Pardela-de-asa-larga

Pardela-de-asa-larga (nome científico: Puffinus lherminieri),[2] pintainho-das-antilhas[3] ou, informalmente, por influência de outras línguas, pardela-de-audubon,[4] é uma espécie de ave procelariforme da família dos procelariídeos (Procellariidae). Sua área de distribuição inclui o Oceano Índico, o nordeste e centro do Oceano Pacífico (incluindo as ilhas Galápagos) e o oeste do Oceano Atlântico, incluindo a região do Mar do Caribe e o Golfo do México.[1]

Pardela-de-asa-larga
Filhote abrigado em seu ninho em Pequena Tobago, Trindade e Tobago
Filhote abrigado em seu ninho em Pequena Tobago, Trindade e Tobago
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Procellariiformes
Família: Procellariidae
Género: Puffinus
Espécie: P. lherminieri
Nome binomial
Puffinus lherminieri
(Lesson, 1839)
Subespécies
Ver texto
Sinónimos
  • Puffinus assimilis lherminieri (Lesson, 1839)
  • Puffinus atrodorsalis (Shirihai, Sinclair and Colston, 1995)
  • Puffinus bailloni (Bonaparte, 1857)
  • Puffinus bannermani (Mathews & Iredale, 1915)
  • Puffinus baroli (Bonaparte, 1857)
  • Puffinus persicus (Hume, 1872)
  • Pufflnus lherminieri (Lesson, 1839 (lapsus))

Descrição

Ilustração de Chester A. Reed

As pardelas-de-asa-larga têm em média 30 centímetros de comprimento - cerca de metade do tamanho da pardela-de-bico-preto (Puffinus gravis) - e pesam por volta de 170 gramas. Há alguma variação entre as diferentes populações, e o tamanho normal e a faixa de peso é de 30 a 33 centímetros e de 150 a 230 gramas. A envergadura é de 64 a 75 centímetros, com uma cauda de cerca de 8,5 centímetros de comprimento. Sua cimeira, exposta, mede três centímetros ou menos, e o tarso tem cerca quatro centímetros de comprimento.[5] Na aparência geral, é uma pequena pardela, preta por cima e branca por baixo e difícil de distinguir de seus parentes à primeira vista.[6]

As partes superiores, retrizes e coberturas inferiores são de cor marrom-escura, assim como as partes inferiores distais das rémiges, e, por vezes, as penas inteiras. O resto das partes inferiores é branco, assim como a cabeça abaixo do nível dos olhos. A sua íris é escura e os pés são rosa-fosco com uma tonalidade preta e unhas pretas,[5] e o bico é cinza, mais escuro na ponta e com um tom rosado. Machos e fêmeas são parecidos entre si. Aves imaturas não têm plumagem distinta, enquanto os filhotes são cobertos de plumas, cinzas acima e esbranquiçadas no ventre. Pode ser confundido com o bobo-pequeno (P. puffinus), que tem coberturas subcaudais brancas e, em comparação direta, um bico mais longo. Outras espécies de aparência semelhante são geralmente completamente alopátricas, embora a pardela-pequena (P. assimilis) possa ocasionalmente atingir águas onde a pardela-de-asa-larga é encontrada. A pardela-pequena tem mais branco na face e na parte inferior das asas, bico menor e pés azul-acinzentados.[6]

Distribuição e ecologia

Se não for dividido em várias espécies, a pardela-de-asa-larga se estendendo Oceano Índico ao norte até o Mar da Arábia, em todo o noroeste e centro do Oceano Pacífico, no Caribe e em partes do Atlântico oriental. É uma espécie de águas tropicais; apenas algumas populações atlânticas e o pintainho-das-bonim (Puffinus bannermani) das ilhas Bonim ocorrem mais ao norte. Ao contrário das pardelas maiores, acredita-se que as pardelas-de-asa-larga adultas não vagam muito ou realizam grandes migrações, embora seus juvenis o façam antes de se reproduzir, e as aves do Oceano Índico ocidental possam se reunir em grande número na zona de ressurgência no Mar Arábico. É adaptável no que diz respeito ao habitat marinho preferido; pode ser encontrado em águas pelágicas, em mar aberto e na costa. Se alimenta por uma variedade de métodos, principalmente mergulhando enquanto voa, mergulhando enquanto nada e pegando comida com o bico na superfície da água enquanto bate as patas como se estivesse andando sobre as ondas. Alimenta-se de pequenos peixes, lulas e crustáceos planctônicos. Ao contrário de outras pardelas, não costuma seguir navios, embora possa frequentar pequenos barcos de pesca; às vezes também é encontrada como parte de um bando de alimentação de espécies mistas.[6]

A espécie é colonial, nidificando em pequenas tocas, fendas nas rochas e encostas de terra em atóis e ilhotas rochosas. A época de reprodução varia de acordo com a localização e a subespécie, mas a precisão não é muito bem estudada.[7] Ambos os pais compartilham a responsabilidade de incubar o ovo branco (que mede 52,5 por 36,2 milímetros e tem um peso de 37 gramas para um indivíduo de tamanho médio[5]). Os pais incubam o ovo por períodos de dois a dez dias cada um até o ovo eclodir após 49-51 dias. Os filhotes são cuidados de meia a uma semana, e após esse tempo os pais os deixam sozinhos na toca e passam a maior parte do tempo forrageando e buscando alimento para os filhotes. O tempo desde a eclosão até a criação é de 62 a 75 dias. As pardelas-de-asa-larga levam cerca de oito anos para atingir a idade reprodutiva. Como típico para aves procellariiformes, têm vida longa para seu tamanho, e um pássaro anilhado como adulto ainda estava vivo onze anos depois; calcula-se que tivesse mais de 15 anos na época.[6] Enquanto algumas pequenas populações estão ameaçadas, a espécie como um todo não é considerada globalmente ameaçada.[1]

Sistemática

A pardela-de-asa-larga pertence ao grupo Puffinus sensu stricto de pardelas de médio e pequeno porte, que está relacionado com o género Calonectris. A taxonomia desta espécie é extremamente confusa. Ocasionalmente é listada como uma subespécie de P. assimilis (a pardela-pequena), mas não parecem estar tão intimamente relacionados. Pelo contrário, P. lherminieri parece pertencer a um clado mal resolvido que inclui também espécies como P. puffinus e P. opisthomelas.[8] A pardela-de-asa-larga tem cerca de 10 subespécies. Diversas delas foram propostas como espécies separadas. Por exemplo, a população das ilhas Galápagos acabou sendo considerada uma espécie muito distinta, a pardela-das-galápagos (P. subalaris), que é relacionada com o fura-bucho-da-kiritimati (P. nativitatis) e junto com ela constitui uma linhagem antiga sem outros parentes próximos no gênero.[9] Outros táxons foram inicialmente atribuídos à pardela-pequena e depois transferidos à pardela-de-asa-larga. A análise de dados da sequência do citocromo b do DNA mitocondrial[10] – de valor limitado em aves procellariiformes[11] – indica que pelo menos três clados principais podem ser distinguidos:

O clado lherminieri (Oceano Atlântico, Caribe)

  • Puffinus lherminieri lherminieri (Lesson, 1839) – procria em todo o Caribe, nas Baamas e procriava nas Bermudas; é encontrada em todo o Caribe e na costa atlântica norte-americana até o sul do Canadá, com migrantes registrados no nordeste do Canadá.[6] Uma pequena colônia de reprodução encontrada em 1993 nas ilhas Itatiaia, ao largo de Vila Velha (Espírito Santo, Brasil) provavelmente pertence a esta subespécie.[5] Inclui loyemilleri.
  • P. baroli (Bonaparte, 1857) – procria nos Açores e Canárias (Atlântico leste); estende-se por todo o Atlântico leste em torno (mas principalmente ao norte) do Trópico de Câncer.[6]
  • Puffinus boydi (Mathews, 1912) – procria nas ilhas do Cabo Verde (atlântico leste); abrange todo o Atlântico leste em torno (mas principalmente ao sul) do Trópico de Câncer.[6]

As aves do sul do Caribe foram separadas como P. l. loyemilleri, mas não são distintas de Puffinus lherminieri lherminieri.[9]

O clado persicus (Oeste do Oceano Índico)

Puffinus lherminieri persicus
  • Puffinus lherminieri persicus (Hume, 1837) – procria nas ilhas de Curia Muria (Mar Arábico); estende-se por todo o Mar Arábico.[6]
  • Puffinus lherminieri temptator (Louette & Herremans, 1985) – procria em Moéli (Comores); é encontrado no oeste do Oceano Índico em torno do extremo norte de Madagascar.[6]

Se P. bailloni for aceito como uma espécie distinta, mas P. persicus não for, então este último grupo teria que ser incluído em P. bailloni.[9]

O clado bailloni (oceanos Índico e Pacífico)

  • Puffinus lherminieri bailloni (Bonaparte, 1857) – procria nas Ilhas Mascarenhas (sudoeste do Oceano Índico); varia ao longo do sudoeste do Oceano Índico ao norte do Trópico de Capricórnio, e pássaros errantes vistos na África do Sul provavelmente pertencem a esta subespécie.[6] Inclui atrodorsalis.
  • Puffinus lherminieri dichrous (Finsch & Hartlaub, 1867) – se reproduz em toda a Polinésia central e possivelmente na Melanésia (Pacífico) e no noroeste do Oceano Índico até o Mar da Arábia; abrange todo o oeste Oceano Índico ao redor do equador, e no Pacífico central da região equatorial ao Trópico de Capricórnio.[6] Inclui colstoni, nicolae, polynesiae e talvez gunax; migrantes vistos ao largo da Austrália podem pertencer a dichrous ou gunax (se válidos), enquanto migrantes registrados em Guam e Rota (Marianas) podem ser dichrous ou bannermani.[12]

Apesar dos problemas não resolvidos, este clado – possivelmente incluindo o anterior – foi proposto para constituir uma espécie separada, a pardela-tropical, Puffinus bailloni.[9]

Indeterminado

  • Puffinus lherminieri bannermani (Mathews & Iredale, 1915) – procria nas ilhas Bonim (noroeste do Pacífico); abrange todo o noroeste do Pacífico, desde as águas japonesas até a região equatorial.[6] Migrantes registrados em Guame e Rota (Marianas) podem ser dichrous ou bannermani.[12]
  • Puffinus lherminieri gunax (Mathews, 1930) – procria nas Ilhas Banks de Vanuatu (sudoeste do Pacífico); abrange todo o sudoeste do Pacífico entre a região equatorial e o Trópico de Capricórnio.[6] Pode pertencer ao grupo dichrous; os migrantes vistos na Austrália podem pertencer a qualquer um dos táxons.

Conservação

No Brasil, em 2005, foi listada como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[13] e em 2014 e 2018, respectivamente, como criticamente em perigo no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.[2][14] A União Internacional para a Conservação da Natureza, em sua Lista Vermelha, classificou a espécie como pouco preocupante, pois tem ampla distribuição geográfica e sua população foi estimada na faixa de 30 e 59 mil indivíduos. Apesa disso, a população de pardelas-de-asa-larga está em tendência de declínio populacional devido à ação de espécies introduzidas.[1]

Referências

  1. BirdLife International (2018). «Puffinus lherminieri». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2018: e.T45959182A132669169. doi:10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T45959182A132669169.enAcessível livremente. Consultado em 27 de abril de 2022
  2. «Puffinus lherminieri Swainson». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 27 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 146. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022
  4. Bernis, F.; De Juana, E.; Del Hoyo, J.; Fernández-Cruz, M.; Ferrer, X.; Sáez-Royuela, R.; Sargatal, J. (1994). «Nombres en castellano de las aves del mundo recomendados por la Sociedad Española de Ornitología (Primera parte: Struthioniformes-Anseriformes)» (PDF). Ardeola. 41 (1): 79-89. Consultado em 27 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de dezembro de 2011
  5. Efe, Márcio Amorim; Musso, Cesar Meyer (2001). «Primeiro registro de Puffinus lherminieri Lesson, 1839 no Brasil [First record of Audubon's Shearwater (Puffinus lherminieri) for Brazil]» (PDF). Nattereria. 2: 21-23. Consultado em 27 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 7 de setembro de 2007
  6. Carboneras, Carles (1992). «69. Audubon's Shearwater». In: del Hoyo, Josep; Elliott, Andrew; Sargatal, Jordi. Handbook of Birds of the World. 1: Ostrich to Ducks). Barcelona: Lynx Edicions. p. 256–257, plate 16. ISBN 84-87334-10-5
  7. A colônia encontrada no sul do Brasil em 1993 incubava em agosto; os jovens deixaram os ninhos em dezembro (Efe & Musso, 2001).
  8. Austin (1996), Heidrich et al. (1998), Austin et al. (2004). Mas veja Penhallurick & Wink (2004) para uma visão alternativa colocando-a mais próxima de P. assimilis, e Rheindt & Austin (2005) para uma crítica dessa análise. Observe que os quatro estudos conflitantes são todos baseados em mtDNA.
  9. Austin et al. (2004)
  10. Austin (1996), Austin et al. (2004)
  11. Rheindt & Austin (2005)
  12. Wiles, Gary J.; Worthington, David J.; Beck, Robert E. Jr.; Pratt, H. Douglas; Aguon, Celestino F.; Pyle, Robert L. (2000). «Noteworthy Bird Records for Micronesia, with a Summary of Raptor Sightings in the Mariana Islands, 1988–1999» (PDF). Micronesica. 32 (2): 257–284. Consultado em 27 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2013
  13. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022
  14. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018

Bibliografia

Leitura complementar

  • Bull, John L.; Farrand, John Jr.; Rayfield, Susan; National Audubon Society (1984) [1977]. The Audubon Society field guide to North American birds, Eastern Region. Nova Iorque: Alfred A. Knopf. ISBN 0-394-41405-5
  • Vaurie, C. (1965). The Birds of the Palearctic Fauna. 1 - Non-Passeriformes. Londres: Witherby
  • «Pintainho». Atlas das Aves Marinhas de Portugal
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