Fronteira agrícola Amazônica

A fronteira agrícola amazônica é uma área de ocupação e extensão de atividades ligadas à agropecuária na Amazônia Legal brasileira. A fronteira abrange áreas do norte, nordeste e centro-oeste brasileiros.[1][2] Também é conhecida como arco do desflorestamento, em função da intensa atividade predatória na região.[3][4]

Região aproximada sob influência da fronteira agrícola Amazônica

Embora sua característica fortemente econômica, a fronteira influenciou os mais diversos fatores sociais, demográficos, políticos e até mesmo culturais.[5]

Ocupação

O processo de ocupação amazônica por meio de projetos agrícolas iniciou-se, efetivamente, no final do século XIX, no esteio da construção da Estrada de Ferro de Bragança, porém num processo ainda extremamente efêmero, voltado basicamente para atender a capital paraense e arredores.[6]

A ocupação agrícola definitiva viria somente no advento das décadas de 1950, 1960 e 1970, a partir da abertura da primeira grande via rodoviária de ocupação da região, a rodovia Belém-Brasília. Às margens da rodovia pequenos agricultores foram paulatinamente construindo assentamentos e cultivando nas porções de terra. Aos poucos os primeiros núcleos urbanos foram surgindo, dando os contornos da atual ocupação.[7]

Os outros, e mais marcantes, marcos históricos da ocupação da fronteira agrícola Amazônica se deram com a instalação das outras rodovias na década de 1970: a Transamazônica, Cuiabá-Santarém e Cuiabá-Porto Velho. Neste período iniciou-se um intenso processo de migração de sulistas e nordestinos para a região amazônica. Em pouco tempo as áreas adjacentes destas rodovias estavam densamente povoadas.[7]

Características econômicas

A fronteira, inicialmente, centrava-se numa economia de pequena lavoura e de extração e venda de madeira não processada. A extração e venda da "madeira em tora" foi a principal atividade econômica às margens das rodovias por mais de duas décadas, até quase a exaustão dos recursos vegetais, quando migrou para áreas cada vez mais distantes dos troncos viários, fugindo da fiscalização ambiental. Verdadeiras cadeias industriais e cidades surgiram da atividade madeireira. No entorno dos principais centros urbanos, toda a cadeia da madeira está estagnada ou extinta, reservando-se aos locais de extração e beneficiamento distantes e de difícil acesso.[7]

Na década de 1990 migra para a fronteira as atividades ligadas ao plantio em larga escala (agrobusiness) de soja e milho. A ocupação da fronteira pela soja e pelo milho deu novos contornos a região, que passou a receber grandes investimentos em logística e relativa oferta de capitais.[8]

Paralelamente a extração madeireira e ao plantio de soja e milho, a atividade pecuária cresce de forma vertiginosa na região Amazônica, acompanhando pari passu a expansão da fronteira agrícola. A região chega a ser conhecida por ter "mais cabeças de gado que pessoas".[9][10]

Fatores culturais

A fronteira agrícola amazônica influenciou não somente em fatores demográficos ou econômicos, mas também deixou uma forte e distintiva marca em questões culturais. O exemplo disto é a singular diferença que há entre os costumes de vestimenta, música, dialeto, culinária e visão de espaço e tempo entre as principais capitais da região, Manaus e Belém, e a região da fronteira agrícola amazônica.[carece de fontes?]

Em fatores musicais por exemplo, há uma clara preferência por ritmos como o forró e o sertanejo em detrimento do brega e do carimbó, ritmos tradicionais do vale amazônico.[11]

Dialeto

Ver artigo principal: Dialeto da serra amazônica

A diferença mais marcante em relação á cultura da fonteira diz respeito ao seu modo de falar (ou dialeto). Devido a intensa migração de goianos, mineiros, maranhenses, paulistas, paranaenses e gaúchos, o dialeto local tornou-se uma mescla dos dialetos falados por cada um destes imigrantes.[12]

No meio acadêmico é conhecido por dialeto da serra amazônica[13] (em alusão à localização da fronteira agrícola, nas partes mais altas da amazônia) ou do arco do desflorestamento. Este dialeto é muito próximo dos dialetos nordestino, caipira e sertanejo, e muito diferente daquele falado no restante da amazônia (amazofonia).[12]

Ver também

Referências

  1. «A vida na fronteira agrícola da Amazônia». Revista Época
  2. «Avanço da fronteira agrícola na Amazônia: impactos ambientais sob o ponto de vista climático» (PDF). Universidade Federal Rural da Amazônia
  3. DOMINGUES, Mariana Soares; BERMANN, Célio (2012). «O arco de desflorestamento na Amazônia: da pecuária à soja». São Paulo: Ambiente & Sociedade/Scielo
  4. MANZATTO, Celso Vainer; FREITAS Junior, Elias de; PERES, José Roberto Rodrigues (2002). «Uso Agrícola dos Solos Brasileiros» (PDF). Rio de Janeiro: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. p. 18
  5. «A expansão da fronteira agrícola» (PDF). O Eco
  6. Melo, Érika Cristiane Pinheiro de; Martins, Lélis Rosinildo de Lima. A Estrada de Ferro de Bragança - A Importância do Patrimônio para a Preservação da Memória do Nordeste do Pará. Castanhal: Anais do Encontro de Pesquisa e Mostra de Extensão da Faculdade Estácio de Castanhal. 17 de janeiro de 2019. ISBN 978-85-5722-181-9.
  7. MARQUES, Gilberto S. ; TEIXEIRA DE SOUZA, M. ; GASPAR, B. B. ; MATOS, M. S. ; MIRANDA, S. B. . Programa Grande Carajás: implicações socioeconômicas no município de Marabá (Apresentação de Trabalho/Seminário). Belém: Universidade Federal do Pará, 2013.
  8. «A proteína do campo». Veja Online
  9. «Uma miragem amazônica». Veja Online
  10. «Árvores por gado». revista Educação/UOL
  11. «Artistas aproveitam a explosão do gênero em Marabá». Diário Online. 18 de dezembro de 2012. Consultado em 14 de maio de 2013. Arquivado do original em 28 de junho de 2013
  12. SILVA, Idelma Santiago da (2006). Fronteiras Culturais: alteridades de migrantes nordestinos e sulistas na região de Marabá. Marechal Cândido Rondon: Revista Espaço Plural - Unioeste
  13. BRITO, Heloíde Lima de; SANTOS, Mayra Suany Ferreira dos. (et. all.). Os Dialetos Paraenses. I Colóquio de Letras da FPA: Do Dialeto à Literatura Paraense: Conhecendo o Universo Linguístico-Literário Regional. Capanema: Faculdade Pan-Americana, 2010.

Bibliografia

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