Saudação lacrimosa

A saudação lacrimosa[nota 1][2] é uma uma prática comum entre vários grupos indígenas das Américas. Documentada sobretudo entre os Tupinambás,[3] ela envolve uma cerimônia chorosa quando um estrangeiro ou membro da tribo ausente chega à aldeia.

Saudação lacrimosa no livro francês História de uma viagem à terra do Brasil

Distribuição geográfica

A saudação chorosa na América do Sul limitou-se à região a leste dos Andes. Segundo Alfred Métraux, foi o povo Tupi quem difundiu esse costume. Na América do Norte, o hábito era bastante difundido na região entre as cabeceiras do rio Mississipi e a costa do Texas, especialmente entre o grupo Kaddö e os índios Sioux. Georg Friederici relatou ter encontrado evidências da saudação lacrimosa na América Central.[4] Fora do continente americano, é observado nas Ilhas Andamão, na Austrália (em Queensland), e na Nova Zelândia.[4][3]

Descrição

Entre o povo Tupinambá, a saudação lacrimosa ocorria quando um estrangeiro ou membro da tribo ausente há mais de quatro dias se aproximava da moradia do anfitrião. O hóspede, ao chegar, deitava-se numa rede; posteriormente, as mulheres da casa reuniam-se em torno dele, abraçando-o, colocando as mãos nos seus ombros, pescoço e joelhos, e cobrindo-lhe o rosto com os cabelos. Agachadas, finalmente começavam a chorar, soluçando e recitando discursos em prosa rimada.

Segundo Claude d'Abbeville, elas diziam que o convidado era bem-vindo e deveria ser estimado. De acordo com Yves d'Évreux, elas também relembravam os ancestrais. Fernão Cardim afirmou que os envolvidos comentavam o que havia ocorrido enquanto estavam separados, imaginando as dificuldades que o hóspede poderia ter enfrentado no caminho. O convidado também tinha a obrigação de chorar, ou pelo menos cobrir o rosto e suspirar. O choro só cessava a pedido, o que, no entanto, seria considerado indelicado. Quando a prática finalmente terminava, ouviua-se uma saudação comum: “ ereîupe? " ("você veio?").[5] [3]

A saudação lacrimosa também foi descrita em vários outros grupos indígenas, como os Charruas no sul da América do Sul e os Lenguas do Paraguai. Entre os Guaranis, a prática era exatamente a mesma dos Tupinambás. Karl von den Steinen observou dois Jurunas se cumprimentando com lágrimas. Fritz Krause constatou a existência da saudação lacrimosa também entre os Carajás e os Kaiapós; os parentes, ao se encontrarem, ficavam em silêncio e evitavam se olhar por alguns minutos, e as mulheres choravam por um breve período. Os Oiampis, ao encontrarem alguém ausente há algum tempo, viravam as costas e permaneciam em silêncio por cerca de dez minutos, o que indica uma alusão ou vestígio da prática. As mulheres Jivaro cantam canções fúnebres quando recebem pessoas de fora.[6]

Interpretação

Georg Friederici interpreta a saudação lacrimosa como uma expressão de simpatia pelo convidado, que teria enfrentado perigos para visitar o anfitrião. Para Rafael Karsten, o costume seria uma expressão de dor causada pelas lembranças de parentes falecidos, despertadas pela visita. Alfred Métraux sugere alguma ligação com o culto dos mortos.[7]

Notas

  1. em francês: salutation larmoyante; em alemão: Tränengruss;[1]

    Referências

    1. Harbsmeier 1988, pp. 57–58.
    2. Métraux 1979.
    3. Harbsmeier 1988, p. 58.
    4. Métraux 1979, p. 160.
    5. Métraux 1979, pp. 157–158.
    6. Métraux 1979, pp. 158–159.
    7. Métraux 1979, pp. 160–161.
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