Transtornos de transe e possessão

Transtorno de transe e possessão(CID-10) ou Transtorno de Transe Dissociativo(DSM-IV) é um transtorno dissociativo caracterizado por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente. Apenas estados de transe involuntários e não desejados são considerados transtorno, não deve ser classificado como doença quando ocorre apenas em situações adequadas ao contexto cultural ou religioso do sujeito.[2]

Transtornos de transe e possessão
Transtornos de transe e possessão
Classificação e recursos externos
CID-10 F44.3
CID-9 300.10
CID-11 1374925579
MeSH D004213
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Diversos problemas neurológicos causam perda de identidade, memórias, alucinações, delírios e fala incompreensível.[1]

Causas

Transtornos dissociativos geralmente ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações interpessoais difíceis. Ocorre uma cisão (divisão) do ego(identidade pessoal) e uma nova personalidade com lembranças, consciência, identidade, percepção e controle dos movimentos corporais peculiares é formada. Esse fenômeno é conhecido como transtorno de despersonificação ou como transtornos egodistônicos.

Podem ser causadas por sugestão, sendo relacionado a sugestionabilidade do indivíduo, como uma hipnose ou, em casos mais graves, uma lavagem cerebral. O impacto e eficiência da sugestão é proporcional ao quanto a ideia sugerida atende às necessidades emocionais do individuo e de sua cultura. [1] Ou seja, quanto mais emocionalmente e psicologicamente abalado, com vida social e familiar insatisfatória, ansioso por aprovação social, impulsivo e emotivos mais sugestionável.[3]

Também podem ser causados por excesso e falta de neurotransmissores de forma similar a esquizofrenias e delírios. Especialmente desregulação nas vias de dopamina, serotonina e catecolamina atuando em áreas relacionadas ao autocontrole, percepção, raciocínio e cinestesia.

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas são muito similar a um transtorno de "múltiplas personalidades", mas possuem forte questão espiritual, cultural e social envolvidas.[4]

No transtorno de Transe Dissociativo assim como no transtorno dissociativo de identidade (vulgarmente conhecido como múltiplas personalidades) as principais características são a perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais.[2] Assim, a "possessão" é como uma nova personalidade criada pela própria pessoa com suas peculiaridades, tom de voz, gostos, controle de movimentos, identidade e lembranças distintos.

Diagnóstico

Basicamente a diferença entre possessão saudável e transtorno que requer tratamento é o quanto de prejuízo ele causa.[5]

Sinais que é apenas uma experiência cultural[6]:

  • Ausência de sofrimento psicológico;
  • Ausência de prejuízos significativos sociais, escolar ou no trabalho;
  • A experiência tem duração curta e ocorre episodicamente;
  • Atitude crítica sobre a realidade objetiva da experiência;
  • Compatibilidade da experiência com o grupo cultural ou religioso do indivíduo;
  • Não associado com outros transtornos psicológicos;
  • A experiência gera crescimento pessoal;
  • A experiência é controlada;
  • É uma experiência social.

Sinais que é um transtorno psicótico ou dissociativo com conteúdo religioso:

  • Causa sofrimento;
  • Causa prejuízo social, escolar ou no trabalho;
  • Associado a outros sintomas psiquiátricos;
  • Incongruente com a religião e cultura do indivíduo;
  • Involuntário;
  • Desestruturante;
  • Indesejado;
  • Persistente;

Diagnóstico diferencial

Até hoje convulsões, psicoses e transtornos dissociativos são confundidos com possessão demoníaca e as vítimas sofrem com preconceito, tortura ou assassinadas por ignorância dos observadores.[1]

O transtorno de transe e possessão pode ser confundido com:

Comorbidades

Os transtornos psiquiátricos mais comuns associados com dissociação são[4]:

Epidemiologia

Historicamente o "delírio espírita episódico" era uma doença freqüente e responsável por 5% a 10% das internações psiquiátricas. Atualmente episódios de transtorno dissociativo (divisão da própria cognição e identidade) foram identificados em 11% dos adultos durante sua vida e com prevalência de 6%/ano.[4]

Geralmente ocorrem com pessoas que sofreram abusos físicos ou psicológicos e negligência, especialmente quando na infância, mas pode ter também tendência genética e congênita.[4]

Tratamento

Estar fazendo tratamentos espirituais não impede tratamentos psicológico e psiquiátrico de serem feitos simultaneamente.[5]

O critério recomendado por médicos e psicólogos para diferenciar possessões que precisam ou não de tratamento é o quanto de sofrimento, perigo e prejuízo eles causam: Quanto mais prejudiciais e frequentes forem os episódios mais urgente a necessidade de tratamento.[6]

Dentre os pacientes tratados 67% conseguem fazer uma reintegração social e cognitiva saudável e estável em uma média de 21.6 meses.[4] A maioria dos que continuam instáveis e desintegrados demonstram melhora significativa.[4] A recomendação médica é de 3 sessões de 1h por semana iniciais de psicoterapia dinâmica e pelo menos uma sessão por semana após o indivíduo alcançar maior estabilidade durante 2 anos. Pode durar mais caso o paciente não esteja produtivo e saudável ao final de 2 anos.[4]

Assim como qualquer psicoterapia, a primeira parte envolve estabelecer um ambiente tranquilo e seguro para expressar segredos e intimidades e um relacionamento de confiança e não-punitivo entre o terapeuta e o paciente. Assim que a relação terapêutica é estabelecida, o terapeuta estimula a auto-reflexão dos pensamentos, emoções e sensações do paciente dentro e fora do contexto terapêutico com muitas perguntas e integrando as análises e reflexões. As múltiplas causas dos sintomas apresentados são analisados em relação ao contexto do indivíduo. Transtornos psicológicos como depressão e delírios podem ser medicados por um psiquiatra. Do início ao fim o terapeuta estimula e reforça comportamentos saudáveis e reflexões sobre o que causa e mantem comportamentos não saudáveis de acordo com cada caso.[4]

Ver também

Referências

  1. http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=130
  2. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento 10a edição (CID-10) Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. P. Alegre, Artes Médicas, 1993 Arquivado em 2 de fevereiro de 2013, no Wayback Machine.
  3. Wagstaff, G.F., "Suggestibility: A Social Psychological Approach", pp.132-145 in Schumaker, J.F. (ed), Human Suggestibility: Advances in Theory, Research, and Application, Routledge, (New York), 1991.
  4. «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 11 de fevereiro de 2013. Cópia arquivada (PDF) em 19 de março de 2009
  5. Angélica A. Silva de Almeida, Ana Maria G. R., Paulo Dalgalarrondo. Olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os fenômenos de transe e possessão. USP. Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007
  6. Adair de Menezes Júnior e Alexander Moreira-Almeida. O diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos mentais de conteúdo religioso. 2008.
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