Pseudoboa nigra

Pseudoboa nigra, popularmente conhecida como cobra-preta ou muçurana, é uma espécie de serpente pertencente a família Colubridae, constituída por serpentes consideradas como não peçonhentas. É distribuída pelo centro da América do sul nas regiões do Cerrado[1] e da Caatinga,[2] pode ser encontrada na Bolívia, Paraguai[3][4] e Brasil (sendo ela, não endêmica do Brasil).[5]

Pseudoboa nigra

Estado de conservação
Quase ameaçada
Quase ameaçada (IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Subordem: Serpentes
Família: Colubridae
Subfamília: Xenodontinae
Género: Pseudoboa
Espécie: P. nigra
Nome binomial
Pseudoboa nigra
Duméril, Bribon & Duméril, 1854

Esta espécie é dócil e tem como defesa a sua coloração juntamente a seus hábitos noturnos, sua fuga é lenta e quando manuseada esconde a cabeça embaixo do corpo. Possui uma grande importância na cadeia alimentar, pois controla a quantidade de pragas (roedores). Devido a alguns tipos de aniquilamento a Pseudoboa nigra está quase ameaçada de extinção.[6]

Descrição

Indivíduo de Pseudoboa nigra se camuflando em meio a folhagem.
  • As fêmeas são maiores do que os machos,[7] que por sua vez possuem uma cauda de comprimento maior que o corporal, estes não possuem armazenamento de esperma a longo prazo. Apresenta mudanças na coloração corporal durante o crescimento; jovens possuem cabeça negra no dorso cortada por uma faixa branca e o corpo apresenta-se de cor avermelhado, já os adultos possuem um colorido negro no dorso e branco ventralmente, alguns exemplares apresentam-se irregularmente manchados de branco por todo o corpo, trata-se apenas de uma variação de coloração normal. A pele é coberta com escamas de queratina que são produzidas pela epiderme, esta é dividida em três camadas: a interna também chamada de extrato germinativo, a intermediária que possui uma membrana rica em lipídios, e a externa chamada de extrato córneo.[8] Possui sangue frio, que significa que sua temperatura interna muda de acordo com o ambiente.[9] Comprimento máximo em torno de 1,2m. Cabeça destacada do corpo. Olho com pupila vertical. Massa corpórea de 201,76g.[10] Dentição opistóglifa. É ovípara, ninhada de 4 a 14 ovos.[11]

Sistema cardiovascular

O coração das serpentes possui três câmaras, sendo dois átrios e apenas um ventrículo, que por sua vez é subdividido em três câmaras: cava venosa, cava arteriosa e cava pulmonar.[8]

Ecdise

Processo de troca de pele, que é controlada pela glândula tireoide, e que pode demorar em torno de duas semanas para se finalizar.[8]

Dimorfismo sexual

  • De acordo com uma dissecação feita pela USP[12] as fêmeas da Pseudoboa nigra possuem comprimento maior que os machos quando atingem a idade adulta. Porém, os machos possuem uma cauda maior, pois estes comodam o hemipênis. Ambos os sexos possuem cabeça com comprimento igual.

Características reprodutivas

  • Vitelogênese, oviposição, produção de espermatozoides ocorrem ao longo do ano.
  • A ocorrência de ovos da fêmea Pseudoboa ao longo do ano, evidência que estas possuem um ciclo reprodutivo contínuo.
  • Testículos dos machos aumentam de tamanho durante a produção de espermatozóides, que são armazenados nos ductos deferentes até ao período de acasalamento, que ocorre em sua maioria em épocas tropicais.[12]

Métodos de reprodução

  • As fêmeas quando prontas para o período de acasalamento, liberam feromônios; o macho sexualmente maduro por sua vez segue o cheiro deixado pela fêmea até encontrá-la.
  • No cortejo, ao encontrar a fêmea, o macho bate seu queixo na parte de trás da cabeça da fêmea e rasteja sobre ela.
  • A partir do momento em que a cobra fêmea aceita o macho inicia-se o acasalamento; a fêmea ergue sua cauda e o macho se enrola nela fazendo com que suas caudas fiquem unidas até chegar na cloaca, o macho insere o seu hemipénis que se estendem e liberam espermatozoides.[13]

Métodos de movimento

A agilidade das cobras está inteiramente ligada à quantidade de vértebras e costelas que possui e às escamas ventrais da mesma, proporcionando assim uma série de movimentos:

  • Locomoção ondulatória: movimento em forma de "S" que se inicia no pescoço, a cobra empurra seu corpo de um lado para o outro criando curvas, geralmente usando em locais com muitos pontos de resistência.
  • Sidewinding: movimento usado pelas cobras em locais de pouca resistência, contraindo o corpo e arremessando seu corpo, nesse movimento apenas dois pontos do corpo da cobra estão no chão.
  • Caterpillar: também chamado de movimento retilíneo, nesse movimento o corpo da cobra também é contraído em curvas, porém estas são de menores tamanhos, e são de cima para baixo invés de ser para um lado e para outro, criando um efeito ondulante.
  • Concertina: técnica usada pelas cobras para subirem; estendendo sua cabeça e a frente de seu corpo se agarrando em algo com suas escamas ventrais, para criar uma maior sustentação a cobra cria pequenas curvas apertadas que seguram a superfície enquanto ela levanta a parte traseira.[13]

Distribuição

Hábitos e comportamentos de caça

  • Possuem hábitos crepusculares e noturnos.
  • Alimenta-se principalmente de lagartos, porém na sua dieta também estão incluídos roedores e até outras serpentes, tendo um importante papel no controle de pragas.
  • Constrição: a serpente mata por asfixia e parada circulatória, agarrando a presa com a boca e envolvendo-a com as astes do seu corpo pressionando levemente, em poucos instantes a presa já está sufocada.[15]
  • O maxilar superior se conecta á mandíbula pelo osso quadrado, que funciona como um auxilio para que a mandíbula possa se abrir mais, isso acontece quando a presa tem tamanho muito maior que a cabeça da cobra.[16]

Trato digestivo

Formado por: boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e ânus. todos possuindo uma grande elasticidade para a passagem das presas.[13]

Conservação

  • Esta espécie está sob observação pela lista vermelha da Bahia,[6] devido ao desaparecimento de seus habitats naturais e a diminuição de suas presas, algumas crenças populares também são citadas, como a lenda da “cobra que mama” que foi citada por 28,6% dos entrevistados de uma pesquisa feita pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE,[17] sua cor quando jovem também influencia em sua matança, por causa disso é comumente confundida com a cobra-coral, a aparição em meio humano ocorre com maior frequência no mês de maio, por conta do período chuvoso, com maior disponibilidade de recursos vegetais e consequência pode atrair espécies que fazem parte da dieta de P. nigra, que comumente acabam aparecendo nos telhados das residências. A pele do animal também é usada para confecção de artesanato e até para fins medicinais.

Medicina e a Pseudoboa-Nigra

  • A cobra-preta é uma espécie ofiófaga, se alimenta de outras serpentes e é resistente ao veneno de várias delas. Essa característica foi de grande importância na medicina, a partir desta se deu o estudo de Vital Brasil para criação do Soro antiofídico.[18]

A lenda da cobra que mama

Em algumas das regiões onde esta especie se encontra, surgiu "a lenda da cobra que bebe leite",[19] consequência de suas manchas brancas espalhadas pelo corpo. A origem da lenda se deve principalmente ao líquido branco e espesso, fruto do processamento metabólico do cálcio de suas presas, que são liberados quando a cobra é dilacerada.

Segundo a lenda, a cobra preta invade os quartos das mulheres em fase de lactação para roubar o leite dos recém nascidos, fazendo com que a criança morra de fome e a mãe faleça por desnutrição.

Notas

      • Este artigo incorpora texto disponível sob licença cc-by-sa-4.0 da obra:

      Argôlo, Antônio Jorge Suzart (2004). As serpentes dos cacauais do sudeste da Bahia (PDF). Ilhéus: Editus. 259 páginas. ISBN 85-7455-067-1

      Ver também

      Referências

      1. Pereira Filho, Gentil Alves; Montingelli, Giovanna Gondim (setembro de 2011). «Lista de verificação de cobras dos Brejos de Altitude da Paraíba e Pernambuco, Brasil». Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas. Consultado em 3 de dezembro de 2018
      2. «Black False Boa - Pseudoboa nigra - Overview - Encyclopedia of Life». Encyclopedia of Life (em inglês). Consultado em 16 de setembro de 2018
      3. DUMÉRIL, BIBRON & DUMÉRIL (1854). «Pseudoboa nigra». The Reptile Database
      4. Duméril, C. (Constant); Bibron, Gabriel; Duméril, Auguste Henri André (1834). Erpétologie générale, ou, Histoire naturelle complète des reptiles. [S.l.]: Paris, Roret
      5. Costa, H.C; Bérnils, R.S (4 de fevereiro de 2017). «Répteis do Brasil e suas Unidades Federativas» (PDF). Sociedade Brasileira de herpetologia. Consultado em 8 de novembro de 2018
      6. «Lista vermelha da Bahia - Avaliação do Estado de Conservação da Fauna e Flora do Estado da Bahia». www.listavermelhabahia.org.br (em inglês). Consultado em 20 de setembro de 2018
      7. Orofino, Renata de Paula; Pizzatto, Lígia; Marques, Otavio A. V. (1 de julho de 2010). «Reproductive biology and food habits of Pseudoboa nigra (Serpentes: Dipsadidae) from the Brazilian cerrado». Phyllomedusa: Journal of Herpetology (em inglês). 9 (1): 53–61. ISSN 2316-9079. doi:10.11606/issn.2316-9079.v9i1p53-61
      8. da Silva, Luana Célia Stunitz. «Anatomia dos répteis» (PDF). centro científico conhecer. Consultado em 3 de dezembro de 2018
      9. Perry, Lancy (20 de agosto de 2004). «Como funcionam as cobras; noções básicas da cobra». howstuffworks. Consultado em 3 de dezembro de 2018
      10. Argôlo, 2004, p.174
      11. Mesquita, P. C (2013). Ecologia e história natural das serpentes de uma área de Caatinga no nordeste brasileiro. São Paulo: Papéis Avulsos de Zoologia. pp. 99–113
      12. Orofino, Renata de Paula (2010). «Reproductive biology and food habits of Pseudoboa nigra (Serpentes: Dipsadidae) from the Brazilian cerrado». Journal of Herpetology. Consultado em 16 de novembro de 2018
      13. «How Snakes Work». HowStuffWorks (em inglês). 20 de agosto de 2004
      14. Marques, Otavio Augusto Vuolo; Pereira, Donizete Neves; Barbo, Fausto Erritto; Germano, Valdir José; Sawaya, Ricardo Jannini. «Os répteis do município de São Paulo: diversidade e ecologia da fauna pretérita e atual». Biota Neotropica. 9 (2): 139–150. ISSN 1676-0603. doi:10.1590/S1676-06032009000200014
      15. BERNARDE, P. S (2012). «Hábitos alimentares e comportamento de caça de serpentes». www.herpetofauna.com.br. Consultado em 16 de setembro de 2018
      16. Perry, Lancy (20 de agosto de 2004). «como funcionam as cobras; digestão de cobra». howstuffworks. Consultado em 3 de dezembro de 2018
      17. «Unicap». www.unicap.br. Consultado em 16 de setembro de 2018
      18. «Soro antiofídico. Fabricação e tipos de soro antiofídico - Biologia». Biologia Net. Consultado em 22 de novembro de 2018
      19. Spalding, Walter (11 de fevereiro de 2016). «História pra Contar: COBRA QUE MAMA - CIA Contacausos». CIA Contacausos

      Bibliografia

      Ligações externas

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