Gonçalo de Baena

Gonçalo de Baena (em castelhano: Gonzalo de Baena; grafia arcaica: Gonçalo de Vaena) (c. 1480 — depois de 1540) foi um músico, compositor e instrutor de música do período renascentista de origem espanhola mas que trabalhou desde a juventude em Portugal na corte de D. Manuel I e D. João III.

Biografia

Gonçalo de Baena nasceu em Espanha por volta de 1480. Logo nos primeiros anos do século XVI foi para Portugal onde, eventualmente, entrou ao serviço da corte portuguesa, por essa altura do rei D. Manuel I e sua esposa castelhana a rainha D. Maria.[1]

Em 1536, trabalhando como músico de câmara para o rei D. João III conseguiu o privilégio real para a publicação da sua magnum opus, um livro de instrução musical chamado "Arte novamente inventada pera aprender a tanger"[1] ou, simplesmente, "Arte de tanger".[2] A sua publicação só foi concretizada em 1540, contando o autor com sessenta anos de idade.[1]

Família

Teve pelo menos um filho que tal como ele também foi músico e compositor ao serviço de D. João III,[3] chamado António de Baena. Na sua "Arte de tanger", Gonçalo de Baena incluiu várias das obras do filho.[1][4]

Arte de tanger

"Arte novamente inventada pera aprender a tanger".

A "Arte novamente inventada pera aprender a tanger" é uma obra musical didática que tem como propósito, segundo as próprias palavras do autor, "ensinar a tanger no instrumento de tecla sem necessidade de mestre" usando para isso um sistema simples baseado em caracteres.[1] Este trabalho é a mais antiga fonte impressa dedicada à música para instrumento de tecla da Península Ibérica.[5] Os instrumentos referidos diretamente por Baena são o manicórdio, que era um tipo de clavicórdio, semelhante a uma espineta mas com um teclado mais extenso, e o órgão (certamente um pequeno órgão de tubos como o representado no frontispício).[1][6]

Neste trabalho, após um prólogo e uma curta introdução ao método utilizado, Gonçalo de Baena apresenta várias adaptações para tecla de músicas vocais preexistentes, maioritariamente religiosas. Algumas das obras originais que adapta são suas, outras do seu filho a quem trata de dar destaque num grupo de variados compositores europeus de renome:

Apesar de ser conhecida a sua publicação, nenhum exemplar dela era conhecido e por isso a obra era tida como perdida. Tal veio a não se confirmar visto que em 1991 foi descoberto um exemplar sobrevivente, aparentemente o último, na Biblioteca do Palácio Real de Madrid. Esta descoberta foi classificada como um evento da maior importância para a compreensão história da música europeia.[2][5]

Lista de obras

N.ºVozesFólioNomeTomCompositor da obra original
12vv9r"Domine Deus"4.ºJohannes Ockeghem
22vv9v"Loysset. primeiro toõ"1.ºLoyset Compère
32vv9v"Loyset primeiro toõ"1.ºLoyset Compère
42vv10r"Crucifixus etiam pro nobis"1.ºLoyset Compère
52vv10r"Et ascendit in celum"1.ºLoyset Compère
62vv10v"Et iterum venturus est cum gloria"1.ºLoyset Compère
72vv11r"Pleni sunt"1.ºJosquin des Prez (Atrib. erradamente a Jacob Obrecht)
82vv11v"Benedictus"4.ºJosquin des Prez
92vv11v"Pleni sunt" (missa "Hercules Dux Ferrariae")1.ºJosquin des Prez
102vv12v"Agnus Dei" (missa "Ave maris stella")1.ºJosquin des Prez
112vv13r"Kyrie eleison"4.ºFrancisco de Peñalosa
122vv13r"Christe eleison"4.ºFrancisco de Peñalosa
132vv13r"Kyrie eleison"8.ºFrancisco de Peñalosa
142vv13v"Christe eleison"8.ºFrancisco de Peñalosa
152vv13v"Quia fecit"6.ºJuan de Urrede
162vv14v"Esurientes implevit bonis"6.ºJuan de Urrede
172vv15r[Escobar. Oitavo tom]8.ºPedro de Escobar
182vv15v"Conditor alme syderum" (mão esquerda)4.ºGonçalo de Baena?
192vv16r"Conditor alme siderum" (mão direita)4.ºGonçalo de Baena?
202vv16v"Jesu nostra redemptio"1.ºGonçalo de Baena?
212vv17v"Pleni sunt" (missa "De plus en plus")8.ºJohannes Ockeghem
222vv18r"Benedictus"8.ºJacob Obrecht
233vv18v"Benedictus"5.ºJosquin des Prez
243vv19r"Benedictus"1.ºAntónio de Baena
253vv20r"Pleni sunt"1.ºJosquin des Prez
263vv20v"Benedictus"8.ºJohannes Ockeghem
273vv21r"Unica est columba mea"4.ºFrancisco de Peñalosa
283vv22v"Si sumsero penas meas"8.ºJacob Obrecht (Atrib. erradamente a Alexander Agricola)
293vv24v"Pleni sunt"8.ºAntónio de Baena
303vv25r"In pace, in edipsum dormiam"8.ºJosquin des Prez
313vv26r"Agnus Dei"4.ºMathieu Gascongne
323vv27r"Mater patris"1.ºAntoine Brumel (Atrib. erradamente a Loyset Compère)
333vv29v"Ave maris stella"1.ºGonçalo de Baena
343vv30r"Helas que pourra devenir"8.ºFirminus Caron
353vv31v"Si dedero"8.ºAlexander Agricola (Atrib. erradamente a Jacob Obrecht)
363vv32v"Pange lingua"5.ºJoão de Badajoz
373vv33r"Motete do cego" e volta1.ºAlexander Agricola
383vv38r"Congratulamini mihi omnes"1.ºJuan de Anchieta
393vv39v"Agnus Dei"1.ºAntoine de Févin
403vv40r"Si dedero"8.ºGonçalo de Baena
414vv41r"In diebus illis"8.ºCristóbal de Morales
424vv42v"Et in terra" (missa "Beata Virgine")1.ºJosquin des Prez
434vv44r"Qui tollis" (missa "Ave maris stella")1.ºJosquin des Prez
444vv45r"Agnus Dei" (missa "Fa re mi re")1.ºAntónio de Baena
454vv46v"Patrem omnipotentem"1.ºLoyset Compère
464vv48v"Kyrie eleison"8.ºAntónio de Baena
474vv49r"Agnus Dei" (missa "Hercules Dux Ferrariae")1.ºJosquin des Prez
484vv50r"Clamabat autem mulier cananea"6.ºPedro de Escobar
494vv52v"Kyrie eleison"6.ºAntónio de Baena
504vv53r"Deposuit potentes"1.ºJuan García de Basurto
514vv53v"Patrem omnipotentem"8.ºPedro de Escobar
524vv55r"Christe eleison"6.ºAntónio de Baena
534vv55v"Kyrie eleison"6.ºAntónio de Baena
544vv56r"Kyrie eleison"1.ºAntónio de Baena
554vv56v"Kyrie eleison de Nuestra Señora"1.ºGonçalo de Baena?
564vv57r"Christe eleison de Nuestra Señora"1.ºGonçalo de Baena?
574vv57r"Kyrie de Nuestra Señora"1.ºGonçalo de Baena?
584vv57v"Kyrie eleison de Nuestra Señora"1.ºGonçalo de Baena?
594vv58r"Sanctus" (missa "Sola la fare mi vida")1.ºAntónio de Baena
604vv58v"Osanna" (missa "Sola la fare mi vida")1.ºAntónio de Baena
614vv59v"Sanctus" (missa "La sol fa re mi")4.ºJosquin des Prez
624vv60r"Pleni sunt"8.ºJosquin des Prez
634vv61r"Agnus Dei" (missa "Ave maris stella")1.ºJosquin des Prez
644vv61v"Patrem omnipotentem" (missa "L'homme armé")4.ºJosquin des Prez
654vv63v"Pleni sunt" (missa "La sol fa re mi")4.ºAntónio de Baena

Ver também

Referências

  1. Baena, Gonçalo (1540). Arte novamente inventada pera aprender a tanger. Lisboa: Casa de Germam Galharde. De donde como yo considerasse ya llegado a sesenta años. Aviendo servido casi quarenta a vuestra real alteza de musico de camara
  2. Knighton, Tess (2012). «Arte para Tanger». Edições Colibri
  3. Sousa, António Caetano de (1748). Provas da historia genealogica da Casa Real Portugueza. VI. Lisboa: Régia Oficina Silviana
  4. Oliveira, Filipe (2011). «A música de tecla em Portugal de 1540 a 1620». A Génese do tento no testemunho dos manuscritos P-Cug MM 48 e MM 242 (Doutoramento). Universidade de Évora
  5. Forst, Bruno (2012). «Arte novamente inventada pera aprender a tãger. Lisboa, 1540». Ars Antiqua
  6. «monacordio». Diccionario de la lengua española - Real Academia Española

Ligações externas

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