Propulsão Alcubierre

A Propulsão de Alcubierre (ou Dobra espacial) é um modelo matemático teórico para uma forma de viagem espacial mais rápida que a luz, utilizada na série de ficção científica Jornada nas Estrelas (Brasil) ou Caminho das Estrelas (Portugal).

Conceito da Propulsão de Alcubierre, mostrando as regiões de expansão e contração do espaco-tempo em torno da região central

Em 1994, o físico mexicano Miguel Alcubierre propôs um método de alongamento do espaço em uma onda que, em teoria, poderia fazer com que o tecido do espaço à frente de uma nave espacial se contraia, enquanto que o tecido que está atrás da nave se expanda.[1] A nave se deslocaria surfando esta onda dentro de uma região conhecida como bolha de dobra, onde as características normais do tecido espaço-tempo se manteriam inalteradas. Uma vez que a nave não estaria se movendo dentro desta bolha, mas transportada junto com ela, os efeitos de dilatação do tempo previstos pela Teoria da Relatividade Especial não se aplicariam à nave, mesmo com a altíssima velocidade de deslocamento em relação ao espaço normal em volta da nave. Além disso, esse método de viagem não implica realmente deslocar-se mais rápido que a luz, uma vez que no interior da bolha, a luz continuaria a ser mais rápida que a nave.

Assim, a Propulsão Alcubierre não contradiz a alegação tradicional da relatividade que proíbe que um objeto com massa seja mais rápido que a luz. No entanto, não se conhecem métodos para criar uma bolha de dobra em uma região do espaço, ou de deixar a bolha, uma vez lá dentro, de modo a Propulsão Alcubierre continua a ser um conceito teórico.

Medida alcubierre

A Medida alcubierre define a chamada propulsão de dobra espacial. Esta é um tubo de Lorentzian que, se interpretada no contexto da relatividade geral, apresenta características parecidas com a dobra espacial de Jornada nas Estrelas: uma bolha de dobra aparece no anteriormente plano tecido do espaço-tempo e se move a velocidade superluminal de forma efetiva. Os habitantes da bolha não sentem efeitos inerciais. Os objetos dentro da bolha não viajam (localmente) mais rápida do que a luz, em vez disso, o espaço à sua volta se move para que os objetos cheguem ao seu destino mais rápido do a luz viajaria, caso a viagem se fizesse em espaço normal.[2]

Alcubierre escolheu uma forma específica para a função , mas outras formas podem exibir de forma mais clara e simples os efeitos da Propulsão de Dobra. Além disso, Alexey Bobrick e Gianni Martire afirmam que, em princípio, uma classe de dobras subluminais e esféricas podem ser construídas com base em princípios físicos atualmente conhecidos da humanidade, como a energia positiva.[3]

Matemática por trás da propulsão Alcubierre

Utilizando o formalismo 3+1 da relatividade geral, o espaço-tempo é descrito por uma foliação de uma hipersuperfície com coordenada de tempo constante. A forma geral da medida de Alcubierre é:

onde é a função que dá o intervalo de tempo adequado entre hipersuperfícies próximas, é o vetor que relaciona o deslocamento espacial em diferentes sistemas de coordenadas e hipersuperfícies e é uma métrica positiva definida em cada uma das hipersuperfícies. A forma particular do estudo de Alcubierre[1] é definida da seguinte forma:

onde

e

com e são parâmetros arbitrários. Dessa forma, o formato específico da medida de Alcubierre pode ser escrita da seguinte forma:

Com esta forma particular da medida, é possível provar que a densidade energética medida por observadores cuja velocidade é a normal à das hipersuperfícies é dada por

onde é o determinante para a medida tensor. Assim, como a densidade de energia necessária é negativa, é necessário um tipo de matéria exótica para que a viagem mais rápida que a luz possa ser alcançada.[1] A existência de matéria exótica não é teoricamente excluída, o efeito Casimir e a aceleração do Universo são indícios que apoiam a existência de tal tipo de matéria.

De qualquer forma, tudo indica que a geração e a sustentação da quantidade necessária de matéria exótica para esse tipo de viagem mais rápido que a luz é impraticável.

Alguns tem argumentado que, no contexto da relatividade geral, seria impossível construir um motor de dobra espacial sem que seja utilizada alguma matéria exótica.[4] Geralmente acredita-se que uma teoria quântica da gravidade poderá resolver esse problema.

Física da propulsão Alcubierre

Para aqueles familiarizados com os efeitos da relatividade especial, tal como a dilatação do tempo, a métrica Alcubierre aparentemente tem alguns aspectos peculiares. Em particular, Alcubierre demonstrou que, mesmo quando a nave espacial está acelerando, ela viaja em queda livre. Em outras palavras, uma nave usando a dobra para acelerar e desacelerar estará sempre em queda livre, e a tripulação não teria nenhuma sensação de aceleração. Enormes forças gravitacionais estarão presentes junto à fronteira da bolha de dobra, devido à grande curvatura do espaço lá, mas de acordo com a especificação da medida, estas seriam muito pequenas dentro do volume ocupado pela nave.

A forma original da teoria de dobra, e as variações mais simples dela, foram escritas com o formalismo de Arnowitt, Deser e Misner, que é frequentemente utilizado em discutir a forma inicial da relatividade geral. Isto pode explicar o equívoco generalizado de que este espaço-tempo é uma solução da equação de campo relatividade geral. Métricas escritas dentro do formalismo ADM são adaptadas a uma determinada família de observadores inerciais, mas os observadores não são fisicamente distinguíveis das outras famílias. Alcubierre interpretou esta "bolha de dobra" em termos de contração do espaço à frente da bolha e expansão atrás. Mas essa interpretação pode ser ilusória,[5] uma vez que a contração e expansão atualmente se referem ao movimento relativo próximo de observadores do tipo da família ADM.

Na relatividade geral, primeiramente se especifica uma distribuição de matéria e energia de forma plausível, e em seguida se verifica a geometria do espaço-tempo associado. Mas também é possível solucionar as equações de campo de Einstein na outra direção: primeiro especificando uma medida e, em seguida, encontrando um tensor associado a ela. Foi isso que Alcubierre fez. Esta forma significa que a solução pode violar diversas condições de energia e requerer matéria exótica. A necessidade de matéria exótica leva à questão de se é realmente possível encontrar uma forma de distribuir a matéria em um espaço-tempo inicial onde não exista uma "bolha de dobra", de forma a criar essa bolha posteriormente. Mas ainda existe outro problema, de acordo com Serguei Krasnikov,[6] pode ser impossível criar a bolha sem que se force a matéria exótica a se mover mais rápido que a luz, o que implicaria na existência de táquions. Alguns métodos têm sido sugeridos para evitar o problema da movimento taquiônico, mas provavelmente iriam gerar uma singularidade nua na frente da bolha.[7][8]

Dificuldades

Construindo o caminho

Krasnikov propôs que, se a matéria taquiônica não puder ser encontrada ou usada, então uma solução poderia ser a disponibilizar grandes massas ao longo do trajeto da nave a ser posta em movimento de forma que o campo requerido seja produzido. Mas neste caso, a nave com propulsão Alcubierre não seria capaz de se deslocar à vontade pela galáxia. Ele só seria capaz de percorrer caminhos que, como uma estrada de ferro, teriam sido construídos com as infra-estruturas necessárias.

O piloto dentro da bolha é desconectado de suas paredes e não pode realizar qualquer ação fora da bolha. No entanto, seria necessário colocar os dispositivos ao longo da rota com antecedência e, uma vez que o piloto não pode fazer isso ao mesmo tempo em que viaja, as bolhas não podem ser utilizados para a primeira viagem a uma estrela distante. Em outras palavras, para viajar para a estrela Vega (que dista 26 anos-luz da Terra) primeiramente tem-se de organizar tudo para que se possa utilizar uma bolha que se desloque com velocidade superluminal. A primeira viagem levaria mais de 26 anos, já que não seria possível fazer essa viagem a uma velocidade superluminal .[6]

É preciso um para construir uma

Coule tem argumentado que esquemas como o proposto por Alcubierre não são viáveis, pois a matéria a ser colocada na estrada tem de ser previamente colocados à velocidade superluminal. Assim, de acordo com Coule, uma propulsão Alcubierre é necessária a fim de construir uma propulsão Alcubierre. Uma vez que já é provado que não existe nenhum, então a propulsão é impossível de construir, mesmo que a medida seja fisicamente significativa. Coule argumenta que uma objeção análoga será aplicável a qualquer proposta de método de construção de uma unidade Alcubierre.[8]

Problema de Natário

O matemático José Natário[9] apontou várias dificuldades.[10]

  1. Para ter a deformação no espaço necessária para esse tipo de viagem funcionar, a humanidade precisa inventar um dispositivo que produza mais energia que a Via Láctea.
  2. A energia deve ser negativa. A humanidade precisa inventar algo que possamos criar energia negativa nas quantidades necessárias para alimentar uma propulsão de dobra.
  3. Mas uma partícula, com massa negativa, reagiria à gravidade exatamente da maneira oposta às partículas de massa positiva. Em vez de a nave espacial, feita de massa normal, ser puxada em direção ao espaço onde está localizado um planeta ou estrela, ela seria afastada da massa negativa.

O maior problema com o conceito da dobra de Alcubierre, segundo Natário, é que "um precisa de um para fazer um". Ou seja, imagine uma aeronave supersônica viajando mais rápido que a velocidade do som. O observador não ouve a aeronave até que ela já tenha passado, porque as ondas sonoras não conseguem acompanhar a aeronave. A propulsão Alcubierre experimenta o mesmo efeito com as ondas de luz, o que significa que não há como enviar uma mensagem antes da aeronave. Para criar a geometria espaço-temporal distorcida em torno da nave, primeiro, seria necessário enviar um sinal à frente para "informar" o espaço-tempo para distorcer. Assim, para fazer a espaçonave ir mais rápido que a luz, ela precisa começar com algo que estaria indo mais rápido que a luz para poder se comunicar com o espaço a frente.

Resolvendo dificuldades

A resolução de dificuldades em criar do motor de dobra espacial é possível usando várias formas de forma separada ou integrando-as.

Uma forma possível é baseando-se nas propriedades quânticas do espaço e na Energia Negativa. Cientistas descobriram com o Efeito Casimir que duas placas no vácuo se juntam devido a pressão das partículas virtuais em volta das placas ser maior do que entre as placas, o que contrai o espaço entre as placas e expande o espaço em volta delas, e que a surge uma da força de atração entre as placas é denominada Energia Negativa e que quanto mais próximo estão as placas mais surge Energia Negativa atraindo mais forte as placas.[11][12][13] Também é possível dizer como faz Morgan Freeman em Grandes Mistérios do Universo que a força da Energia Negativa entre as placas expande o espaço em volta, ou como faz Michio Kaku indiretamente em Física do Impossível que a força da Energia Negativa atrai as placas.

Com essas informações torna possível criar o motor de dobra espacial. Para tanto bastaria aproveitar as partículas virtuais presentes no vácuo quântico e a força da Energia Negativa e Positiva que se criaria no espaço. A forma seria empurrar as partículas virtuais a frente da nave para trás, pois quando empurrasse as partículas virtuais da frente da nave para atrás da nave, a energia atrás da nave se tornaria positiva pelo aumento da quantidade de partículas virtuais e a pressão das partículas virtuais atrás da nave afastaria a nave e o planeta de partida expandindo o espaço entre eles. Já a energia na frente da nave pela retirada de partículas virtuais se tornaria negativa, fazendo oposto que a energia positiva, o que atrairia a nave e o planeta de destino um em direção ao outro contraindo o espaço entre eles. Retirar as partículas virtuais a frente da nave seria semelhante a retirar o ar e as partículas virtuais de dentro de uma sacola, onde contrai o espaço de dentro da sacola por existir pressão atmosférica fora da sacola e por diminuir a curvatura do espaço-tempo de dentro da sacola, assim retirar as partículas virtuais a frente da nave contrairia o espaço a frente da nave pelos mesmos motivos que da sacola e também como mostra o exemplo da sacola para ter espaço é necessário ter elementos físicos presentes.

Outra forma possível de criar o motor de dobra espacial foi apresentado no documentário O Universo, que consistiria em canalizar a energia de um mini-buraco negro ( que criaria uma intensa curvatura do espaço-tempo devido a sua densidade) pendurado na parte da frente da nave para contrair o espaço a frente, e utilizando a energia escura (que é responsável pela aceleração da expansão do espaço físico do Universo) para expandir o espaço atrás.

A respeito de como criar um mini-buraco negro para contrair o espaço a frente da nave, cientistas simularam em supercomputadores colisões entre as partículas perto da velocidade da luz. As simulações que fizeram demonstraram que os buracos negros podem formar-se em energias mais baixas do que se pensava antes.[14]

Já sobre como criar a energia escura para expandir o espaço atrás, os físicos Drs. Gerald Cleaver e Richard Obousy afirmam que seria necessário manipular a 11ª dimensão para criar energia escura. Eles se baseiam na Teoria-M que afirma que existe uma dimensão de tempo e dez de espaço.[15]

Veja também

Referências

  1. Alcubierre, Miguel (1994). «The warp drive: hyper-fast travel within general relativity». Class. Quant. Grav. 11: L73–L77. doi:10.1088/0264-9381/11/5/001 See also the «eprint version». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005, and also at iop.org
  2. S. Krasnikov (2003). «The quantum inequalities do not forbid spacetime shortcuts». Physical Review D. 67. 104013 páginas. doi:10.1103/PhysRevD.67.104013 See also the «eprint version». arXiv
  3. Bobrick, Alexey; Martire, Gianni (20 de abril de 2021). «Introducing physical warp drives». Classical and Quantum Gravity. 38 (10). 105009 páginas. Bibcode:2021CQGra..38j5009B. ISSN 0264-9381. arXiv:2102.06824Acessível livremente. doi:10.1088/1361-6382/abdf6e
  4. Low, Robert J. (1999). «Speed Limits in General Relativity». Class. Quant. Grav. 16: 543–549. doi:10.1088/0264-9381/16/2/016 See also the «eprint version». arXiv. Consultado em 30 de junho de 2005
  5. Natario, Jose (2002). «Warp drive with zero expansion». Class. Quant. Grav. 19: 1157–1166. doi:10.1088/0264-9381/19/6/308 See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005
  6. S. Krasnikov (1998). «Hyper-fast travel in general relativity». Physical Review D. 57. 4760 páginas. doi:10.1103/PhysRevD.57.4760 See also the «eprint version». arXiv
  7. Broeck, Chris Van Den, "On the (im)possibility of warpbubbles", 18 May 2000, See eprint,arXiv, retrieved 12 April 2008
  8. Coule, D H, "No Warp Drive", Class Quantum Grav 15, 1998, pp2523-2537, retrieved Arquivado em 27 de junho de 2007, no Wayback Machine. 12 April 2008
  9. «José Natário — Departamento de Matemática — Instituto Superior Técnico». www.math.tecnico.ulisboa.pt. Consultado em 10 de julho de 2020
  10. «Faster-than-light travel: Is warp drive really possible?». BBC Science Focus Magazine (em inglês). Consultado em 10 de julho de 2020
  11. https://bv.fapesp.br/pt/dissertacoes-teses/82887/fluxos-e-densidades-de-energia-negativa-em-teoria-quantica-d
  12. https://books.google.com.br/books?id=VZE-DwAAQBAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=energia+negativa+for%C3%A7a+de+atra%C3%A7%C3%A3o+efeito+casimir&source=bl&ots=oZgj5Bjdpw&sig=ACfU3U3RT1ZkUcdDCwI3Xn6IBJqFl9jbvw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwj0kLm094rnAhVcG7kGHX2HDLgQ6AEwC3oECAoQAQ#v=onepage&q=energia%20negativa%20for%C3%A7a%20de%20atra%C3%A7%C3%A3o%20efeito%20casimir&f=false
  13. http://ivancamaracorrea.blogspot.com/2012/01/velocidade-de-deus.html
  14. «Mini buracos negros são mais fáceis de fazer do que se pensava (com vídeo)». www.ciencia-online.net. Consultado em 28 de abril de 2018
  15. «Velocidade de dobra pode ser possível, dizem físicos». Site Inovação Tecnológica
  • Lobo, Francisco S. N.; & Visser, Matt (2004). «Fundamental limitations on 'warp drive' spacetimes». Class. Quant. Grav. 21: 5871–5892. doi:10.1088/0264-9381/21/24/011 See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005
  • Hiscock, William A. (1997). «Quantum effects in the Alcubierre warp drive spacetime». Class. Quant. Grav. 14: L183–L188. doi:10.1088/0264-9381/14/11/002 See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005
  • Berry, Adrian (1999). The Giant Leap: Mankind Heads for the Stars. [S.l.]: Headline. ISBN 0-7472-7565-3 Apparently a popular book by a science writer, on space travel in general.
  • T. S. Taylor, T. C. Powell, "Current Status of Metric Engineering with Implications for the Warp Drive," AIAA-2003-4991 39th AIAA/ASME/SAE/ASEE Joint Propulsion Conference and Exhibit, Huntsville, Alabama, July 20-23, 2003

Ligações externas

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