletas de sinais da mais bela, inteligente e emocionada escrita produzida por um escritor português na década de 70.» E Luiz Pacheco fala de «uma cavalgada furiosa de episódios, uma feira, um tropel de gente, uma festa popular de malucos e malucas, tudo chalado, uma alegria enorme quase insensata, o sentimento nos momentos doloridos mas tudo tão próximo de nós e tão naturalmente reproduzido na escrita.»[3]

Temática

O que diz Molero conta a história de um rapaz, nunca referido pelo nome próprio, que, depois de ter sobrevivido a todas as aventuras e desventuras de uma infância e adolescência normais a uma criança que vive inserida numa comunidade pobre, enceta uma viagem para procurar compreender quem é e qual o significado da vida. Molero é encarregue por Austin e Mister Deluxe, seus superiores, de se pôr na pele de detective e procurar traçar o itinerário do rapaz. Os relatórios de Molero vão sendo lidos pelos superiores, ponto de partida para a multiplicação de comentários, digressões, histórias contadas pelos interlocutores, por Molero ou pelo rapaz, numa estrutura em mise en abîme através da qual o leitor vai sabendo o que aconteceu ao herói, os vários países por onde foi passando, os livros que foi lendo, as mulheres que foi amando e os amigos que foi fazendo e reencontrando. Pedaços fragmentários de uma vida que nos dão as pistas necessárias para traçar o perfil de alguém que procura um sentido para a existência.[4]

Adaptação teatral

O que diz Molero teve a sua consagração teatral, numa adaptação feita por Nuno Artur Silva, José Pedro Gomes e António Feio, com música original de Nuno Rebelo e cenários e figurinos de António Jorge Gonçalves, tendo subido pela primeira vez ao palco a 27 de Outubro de 1994, na Sala Estúdio Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro do Teatro Nacional D. Maria II. Uma produção que conheceu excelentes críticas e obteve, no ano de estreia, alguns prémios da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro. Tudo na narrativa apontava, com efeito, para a sua encenação: a indeterminação do tempo histórico, a redução do espaço a um cenário onde se situam os interlocutores, o encaixe de narradores (um narrador conta o que duas personagens contam sobre o que Molero conta sobre o que o rapaz conta), a eliminação de capítulos, substituídos por espaços brancos que marcam as pausas da conversa, o facto de todas as personagens só existirem enquanto suportes de um discurso, e o facto eminentemente teatral de o conteúdo de O Que Diz Molero se resumir a palavras ditas, fixadas oralmente num tempo presente ou reportadas a um tempo passado, em discurso directo ou indirecto.[4]

  • O que diz Molero Lisboa: Bertrand (1977); Edição Comemorativa do 30º. Aniversário da Obra; il. de António Jorge Gonçalves, 31ªed. Lisboa: Bertrand, (2007);

Traduções

O romance já foi traduzido para seis idiomas: (alemão, búlgaro, castelhano, romeno, francês e checo).

  • Castelhano - Lo que dice Molero Trad.: Ángel Crespo. Madrid: Alfaguara, (1981)
  • Francês - Ce que dit Molero Trad.: Ingrid Pelletier, Carlos Baptista. Paris: Passage du Nord-Ouest (2002)
  • Romeno - Ce spune Molero Trad.: Micaela Ghitescu. Bucaresti: Humanitas (2006)
  • Checo - Co tvrdí Molero, Trad.: Vlastimil Váně. Dauphin, Praha (2011)

Referências

  1. LOURENÇO, Eduardo - O Canto do Signo, Lisboa, 1994
  2. SEIXO, Maria Alzira e MOURÃO-FERREIRA, David - Portugal, A Terra e o Homem, Antologia de Textos de Escritores do Século XX, II série, FCG, Lisboa, 1980
  3. Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998
  4. EMINESCU, Roxana, Novas coordenadas no romance português
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