Pax deorum

Pax deorum (em português: "paz dos deuses") ou pax divom (em português: "paz divina") [1] é uma expressão em língua latina que corresponde a um conceito fundamental do sistema jurídico-religioso romano. Refere-se a uma situação de concórdia entre os homens e os deuses, equivalente a um pacto entre o divino e o humano, sendo indispensável à segurança do Estado.

Trata-se de um conceito central para a compreensão das relações entre política e religião no interior do Estado romano, por um lado, e entre a religião romana e outras religiões, de outro. A antiquidade desse conceito é atestada, seja por sua presença, já em Plauto,[2] seja por sua recorrente expressão nas fórmulas arcaicas de pax divom e pax deum que antecederam a forma clássica pax deorum. Juntamente com sua antítese, ira deorum ("ira dos deuses"), a pax deorum liga-se à ideia arcaica de que entre homens e deuses existisse uma relação insondável, razão pela qual o homem poderia incorrer, não obstante a sua boa-fé, na ira das divindades, muitas vezes apenas em razão de imprecisões na execução dos ritos (religio). Um erro no ritual (vitium) ou a negligência nas práticas religiosas teria como consequência a desarmonia entre os homens e a divindade, podendo atrair a ira deorum.

Somente em uma condição de pax deorum, os deuses, gratificados pelo respeito e pela reverência dos homens, garantiriam saúde, prosperidade e, em caso de guerra, proteção a Roma e a seus cidadãos. Qualquer ruptura dessa relação, acreditava-se, seria seguida de doenças, desventuras e derrotas.[1]

É importante observar que a pax deorum também estava ligada à concordia civium (concórdia civil), isto é, à harmonia no interior da sociedade, entre as várias classes sociais. A função de manter a pax deorum no interior da sociedade era confiada ao Colégio dos Pontífices, que frequentemente auxiliava o rex - o supremo magistrado que governava Roma - em suas escolhas.

Qualquer delito cometido por um cives, acreditava-se, também causaria grave ofensa aos deuses, provocando sua ira, a qual atingiria toda a comunidade. Para evitar a reação divina, era absolutamente necessário eliminar o culpado ou, nos casos menos graves, sacrificar um animal à divindade, a título de expiação. Posteriormente, no período clássico, o culpado era declarado sacer, sendo abandonado pela comunidade e ficando à mercê do julgamento dos deuses. Se, eventualmente, esse indivíduo fosse assassinado por um cidadão, a este não poderia ser atribuído um homicídio, considerando-se que a morte do Homo sacer fora uma decisão da própria divindade, apenas cumprida por um outro homem.

Referências

  1. (em italiano) La pax deorum dall'età arcaica all'Editto di Costantino. Por Mariapina Dragonetti. Zetesis, 1993-1.
  2. Plauto, Mercator 678; Lutécio, De rerum natura V, 1227; Lívio, III 5, 14.

Bibliografia

  • W. W. Skeat. Etymological Dictionary of the English Language s.v. peace, pact (em inglês)
This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.