Agronegócio brasileiro no Paraguai

O agronegócio brasileiro possui uma presença ampla, influente e controversa no Paraguai, especialmente nos territórios que fazem fronteira com os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná. Os latinfundiários brasileiros alteraram profundamente o panorama da agricultura e da distribuição de terras no país. Nos departamentos de Canindeyú e Alto Paraná, brasileiros são donos de 60,1% e 55,2% das terras, respectivamente. No país como um todo, a proporção de terras sob propriedade de brasileiro é de 14,2%.[1] Foram responsáveis pela introdução da soja na década de 1970, e da soja geneticamente modificada na década de 1990, da qual controlam, segundo estimativas, 80% da produção.[2] Além de outras commodities típicas do agronegócio brasileiro, como o milho, o trigo e os produtos da pecuária.[3] Essa população brasileira no Paraguai divide-se geralmente em dois grupos - os brasiguaios, que habitam o país e são, na maior parte, donos de pequenas propriedades; e os empresários brasileiros, que vivem no Brasil e acumulam terras no país vizinho como extensão do agronegócio no centro-oeste e sul.[4]

Historicamente, essa influência remonta ao período de incentivo à instalação de latifundiários brasileiros durante a aproximação entre as ditaduras militares do Brasil e do Paraguai, quando foram iniciadas várias empreitadas extrativistas e de colonização agrária, fonte de diversos conflitos por terra com os camponeses e indígenas da região.[5]

Para alguns pesquisadores, o avanço do agronegócio sobre o Paraguai é expressão do subimperialismo brasileiro na América do Sul, na linha da análise elaborada pelo sociólogo Ruy Mauro Marini já em 1977.[2]

História

As relações entre o Brasil e o Paraguai são historicamente limitadas, em razão da hegemonia argentina na região do Rio da Prata. Com o golpe militar em 1954, e a ascensão do ditador Alfredo Stroessner, o Paraguai inicia um processo de mudança da sua inserção geopolítica no continente, adotando uma política conhecida como diplomacia pendular para balancear sua relação com as potências vizinhas, Argentina e Brasil. Nesse sentido, a aproximação com o Brasil representava uma medida chave para remover o Paraguai da rígida esfera de influência argentina, na qual o regime militar sentia-se ameaçado, e abrir um novo corredor para o comércio ao leste. Enquanto que o Tratado de Itaipu constitui o primeiro passo significativo dessa aproximação, a nova política territorial e agricultural promovida por Stroessner produziu tendências duradouras e gradativamente mais intensas no interior do país, conectando-se com as transformações inerentes à chamada modernização conservadora instaurada no Brasil.[4]

A partir da década de 1950, pronuncia-se no Brasil as tendências de expansão da fronteira agrícola, vinculada à mudanças tecnológicas e territoriais que intensificaram a concentração de terra e a desterritorialização dos trabalhadores rurais no país, especialmente na região sul. Assim, um processo relativamente orgânico de imigração para o Paraguai foi iniciado na década de 1950, que se intensificaria posteriormente com incentivos políticos, legais e financeiros ofertados pelo Estado do Paraguai - como o baixo preço das terras, a ausência de leis que regulassem a compra de terras por estrangeiros, e novas políticas de crédito através do Banco Nacional de Fomento.[4] Em conjunto com esse imigração de trabalhadores rurais, latifundiários e corporações brasileiras também estenderam suas operações para o território vizinho, igualmente favorecidos pela política instaurada por Stroessner, facilitando a mobilização do grande capital para o país. Terras destinadas à reforma agrária, algumas das mais férteis e com abundância de recursos hídricos, foram irregularmente concedidas aos agricultures e corporações brasileiras.[6]

Conflitos socio-ambientais

A consolidação do agronegócio no Paraguai produz uma série de conflitos socio-ambientais análogos aos que permeiam o território brasileiro, exacerbados pela distância que os brasileiros mantém com a população local, com ocorrências frequentes de racismo, violência, inclusive através de forças de segurança privada, e abuso de poder político.

A introdução da soja, e especialmente da soja transgênica, afetou os cultivos alimentares locais, enfraquecendo a soberania alimentar da população. A contaminação por agrotóxicos, resultando do uso por vezes indiscriminado das substâncias químicas, também tem se difundido em regiões antes saudáveis, causando problemas de saúde em populações camponesas e indígenas.[3]

Diversas formas de organização e contestação se difundiram em resposta ao poder do agronegócio brasileiros, com movimentos indígenas, campesinos e sindicais tomando atitudes críticas à política governamental considerada subserviente.[3]

Ver também

Referências

  1. «Proprietários brasileiros têm 14% das terras paraguaias». De olho nos ruralistas. 6 de novembro de 2017. Consultado em 27 de maio de 2023
  2. Pereira 2016, p. 2.
  3. Pereira 2016, p. 8.
  4. Pereira 2016, p. 6.
  5. Pereira 2016, p. 1.
  6. Pereira 2016, p. 7.

Bibliografia

  • Pereira, Lorena Izá (2016). «Territorialização do Agronegócio brasileiro no Paraguai: Reflexões a partir da teoria do subimperialismo». XVIII Encontro Nacional de Geógrafos

Ligações externas

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