Conspiração do Curvelo

Conspiração do Curvelo é como pode ser chamado o episódio ocorrido na então Capitania das Minas do Ouro (atual estado de Minas Gerais), numa série de eventos revoltosos ocorridos no Brasil Colônia que tiveram início com a Guerra dos Emboabas, passando pela Revolta de Felipe dos Santos e que culminaram na Inconfidência Mineira.

Contexto histórico

Desde a década de 1740 vivia a Capitania das Minas um clima de iminente sedição. Por conta disto foi dado, em 1775, ao Governador-Geral poderes de sentenciar eventuais revoltosos.[1]

Portugal, a metrópole, vivera já o terremoto que destruíra Lisboa em 1755, e alçara ao poder a figura do Marquês de Pombal que, entre outras medidas, expulsara os jesuítas e implantara nas colônias o ônus de custear a reconstrução da capital do Reino.

A só expulsão da Companhia de Jesus - com a apropriação de seus tesouros - não bastou e nas Minas vicejavam manifestações de descontentamento contra a Corte, que se espalhavam da capital Vila Rica, Sabará e no então arraial de Santo Antônio do Curvelo (atual cidade de Curvelo) situava-se na Comarca do Rio das Velhas, então no centro da capitania das Minas.[2]

O rei era chamado de pateta ou demente e comparado aos perseguidores dos cristãos na Roma Antiga, Nero e Diocleciano, ao passo em que a Coroa imputava aos jesuítas tal estado de coisas agindo por meio de padres disfarçados (que tenham escapado à expulsão de 1758, e que na década de 1760 eram encontrados vagando pelos sertões), seus ex-alunos e simpatizantes.[2]

As inconfidências de 1760-1763

Foram nos anos 1760 que em Curvelo se espalharam cópias dum papel que diziam ser reprodução de um breve papal no qual o Sumo Pontífice recriminava de modo ofensivo ao rei português, e que seria uma resposta às perseguições aos nobres acusados de tentativa de regicídio e pela expulsão dos jesuítas.[2]

Entre os anos 1760 a 1763 ocorrem ali três devassas, promovidas pelo rico padre Carlos José de Lima as duas primeiras, e a terceira pelo representante do Arcebispo de Salvador, que resultaram na incriminação de dois inimigos do padre: Antão de Jesus Maria, franciscano, e Lourenço Feliz de Jesus Cristo - que revelava a disputa pelo poder local.[2]

A inconfidência de 1776

Em Curvelo, homens letrados debatiam a situação, criticando a monarquia e a perseguição religiosa aos Jesuítas, ganhando corpo o clima de revolta.[1] As críticas ao rei, desta feita, partiram do mesmo padre Lima - que nos episódios anteriores atuara como juiz.[2]

Suas críticas ao monarca acabaram denunciadas por seus inimigos.[2] Era governador Antônio de Noronha, e este procurou agir com rigor na forma dos poderes que lhe tinham sido conferidos em 1775[1] - mas sua reação não atingiu somente ao padre Lima: prendeu também aqueles que, havendo dele escutado as injúrias régias, não as delataram e, também, aos próprios denunciantes.[2]

Pronunciados por inconfidência, foram os réus enviados para Lisboa.[1] O episódio demonstra o clima de sedição que palpitava nas Minas Gerais, antes do episódio que veio a culminar na Inconfidência.[2]

Em 1776 o governador Noronha escreveu a Pombal:

Me horrorizam tanto as sacrílegas, blasfemas e sediciosas palavras que temerariamente proferiu o primeiro clérigo, as quais se provam dos autos, que me não animo a convocar os ministros desta capitania para uma junta, onde as mesmas sediciosas palavras se hão de fazer públicas nos termos do processo e da defesa que se deve dar dos réus (...) Queira V. Excia. persuadir-se de que eu procuro e me empenho em servir a S. Mgde. com aquela honra e zelo que devo; e se acaso errei nesta matéria, foi porque a gravidade dela excede a minha capacidade.

D. Antônio de Noronha, Carta ao Marquês de Pombal, 1776[1]

Referências

  1. Souza, Laura de Mello e. Editora UFMG, ed. Norma e conflito: aspectos da história de Minas no século XVIII. 1999 2ª (ilustrada) ed. Belo Horizonte: [s.n.] 231 páginas. ISBN 8570411707
  2. Catão, Leandro Pena (1 de junho de 2008). «Mania de Incofidência». Revista de História da Biblioteca Nacional. Consultado em 23 de agosto de 2015. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2017
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