Teoria da Internet morta
A teoria da Internet morta é uma teoria da conspiração online que afirma que a atividade na Internet agora consiste principalmente em conteúdo gerado automaticamente e manipulado por curadoria algorítmica ou é feita, em sua maioria, por bots da Internet, minimizando a atividade humana real para manipular a população.[1][2][3][4][5] Os defensores da teoria acreditam que esses bots foram criados intencionalmente para ajudar a manipular algoritmos e impulsionar os resultados da pesquisa, a fim de manipular os consumidores.[5][6] Alguns apoiadores da teoria acusam as agências governamentais de usar bots para manipular a percepção do público.[2][5] A data indicada para esta "morte" é geralmente por volta de 2016 ou 2017.[2][7][8]
A teoria da Internet morta ganhou força porque muitos dos fenómenos observados são quantificáveis, como o aumento do tráfego de bots, mas a literatura não apoia completamente a teoria.[2][4][9] Caroline Busta, fundadora da plataforma de mídia New Models, foi citada em um artigo do The Atlantic chamando grande parte da teoria da Internet morta de "fantasia paranóica", mesmo que existam críticas legítimas envolvendo o tráfego de bots e a integridade da Internet, mas ela disse que concorda com a "ideia abrangente".[2] Em um artigo do The New Atlantis, Robert Mariani chamou a teoria de uma mistura entre uma teoria da conspiração genuína e uma creepypasta.[5] A teoria da Internet morta é às vezes usada para se referir ao aumento observável no conteúdo gerado por meio de LLMs, como o ChatGPT, que aparece em espaços populares da Internet sem mencionar a teoria completa.[1][10]
A origem exata da teoria da Internet morta é difícil de identificar, mas provavelmente surgiu do 4chan ou do Wizardchan como um conceito teórico no final da década de 2010 ou início da década de 2020.[2] Em 2021, um tópico intitulado "Dead Internet Theory: Most Of The Internet Is Fake" foi publicado no fórum Agora Road's Macintosh Cafe, marcando a disseminação da teoria além desses sites iniciais.[2][11] Mas a discussão e o debate da teoria têm prevalecido em fóruns online, conferências de tecnologia e círculos académicos, possivelmente desde antes.[2] Foi inspirado por preocupações sobre a crescente complexidade da Internet, a dependência de infra-estruturas frágeis, potenciais vulnerabilidades de ataques cibernéticos e, mais importante, o aumento exponencial das capacidades e utilização da inteligência artificial.[12]
A teoria ganhou força nas discussões entre entusiastas da tecnologia, investigadores e futuristas que procuravam explorar os riscos associados à nossa dependência da internet. A teoria da conspiração entrou na cultura popular através de ampla cobertura e foi discutida em vários canais importantes do YouTube.[2] Ganhou mais atenção popular com um artigo no The Atlantic intitulado "Maybe You Missed It, but the Internet 'Died' Five Years Ago".[2] Este artigo foi amplamente citado por outros artigos sobre o tema.[13][11]
Nos últimos anos, o termo tem sido usado para descrever o fenômeno do conteúdo gerado por bots que substitui o conteúdo gerado por humanos sem a discussão da teoria completa.[1][10]
Reivindicações
A teoria da Internet morta tem dois componentes principais: que os bots substituíram a atividade humana na Internet e que pessoas estão utilizando estes bots para manipular a população humana.[14] A primeira parte desta teoria, de que os bots criam grande parte do conteúdo da Internet e talvez contribuam mais do que o conteúdo humano real, tem sido uma preocupação há algum tempo, com o post original de "IlluminatiPirate" citando o artigo "How Much of the Internet Is Fake? Turns Out, a Lot of It, Actually" na revista New York.[15][14] A segunda metade da teoria da Internet morta baseia-se neste fenómeno observável, propondo que o governo dos Estados Unidos, as empresas ou outros agentes estão utilizando intencionalmente estes bots para manipular a população humana por uma variedade de razões.[2][14] Na postagem original, a ideia de que os bots substituíram o conteúdo humano é descrita como a base, com a "tese" da própria teoria focando no governo dos Estados Unidos como responsável por isso, afirmando: "O governo dos EUA está envolvido em uma manipulação feita por inteligência artificial para toda a população mundial."[2][5]
Evidência
Grandes modelos de linguagem
Generative pre-trained transformers (Transformadores generativos pré-treinados, em tradução livre) são uma classe de grandes modelos de linguagem (LLMs) que empregam redes neurais artificiais para produzir conteúdo semelhante ao humano.[16][17] O primeiro deles foi desenvolvido pela OpenAI.[18] Esses modelos criaram controvérsia significativa. Por exemplo, Timothy Shoup, do Instituto de Estudos de Futuros de Copenhague, disse: "no cenário em que o GPT-3 'se solta', a Internet seria completamente irreconhecível".[19] Ele previu que, em tal cenário, 99% a 99,9% do conteúdo online poderia ser gerado por IA entre 2025 e 2030.[19] Essas previsões foram usadas como evidência para a teoria da internet morta.[13] Em 2024, o Google relatou que seus resultados de pesquisa estavam sendo inundados com sites que “parecem ter sido criados para mecanismos de pesquisa e não para pessoas”.[20] Em correspondência com o Gizmodo, um porta-voz do Google reconheceu o papel da IA generativa na rápida proliferação de tal conteúdo e que poderia substituir alternativas mais valiosas feitas pelo homem.[21]
ChatGPT
ChatGPT é um chatbot baseado em IA cujo lançamento em 2022 para o público em geral levou os jornalistas a considerar a teoria da Internet morta potencialmente mais realista do que antes.[7][22] Antes do lançamento do ChatGPT, a teoria da Internet morta enfatizava principalmente organizações governamentais, corporações e indivíduos com conhecimento de tecnologia. O ChatGPT coloca o poder da IA nas mãos dos usuários comuns da Internet.[7][22] Esta tecnologia causou preocupação de que a internet ficasse repleta de conteúdo criado através do uso de IA que se sobressaíria ao conteúdo humano real.[7][22][23]
Relatório de tráfego de bots da Imperva em 2016
Em 2016, a empresa de segurança Imperva divulgou um relatório sobre o tráfego de bots e descobriu que os bots eram responsáveis por 52% do tráfego da web, sendo a primeira vez que ultrapassaram o tráfego humano.[24] Este relatório foi usado como prova em relatórios sobre a teoria da Internet morta.[2]
Facebook
Em 2024, as imagens geradas por IA no Facebook começaram a se tornar virais. Os temas dessas imagens geradas por IA incluíam várias iterações de Jesus coberto de camarões posando com uma comissária de bordo e imagens de crianças negras ao lado das obras de arte que supostamente criaram.[25] Isso tem sido usado como exemplo de por que a Internet parece “morta”.[26]
Reddit

No passado, o Reddit, um agregador social de notícias, permitia acesso gratuito à sua API e aos seus dados, o que permitia aos usuários desenvolver aplicativos administrados por terceiros e treinar a IA na interação humana.[23] De forma controversa, o Reddit passou a cobrar pelo acesso ao conjunto de dados de seus usuários. As empresas que treinam IA provavelmente continuarão a usar esses dados para treinar as IAs futuras. À medida que LLMs como o ChatGPT se tornam disponíveis ao público em geral, eles são cada vez mais utilizados no Reddit por usuários e contas de bot.[23] O professor Toby Walsh, da Universidade de Nova Gales do Sul, disse em uma entrevista ao Business Insider que treinar a próxima geração de IA em conteúdo criado por gerações anteriores poderia prejudicar o conteúdo gerado por essa inteligência artificial.[23] O professor da Universidade do Sul da Flórida, John Licato, comparou esta situação de conteúdo da web gerado por IA inundando o Reddit com a teoria da internet morta.[23]
Tweets "Eu odeio mensagens de texto"
Várias contas do Twitter começaram a postar tweets começando com a frase "Eu odeio mensagens de texto", seguida por uma atividade alternativa, como "Eu odeio mensagens de texto, só quero segurar sua mão" ou "Eu odeio mensagens de texto, venha viver comigo".[2] Essas postagens receberam dezenas de milhares de curtidas e muitos suspeitaram que fossem contas de bot. Os defensores da teoria da Internet morta usaram essas contas como exemplo.[2][11]
Aquisição do Twitter por Elon Musk
A proporção de contas de usuários administradas por bots tornou-se um grande problema durante a aquisição do Twitter por Elon Musk.[28][29][30][31] Durante esse processo, Musk contestou a afirmação do Twitter de que menos de 5% de seus usuários ativos diários monetizáveis (mDAU) eram bots.[28][32] Durante esta discussão, Musk contratou a empresa Cybra para estimar qual porcentagem de contas do Twitter eram bots, com um estudo estimando 13,7% e o segundo estimando 11%.[28] Acredita-se que essas contas de bot sejam responsáveis por uma quantidade desproporcional do conteúdo gerado. Este incidente foi apontado pelos crentes na teoria da Internet morta como prova.[33]
YouTube "A Inversão"
Existe um mercado online para visualizações falsas no YouTube para aumentar a credibilidade de um vídeo e alcançar públicos mais amplos.[34] Em certo ponto, as visualizações falsas eram tão predominantes que alguns engenheiros ficaram preocupados que o algoritmo do YouTube para detectá-las começasse a tratar as visualizações falsas como padrão e a classificar erroneamente as reais.[34][2] Os engenheiros do YouTube cunharam o termo “a Inversão” para descrever esse fenômeno.[34][15] Os bots do YouTube e o medo da "inversão" foram citados como apoio à teoria da Internet morta em um tópico no fórum Agora Road's Macintosh Cafe.[2]
Na cultura popular
Discussão no Twitter
A teoria da Internet morta tem sido discutida entre usuários do X (antigo Twitter). Os usuários notaram que a atividade do bot afetou sua experiência.[2]
Cobertura no YouTube
Vários canais do YouTube e comunidades online, incluindo as redes do Linus Tech Tips, cobriram a teoria da Internet morta, o que ajudou a fazer avançar a ideia no discurso dominante.[2]
Ver também
Referências
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