Família Scarlatti

A família Scarlatti foi uma família italiana de origens sicilianas notabilizada pela sua dedicação à música, tendo produzido alguns nomes destacados neste campo, em especial Alessandro e Domenico, que deram uma relevante contribuição para a história da música.

Origens

O fundador da família foi Pietro Scarlata (Trapani, ? — Palermo, c. 1678), radicado em Palermo aparentemente como cantor, onde casou com Eleonora d’Amato, tendo com ela oito filhos, mas apenas chegaram à idade adulta Alessandro, Anna Maria, Melchiorra Brigida, Francesco e Tommaso. A família parece ter sido pobre, mas todos os meninos eram dotados de talento musical. Em torno de 1771 Alessandro e suas irmãs foram enviados a Roma para viver com parentes. Os outros meninos se tornaram estudantes no Conservatório de Nápoles, mantidos pela beneficência pública.[1]

Primeira geração

Alessandro Scarlatti

Alessandro Scarlatti (Pietro Alessandro Gasparo, Palermo, 2 de maio de 1660 — Nápoles, 2 de outubro de 1725) foi o primeiro a fazer renome. Sua educação musical é obscura, mas ganhou fama continental como compositor de óperas e cantatas. A primeira ópera, Gli equivoci nel sembiante (1679), encomendada pela Arquiconfraria do Santíssimo Sacramento e apresentada no Teatro Capranica de Roma, foi um grande sucesso, o que lhe valeu o patrocínio da ex-rainha Cristina da Suécia, que o tornou seu mestre de capela, cargo que ocupou também na Igreja de San Giacomo degli Incurabili. Em 1716 o papa o fez cavaleiro.[1] Depois desenvolveu sua carreira entre Veneza, Florença e especialmente Nápoles, onde foi nomeado compositor da corte, mostrando uma excepcional fecundidade musical. Escreveu 115 óperas, 150 oratórios e mais de 500 cantatas, além de muitas missas e motetos. Também deixou um grande número de composições instrumentais, especialmente para o órgão, no qual era um virtuoso.[2][3] É considerado o fundador da escola napolitana de ópera e um renovador do gênero, além de ter contribuído para o desenvolvimento do estilo clássico na Itália e para a consolidação da abertura italiana em três movimentos, de grande importância para a evolução das formas da sonata e da sinfonia clássicas.[2][4] Casado com Antonia Anzalone, dos seus dez filhos aparentemente só cinco sobreviveram à infância: Domenico, Flaminia, Pietro Filippo, Nicolo e Carlo.[1][4]

Francesco Scarlatti (Palermo, 5 de dezembro de 1666 – Dublin, c. 1741), depois de graduar-se no Conservatório de Nápoles, foi nomeado violinista da Capela Real. Em 1690 casou com Rosalinda Albano, com quem teria cinco filhos. Em 1691 foi chamado a Palermo para resolver assuntos familiares, e pouco se sabe de sua vida depois disso. Teve dois oratórios de sua autoria apresentados em Roma em 1699, e em 1711 uma ópera cômica foi apresentada em Aversa. Em 1719 viajou Londres, onde parece ter-se ocupado como instrumentista de orquestras teatrais, parece ter vivido na pobreza, e alguns concertos foram realizados em seu benefício. Foi convidado a juntar-se à capela do duque de Chandos, mas por razão ignorada não aceitou. Em 1724 estava em Dublin, onde passou o resto de sua vida em condições obscuras. Sabe-se que já estava viúvo e casou-se novamente com uma certa Jane, e viveu como cravista e mestre de música de algum conjunto.[5][6] Sua produção conhecida é pequena. Além das obras citadas, restam mais três salmos, uma cantata, partes de uma missa e 11 concertos grossos.[5][7]

Anna Maria e Melchiorra Brigida foram cantoras ativas em Roma e Nápoles,[8] Melchiorra casou com Nicola Pagano, contrabaixista na corte de Nápoles, e faleceu em 1736 com 82 anos, deixando um filho, Michael, pintor de algum renome.[9] Tommaso, falecido em Nápoles em 1760, também seguiu a carreira de cantor, empregado na Capela Real de Nápoles, onde como tenor apareceu em várias óperas sérias e cômicas. Casou com Antonia Carbone, gerando dez filhos.[10]

Segunda geração

Domenico Scarlatti

Filho de Alessandro, Domenico Scarlatti (Nápoles, 26 de outubro de 1685 — Madri, 23 de julho de 1757) começou sua carreira como organista e compositor da corte de Nápoles. Fez algumas viagens a Florença e Veneza, e em 1707 estava em Roma, onde permaneceria por mais de 12 anos como maestro e compositor para a rainha viúva da Polônia e o Marquês de Fontes, e a partir de 1713 como maestro na Capela Júlia do Vaticano. Em 1719 renunciou aos seus cargos em Roma e aparentemente passou alguns anos em Palermo, antes de empregar-se na corte de Lisboa, onde deu aulas de teclado para filhos de D. João V. Quando a infanta Maria Bárbara casou com o príncipe herdeiro espanhol, em 1729, Scarlatti seguiu-a para Sevilha e depois, em 1733, para Madri, onde passou o resto da vida. Continuou a compor para voz e para instrumentos, e suas óperas, cantatas e música sacra têm grande qualidade, mas sua grande fama repousa principalmente sobre suas sonatas para teclado, altamente apreciadas pela inventividade, virtuosismo e ousadia harmônica, em que prefigura a forma da sonata clássica. Em 1738 foi feito cavaleiro de São Tiago pelo rei João V de Portugal. Casou duas vezes: em 1728 com Maria Catarina Gentili, e em 1739 com Anastasia Maxarti Ximenes. Nenhum de seus nove filhos se tornou músico.[11]

Pietro Filippo Scarlatti (Roma, 5 de janeiro de 1679 — Nápoles, 22 de fevereiro de 1750), outro filho de Alessandro, foi mestre de capela da Catedral de Urbino e em 1708 mudou-se para Nápoles, onde trabalhou como organista da corte. Sua obra compreende algumas cantatas e um grande grupo peças para teclado. Também dedicou-se à ópera, mas só há registro de uma obra encenada, Clitarco (1728), cuja partitura foi perdida. Deixou os filhos Anna e Alessandro II.[8]

Flaminia Scarlatti aparentemente foi uma cantora amadora. Seu irmão Nicolo entrou para a Igreja, tornando-se abade, e seu outro irmão, Carlo, foi pintor.[10]

Terceira geração

Giuseppe Scarlatti (Nápoles, c. 1718/1723 — Viena, 17 de agosto de 1777), de pai incerto (Charles Burney disse que era um sobrinho de Domenico), estreou suas primeiras composições em Roma, e depois foi ativo em Florença, Milão, Pisa, Lucca, Turim, Veneza, Barcelona e Viena. Foi celebrado em seu tempo como cravista e professor de cravo e compositor de óperas sérias e cômicas, mas hoje sua produção está bastante esquecida. Deixou também algumas serenatas, sonatas para teclado e música sacra. Casou com Barbara Stabili e depois com Antonia Lefebvre, que lhe deu um filho.[8][12][13]

De Alessandro II, filho de Pietro Filippo, pouco se sabe. Foi organista e tentou sem sucesso herdar o cargo de seu pai na Capela Real de Nápoles.[10]

Referências

  1. Greene, David Mason. Biographical Encyclopedia of Composers. Piano Roll Foundation, 1985, pp. 181-183
  2. Walter, A. "Alessandro Scarlatti". In: The Catholic Encyclopedia. Robert Appleton Company, 1912
  3. Halton, Rosalind. "Alessandro Scarlatti". Scarlatti Project
  4. Gonçalves, Robson. Uma Breve Viagem pela História da Ópera Barroca. p. 36
  5. Hair, Christopher. "Francesco Scarlatti". In: Monks, Christopher et al. Francesco Scarlatti: Dixit Dominus. Deux-Elles, 2003
  6. Highfill, Philip H.; Burnim, Kalman A.; Langhans, Edward A. Biographical Dictionary of Actors, Actresses, Musicians, Dancers, Managers & Other Stage Personnel in London, 1660-1800, Volume 13. Southern Illinois University Press, 1991, pp. 225-227
  7. Kroll, Mark. "More on Francesco Scarlatti". Project Muse.
  8. Predota, Georg. "Mapping the Musical Genome: The Scarlatti Family". Interlude, 24/05/2018
  9. Dent, Edward. "New Light on the Scarlatti Family". The Musical Times, 01/11/1926
  10. Kirkpatrick, Ralph. Domenico Scarlatti. Princeton University Press, 1983, pp. 327-330
  11. Sanderson, James. "Scarlatti, Domenico". Scarlatti Project
  12. Boyd, Malcolm & Lazarevich, Gordana. "Scarlatti". In: Grove Music Online
  13. "Scarlatti, Giuseppe". In: Enciclopedia Treccani online
This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.