Intervalo entre primos

Um intervalo entre primos consecutivos é a diferença entre dois números primos sucessivos. O n-ésimo intervalo de primos, denotado por gn ou g(pn) (Usa-se a letra g do inglês prime gap) é a diferença entre (n + 1)-ésimo é o n-ésimo números primos, i.e.

Distribuição de frequência dos intervalos entre primos consecutivos para primos até 1,6 bilhões. Os picos ocorrem em múltiplos de 6. [1]

Tem-se que g1 = 1, g2 = g3 = 2, e g4 = 4. A sequência (gn) dos intervalos entre primos é intensamente estudada, por conta de sua importância na distribuição dos números primos. Apesar disso, diversas conjecturas permanecem sem demonstração ou refutação. Os primeiros 60 intervalos entre dois primos consecutivos são:

1, 2, 2, 4, 2, 4, 2, 4, 6, 2, 6, 4, 2, 4, 6, 6, 2, 6, 4, 2, 6, 4, 6, 8, 4, 2, 4, 2, 4, 14, 4, 6, 2, 10, 2, 6, 6, 4, 6, 6, 2, 10, 2, 4, 2, 12, 12, 4, 2, 4, 6, 2, 10, 6, 6, 6, 2, 6, 4, 2, ... (sequência A001223 na OEIS).

Pela definição de gn, todo número primo pode ser escrito como

Observações iniciais

O primeiro, menor e único intervalo entre primos consecutivos ímpar é 1, entre o único número primo par, 2, e o primeiro número primo ímpar, 3. Todos os outros intervalos entre primos são pares, pelo fato de quaisquer dois primos consecutivos maiores que 3 terem diferença par. Existe apenas um par de intervalos entre três números naturais ímpares dos quais todos são primos. Estes intervalos são g2 eg3 entre os primos 3, 5 e 7 (o único par de números primos trigêmeos).

Para algum número primo P, escrevemos P# para representar P primorial, ou seja, o produto de todos os números primos menores ou iguais a P. Se Q é o número primo seguinte a P, então a sequência

é uma sequência Q  2 números inteiros compostos, onde temos um intervalo entre primos de tamanho mínimo Q  1. Portanto, existem intervalos entre primos de tamanho arbitrariamente longos, i.e., para cada número primo P, existe um inteiro n com g. Outra forma de ver que intervalos arbitrariamente grandes de primos é o fato de que a densidade de números primos se aproxima de zero, de acordo com o Teorema do Número Primo.

Na verdade, intervalos entre primos de P números podem ocorrer com números muito menores que P#. Por exemplo, a menor sequência de 71 números inteiros compostos consecutivos ocorre entre 31398 e 31468, enquanto 71# tem vinte e sete dígitos – seu valor total é 557940830126698960967415390.


Ainda que os intervalos das diferenças entre primos aumentem assintoticamente como o logaritmo neperiano, a razão dos intervalos entre primos para os inteiros decresce e assintoticamente é 0. Isso é novamente consequência do teorema do número primo.

Na direção oposta, a conjectura dos primos gêmeos afirma que gn = 2 para infinitos valores inteiros de n.

Resultados numéricos

O maior intervalo entre dois primos conhecidos até 2016 com prováveis primos identificados tem tamanho 4680156, com números primos de 99750 dígitos encontrada por Martin Raab. O maior intervalo entre dois primos com primos já provados tem tamanho 1113106, com números primos de 18662 encontrados por P. Cami, M. Jansen and J. K. Andersen.[2][3]

Dizemos que gn é um intervalo maximal, se gm < gn m < n. O maior intervalo maximal conhecido até agosto de 2016 tem tamanho 1476, encontrado por Tomás Oliveira e Silva. É o septuagésimo-sétimo intervalo maximal, e ocorre após o número primo 1425172824437699411.[4] Outros recordes de intervalos maximais podem ser vistos em (sequência A002386 na OEIS).

Em 1931, Westzynthius provou que os intervalos entre primos cresce de forma maior do que a logarítmica. Ou seja, [5]

Normalmente, a razão gn / ln(pn) é chamada de mérito de um intervalo entre primos gn .

Maiores valores de "mérito" conhecidos (até novembro de 2016)[6][7][8]
MéritognalgarismospnDataDescobridor
36,858288107161272016Dana Jacobsen
36,590183136921632016Dana Jacobsen
36,420568268923212016Dana Jacobsen
35,424459665208162012Michiel Jansen
35,31030814761914251728244376994112009Tomás Oliveira e Silva

Até novembro de 2016, o maior valor de "mérito" conhecido foi descoberto por Dana Jacobsen, sendo

onde 283# indica o primorial de 283.[6]

A razão de Cramér–Shanks–Granville é dada por

[6]

O maior valor conhecido dessa razão é 0,9206386 para o primo 1693182318746371. Outros termos recordes estão em (sequência A111943 na OEIS).

Os 75 primeiros intervalos maximais (n não está listado)
Números de 1 a 25
#gnpn
112
223
347
4623
5889
614113
718523
820887
9221 129
10341 327
11369 551
124415 683
135219 609
147231 397
1586155 921
1696360 653
17112370 261
18114492 113
191181 349 533
201321 357 201
211482 010 733
221544 652 353
2318017 051 707
2421020 831 323
2522047 326 693
Números de 26 a 50
#gnpn
26222122 164 747
27234189 695 659
28248191 912 783
29250387 096 133
30282436 273 009
312881 294 268 491
322921 453 168 141
333202 300 942 549
343363 842 610 773
353544 302 407 359
3638210 726 904 659
3738420 678 048 297
3839422 367 084 959
3945625 056 082 087
4046442 652 618 343
41468127 976 334 671
42474182 226 896 239
43486241 160 624 143
44490297 501 075 799
45500303 371 455 241
46514304 599 508 537
47516416 608 695 821
48532461 690 510 011
49534614 487 453 523
50540738 832 927 927
Números de 51 a 75
#gnpn
515821 346 294 310 749
525881 408 695 493 609
536021 968 188 556 461
546522 614 941 710 599
556747 177 162 611 713
5671613 829 048 559 701
5776619 581 334 192 423
5877842 842 283 925 351
5980490 874 329 411 493
60806171 231 342 420 521
61906218 209 405 436 543
629161 189 459 969 825 483
639241 686 994 940 955 803
641 1321 693 182 318 746 371
651 18443 841 547 845 541 059
661 19855 350 776 431 903 243
671 22080 873 624,627,234,849
681 224203 986 478 517 455 989
691 248218 034 721 194 214 273
701 272305 405 826 521 087 869
711 328352 521 223 451 364 323
721 356401 429 925 999 153 707
731 370418 032 645 936 712 127
741 442804 212 830 686 677 669
751 4761 425 172 824 437 699 411

Resultados posteriores

Limite superior

O postulado de Bertrand, provado em 1852, afirma que sempre existe um número primo entre k e 2k, em particular pn+1 < 2pn, o que significa que gn < pn.

O teorema do número primo, provado em 1896, diz que as distâncias totais entre dois intervalos entre o primo p e o próximo primo é ln(p). O real tamanho do intervalo pode ser muito maior ou menor. Apesar disso, o teorema do número primo nos deduz um limite superior para o tamanho dos intervalos entre primos: Para todo ε > 0, existe um número N tal que

gn < εpn n > N.

Pode-se deduzir que os intervalos arbitrariamente pequenos tem proporções com os números primos a partir do limite do quociente


Hoheisel em 1930 foi o primeiro a mostrar[9] que existe uma constante θ < 1 tal que

mostrando assim que

para n suficientemente grande.

Hoheisel obteve um possível valor para θ. O valor da constante foi posteriormente aprimorado para Heilbronn,[10] e para θ = 3/4 + ε, para algum ε > 0, por Chudakov.[11]

O melhor resultado é devido a Ingham,[12] que mostrou que

para alguma constante positiva c, onde O' refere-se à notação de ordem de grandeza, e

para algum . ζ denota a função zeta de Riemann e π a função contagem de números primos. Sabendo que para algum é admissível, obtém-se que θ é um número maior que .

Uma consequência imediata do resultado de Ingham é que sempre existe um número primo entre n3 e (n + 1)3, se n é suficientemente grande.[13] A hipótese de Lindelöf pode implicar que a fórmula de Ingham funciona para qualquer constante positiva c: mas mesmo isso não é o suficiente para implicar que existe um número primo entre n2 e (n + 1)2 para n suficientemente grande (veja a Conjectura de Legendre). Para verificar isso, um resultado mais forte como a conjectura de Cramér se faz necessária.

Huxley em 1972 mostrou que pode-se escolher θ = \frac{7}{12} = 0,58(3).[14]

Um resultado, devido a Baker, Harman e Pintz em 2001, mostrou que θ pode ser tomado como sendo 0,525.[15]

Em 2005, Daniel Goldston, János Pintz e Cem Yıldırım demonstraram que

e dois anos mais tarde mostraram que [16]

Em 2013, Yitang Zhang provou que

significando assim que existem infinitos intervalos entre dois primos consecutivos que não excedem 70 milhões.[17] Um esforço colaborativo do projeto Polymath Project é feito para otimizar o limite de Zhang.[18] Em novembro de 2013, James Maynard criou um novo refinamento, permitindo a ele reduzir o limite para 600 e mostra que para algum m existe um intervalo maximal de m números primos.[19] Usando as ideias de Maynard, o projeto Polymath melhorou o limite para 46;[18][20] assumindo a conjectura de Elliott–Halberstam, N pode ser reduzido para 12 e 6, respectivamente.[18]

Limites inferiores

Em 1938, Robert Rankin provou a existência de uma constante c > 0 tal que a desigualdade

funciona para infinitos valores de n, melhorando os resultados de Westzynthius e Paul Erdős. Ele posteriormente mostrou que esta constante pode ser c < eγ,onde γ é a constante de Euler–Mascheroni. O valor da constante c foi melhorado em 1997 para um valor menor que 2eγ.[21]

Paul Erdős ofereceu um prêmio de $10000 (10000 dólares) para uma prova ou refutação de que a constante c na desigualdade acima pode ser tomado como sendo arbitrariamente grande. Foi provado como sendo correto em 2014 por Ford–Green–Konyagin–Tao e, de forma independente, por James Maynard.[22][23]

O resultado foi posteriormente melhorado para

para infinitos valores de n por Ford–Green–Konyagin–Maynard–Tao.[24]

Limites inferiores para cadeias de primos podem então ser determinados.[25]

Conjecturas sobre o intervalo entre primos

A função de intervalo entre primos.

Mesmo melhores resultados estão condicionados à hipótese de Riemann. Harald Cramér demonstrou[26] que a hipótese de Riemann inplica que gn satisfaz[27]

Posteriormente, ele conjecturou que esses valores são sempre menores. Ou seja, a conjectura de Cramér utiliza a seguinte assertiva:

A conjectura de Firoozbakht afirma que (onde é o n-ésimo número primo) é uma função estritamente decrescente de n, i.e.,

Se esta conjectura for verdadeira, então a função satisfaz

[28]

Isso implica na forma forte da conjectura de Crámer, mas é inconsistente com as heurísticas de Granville e Pintz[29][30][31] que sugere que vale para onde denota a constante de Euler-Mascheroni.

Enquanto isso, a conjectura de Oppermann é mais fraca que a conjectura de Cramér. O tamanho esperado de um intervalo entre dois primos consecutivos com a conjectura de Oppermann é da ordem de

Como resultado, isso significa (assumindo a conjectura de Oppermann como verdadeira) m > 0 (provavelmente m = 30) para todo número natual n > m satisfaz

A conjectura de Andrica, a qual é mais fraca que a de Oppermann, afirma que[32]

Como uma função aritmética

O tamanho do intervalo gn entre o n-ésimo e o (n + 1)-ésimo números primos é um exemplo de função aritmética. Nesse contexto, é usualmente denotada por dn e chamada de função diferença entre primos.[32] Esta função não aditiva nem multiplicativa. [33]

Programa em Python

Vários tipos de programas podem ser feitos para calcular o valor de , sendo um importante recurso para a matemática computacional. Abaixo, tem-se uma versão para Python, que calcula para os números primos entre 1 e 10000 (até ao número primo 9973): [33]


def prime(num):
    for divisor in range(2, num):
        if num % divisor == 0:
            return False
    return True

list_prime = []
for i in range(1,10000):
    if prime(i):
        list_prime.append(i)
        
for n in range(2, len(list_prime)):
    print(f'g({n-1}) = {list_prime[n] - list_prime[n-1]}')

Ver também

Ligações externas

Referências

  1. "Hidden structure in the randomness of the prime number sequence?", S. Ares & M. Castro, 2005
  2. Andersen, Jens Kruse. «The Top-20 Prime Gaps». Consultado em 13 de junho de 2014
  3. Intervalo de tamanho 1113106
  4. Intervalos maximais
  5. Westzynthius, E. (1931), «Über die Verteilung der Zahlen die zu den n ersten Primzahlen teilerfremd sind», Commentationes Physico-Mathematicae Helsingsfors (em alemão), 5: 1–37, JFM 57.0186.02, Zbl 0003.24601.
  6. NEW PRIME GAP OF MAXIMUM KNOWN MERIT
  7. Dynamic prime gap statistics
  8. «TABLES OF PRIME GAPS». Consultado em 9 de janeiro de 2017. Cópia arquivada em 20 de junho de 2016
  9. Hoheisel, G. (1930). «Primzahlprobleme in der Analysis». Sitzunsberichte der Königlich Preussischen Akademie der Wissenschaften zu Berlin. 33: 3–11. JFM 56.0172.02
  10. Heilbronn, H. A. (1933). «Über den Primzahlsatz von Herrn Hoheisel». Mathematische Zeitschrift. 36 (1): 394–423. doi:10.1007/BF01188631
  11. Tchudakoff, N. G. (1936). «On the difference between two neighboring prime numbers». Math. Sb. 1: 799–814
  12. Ingham, A. E. (1937). «On the difference between consecutive primes». Quarterly Journal of Mathematics. Oxford Series. 8 (1): 255–266. doi:10.1093/qmath/os-8.1.255
  13. Cheng, Yuan-You Fu-Rui (2010). «Explicit estimate on primes between consecutive cubes». Rocky Mt. J. Math. 40: 117–153. Zbl 1201.11111. doi:10.1216/rmj-2010-40-1-117
  14. Huxley, M. N. (1972). «On the Difference between Consecutive Primes». Inventiones Mathematicae. 15 (2): 164–170. doi:10.1007/BF01418933
  15. Baker, R. C.; Harman, G.; Pintz, J. (2001). «The difference between consecutive primes, II». Proceedings of the London Mathematical Society. 83 (3): 532–562. doi:10.1112/plms/83.3.532
  16. Goldston, D. A.; Pintz, J.; Yildirim, C. Y. (2007). «Primes in Tuples II». arXiv:0710.2728Acessível livremente [math.NT]
  17. Zhang, Yitang (2014). «Bounded gaps between primes». Annals of Mathematics. 179 (3): 1121–1174. MR 3171761. doi:10.4007/annals.2014.179.3.7
  18. «Bounded gaps between primes». Polymath. Consultado em 21 de julho de 2013
  19. Maynard, James (2015). «Small gaps between primes». Annals of Mathematics. 181 (1): 383–413. MR 3272929. doi:10.4007/annals.2015.181.1.7
  20. D.H.J. Polymath (2014). «Variants of the Selberg sieve, and bounded intervals containing many primes». Research in the Mathematical Sciences. 1 (12). MR 3373710. arXiv:1407.4897Acessível livremente. doi:10.1186/s40687-014-0012-7
  21. Pintz, J. (1997). «Very large gaps between consecutive primes». J. Number Theory. 63 (2): 286–301. doi:10.1006/jnth.1997.2081
  22. Ford, Kevin; Green, Ben; Konyagin, Sergei; Tao, Terence (2016). «Large gaps between consecutive prime numbers». Ann. Of Math. 183 (3): 935–974. MR 3488740. arXiv:1408.4505Acessível livremente. doi:10.4007/annals.2016.183.3.4
  23. Maynard, James (2016). «Large gaps between primes». Ann. Of Math. 183 (3): 915–933. MR 3488739. arXiv:1408.5110Acessível livremente. doi:10.4007/annals.2016.183.3.3
  24. Ford, Kevin; Green, Ben; Konyagin, Sergei; Maynard, James; Tao, Terence (2015). «Long gaps between primes». arXiv:1412.5029Acessível livremente [math.NT]
  25. Ford, Kevin; Maynard, James; Tao, Terence (13 de outubro de 2015). «Chains of large gaps between primes». arXiv:1511.04468Acessível livremente [math.NT]
  26. Cramér, Harald (1936). «On the order of magnitude of the difference between consecutive prime numbers» (PDF). Acta Arithmetica. 2: 23–46
  27. Sinha, Nilotpal Kanti (2010). «On a new property of primes that leads to a generalization of Cramer's conjecture». arXiv:1010.1399Acessível livremente [math.NT].
  28. Granville, A. (1995). «Harald Cramér and the distribution of prime numbers» (PDF). Scandinavian Actuarial Journal. 1: 12–28.
  29. Granville, Andrew (1995). «Unexpected irregularities in the distribution of prime numbers» (PDF). Proceedings of the International Congress of Mathematicians. 1: 388–399.
  30. Pintz, János (2007). «Cramér vs. Cramér: On Cramér's probabilistic model for primes». Funct. Approx. Comment. Math. 37 (2): 232–471
  31. Guy (2004) §A8
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