Zeus faber

Zeus faber, comummente conhecido como peixe-galo[2][3], é um peixe teleósteo da família dos Zeídeos. Trata-se de uma espécie marinha costeira demersal comestível, com corpo esverdeado comprimido lateralmente, com uma grande mancha escura de ambos os lados e espinhos longos na barbatana dorsal.[4]

Peixe-galo
Estado de conservação
DD [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Zeiformes
Género: Zeus (género)
Espécie: Z. faber
Nome binomial
Zeus faber
Distribuição geográfica

Peixe-galo, Zeus faber

Nomes comuns

Dá ainda pelos seguintes nomes comuns: alfaqui[5], alfaqueque[6], são-pedro[7], galo-negro[8] e galo-japonês[9].

Etimologia

O nome peixe-galo, fica-se a dever às longas barbatanas dorsais e flancos e o circulo escuro que visualmente se assemelham às cristas dos galos.

No que toca ao nome são-pedro a origem é duvidosa, contudo, há uma abonação literária no romance «A Esfinge dos Gelos», de Júlio Verne, em que se dá conta de uma das mais conhecidas e antigas origens do nome.[10] Nessa obra, reputam-na como uma alusão a São Pedro, por sinal o santo padroeiro dos pescadores, por haver, de acordo com a tradição medieval europeia, a crença popular de que esta terá sido a espécie de peixe que Jesus fez saltar para as redes na passagem bíblica da pesca milagrosa.[11][10]

Com efeito, este peixe é conhecido como «são-pedro» em várias línguas europeias: em francês dá por "Saint Pierre", em alemão por "Petersfisch", em espanhol por "San Pedro" e em italiano por "San Pietro". De acordo com a linguista Charlotte Mary Yonge, esta transversalidade de nomes assenta exactamente na mesma crença popular medieval, que associa esta espécie ao sobredito episódio bíblico.[12][13] Uma lenda relacionada diz que o ponto escuro no flanco do peixe é a impressão digital de São Pedro.[14]

Nomes estrangeiros

Outros nomes conhecidos são o inglês John Dory.[4]

Na costa norte da Galiza-Cantábria, é conhecido como San Martiño.

Na Austrália são conhecidos como john dory ou keparu,[15] mas na Nova Zelândia, os Maoris chamam-lhe kuparu e, na costa leste da Ilha Norte, deram alguns ao capitão James Cook na sua primeira viagem à Nova Zelândia em 1769. Vários barris deles foram mantidos em conserva.[16]

Morfologia

Zeus faber, de William MacGillivray, c. 1840

O peixe-galo atinge um tamanho máximo de 65 cm e 5 kg (12  lb) em peso. Possui pequenas placas ósseas ao longo da base da barbatana dorsal e anal, sendo que a barbatana anal conta com quatro raios duros.[4] Possui escamas microscópicas e afiadas que percorrem o corpo.[4] O peixe exibe uma coloração verde-acinzentada, com uma barriga branca prateada e tem uma mancha escura de ambos os lados, amiúde emoldurada por uma mancha mais clara.[4] Possui um corpo plano e redondo e é um mau nadador.

No que toca à mancha negra lateral, trata-se de um ocelo, que é usado para fins apotrópicos, caso o perigo se aproxime[4]. O ocelo do peixe-galo também serve para confundir as presas, que são capturadas pela boca dissimulada e subdesenvolvida.[16][17]

Por outro lado, os olhos grandes na frente da cabeça fornecem visão binocular e percepção de profundidade, importantes contra predadores.[18]

Presas e predadores

O Peixe-Galo captura a presa perseguindo-a, estendendo a mandíbula para a frente numa estrutura semelhante a um tubo para sugar o peixe com um pouco de água. A água flui através das brânquias; o osso pré-maxilar, o único osso portador de dentes neste peixe, é usado para moer a comida.

Come principalmente peixes ósseos de cardume de menores dimensões[18]. Ocasionalmente, também se alimenta de cefalópodes e crustáceos.[18]

Os predadores naturais são tubarões como o tubarão-negro e peixes ósseos grandes.

Habitat

Os peixes-galo, são peixes costeiros bentopelágicos, encontrados nas costas da África, Sudeste Asiático, Nova Zelândia, Austrália, costas do Japão e costas da Europa, particularmente na costa portuguesa [4] e ao largo do arquipélago da Madeira[9] e Açores. Vivem perto do fundo do mar, a profundidades de 5 a 360 metros. Tendem a ser solitários.

Reprodução e ciclo de vida

Atingem a maturidade sexual aos 3 ou 4 anos de idade.[18] Reproduzem-se entre o final do Inverno e o princípio da Primavera, no Atlântico Norte, sendo que, junto ao Mediterrâneo a época de reprodução começa mais cedo[18]. São dispersores de substrato, isto é, libertam esperma e óvulos na água. Os ovos são pelágicos.[18]

Têm um ciclo de vida de cerca de 12 anos na natureza.[18]

Na alimentação

A escritora de culinária Eliza Acton observou no seu livro de 1845, Cozinha Moderna para Famílias Particulares, que o peixe-galo ou John Dory em inglês: «embora tenha uma aparência pouco convidativa, é considerado por alguns como o peixe mais delicioso que aparece à mesa». Ela recomenda simplesmente assá-lo "com muita delicadeza", evitando ressecá-lo no forno.[19]

Referências

  1. Martins, Rogélia (2018). MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PEIXES ÓSSEOS DA COSTA CONTINENTAL PORTUGUESA. Lisboa: IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera. p. 33. 206 páginas. ISBN 978-972-9083-19-8
  2. Infopédia. «peixe-galo | Definição ou significado de peixe-galo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 6 de novembro de 2021
  3. S.A, Priberam Informática. «peixe-galo». Dicionário Priberam. Consultado em 6 de novembro de 2021
  4. Martins, Rogélia (2018). MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PEIXES ÓSSEOS DA COSTA CONTINENTAL PORTUGUESA. Lisboa: IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera. p. 33. 206 páginas. ISBN 978-972-9083-19-8
  5. Infopédia. «alfaqui | Definição ou significado de alfaqui no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 6 de novembro de 2021
  6. Infopédia. «alfaqueque | Definição ou significado de alfaqueque no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 6 de novembro de 2021
  7. Infopédia. «são-pedro | Definição ou significado de são-pedro no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 6 de novembro de 2021
  8. Infopédia. «galo-negro | Definição ou significado de galo-negro no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 6 de novembro de 2021
  9. «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 6 de novembro de 2021
  10. Verne, Júlio (2009). A Esfinge dos Gelos. São Paulo: Montecristo Editora. 418 páginas. ISBN 9781619650541
  11. «Evangelho de sexta-feira: pesca milagrosa». Opus Dei. Consultado em 6 de novembro de 2021
  12. Yonge, Charlotte Mary (1863). History of Christian Names. Los Angeles, California, USA: Parker, Son, and Bourn. p. 359. 446 páginas
  13. Smythe Palmer, Abram (2005). Folk-Etymology: A Dictionary of Verbal Corruptions or Words Perverted in Form or Meaning, by False Derivation or Mistaken Analogy. Ithaca, New York, USA: Cornell University Library. p. 196. 718 páginas. ISBN 1112081186
  14. The legend is noticed in Stéphan Reebs, Fish Behavior in the Aquarium and in the Wild (Cornell 1991:36); Reebs notes that the fish does not occur in the Sea of Galilee, where Peter fished.
  15. «Zeus faber». fishesofaustralia.net.au. Consultado em 21 de fevereiro de 2021
  16. New Zealand Coastal Fish: John Dory.
  17. Bray, Dianne. «John Dory, Zeus faber». Fishes of Australia. Consultado em 24 de agosto de 2014. Cópia arquivada em 6 de abril de 2017
  18. «Zeus faber, John dory : fisheries, gamefish, aquarium». www.fishbase.se. Consultado em 6 de novembro de 2021
  19. Acton, Eliza (1860) [1845]. Modern Cookery for Private Families. Longman, Green, Longman, & Roberts. [S.l.: s.n.]
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