Ilha de Marajó

A Ilha do Marajó (inicialmente chamada de Marinatambal)[2] é uma ilha costeira do tipo fluviomarítima situada na Área de Proteção Ambiental do arquipélago do Marajó, no estado do Pará, na região norte do Brasil.[3][4][5] Considerada a maior ilha fluviomarítima do planeta.[6]

 Nota: "Marajó" redireciona para este artigo. Para o automóvel produzido pela Chevrolet na década de 1980, veja Chevrolet Marajó.
Ilha do Marajó


No detalhe (azul), a Ilha do Marajó.
0° 58' S 49° 34' O
Geografia física
País  Brasil
Localização Pará
Arquipélago Arquipélago do Marajó
Área 40.100,00 (35º)  km²
Geografia humana
Gentílico marajoara[1]
População 533 397 habitantes (2015/IBGE)

A desembocadura do rio Amazonas e a Ilha de Marajó.

A ilha de Marajó está separada do continente pelo delta do Amazonas, pelo complexo estuário do rio Pará e pela baía do Marajó.

Etimologia

Segundo o Pe. Giovanni Gallo (1997:108)[7] "Marajó" (M-bará-yó) é o "tirado do mar" e também o "tapa-mar". Viria de Mbará, que pode variar em mará e pará, ou seja, "o mar". Já Batista Caetano diz que "pará" deriva de y-pá-rá, ou "as águas que colhem", isto é, "o colecionador das águas". Para o Pe. Giovanni Gallo Marajó, o emaranhado de caminhos, é portanto o dédalo de igarapés (igará-apé), o caminho da canoa, que, por sua vez é a dona da água, ou superior à água. O Marajó seria o "emaranhado de caminhos aquáticos da dona da água".[8]

História

Detalhe da Ilha de Marajó.

Ancestralmente, a ilha era chamada de Marinatambal pelos indígenas (confirmado por Walter Raleigh no século XVI), e na época colonial européia foi denominada Ilha Grande de Joannes[2]

A ilha do Marajó, entre os anos de 400 e 1300, era ocupada por cerca de 40 mil habitantes, residentes em casas de chão batido sobre palafitas de terra, em uma sociedade de linhagem materna. Desde a infância, as marajoaras desenvolviam a arte de modelagem da argila, produção da cerâmica marajoara e o cultivo e manejo da mandioca. No início da adolescência, as marajoaras tinham os corpos pintados e usavam uma tanga de cerâmica decorada com traços referentes aos genitais.[9][10][11][12][13][14]

A sociedade marajoara (termo global) subdividia-se em fases distintas de acordo com níveis de ocupação e desenvolvimento social: Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Acauã,[15] Alta Marajoara e, Aruã.[16] Nas duas últimas, desenvolveu-se o que chama-se de civilização (caracterizada basicamente por construção de comunidades fixas)[17][18][19] chamada de Cacicados Amazônidas,[20] que ia desde o Tapajós até a foz do rio Amazonas.[20] No período de 400 a 1400 d.C., principalmente na ilha do Marajó, os indígenas levantavam suas casas sobre morros artificiais, estrutura elevada que protegia das inundações, chamados de teso.[21][22][23]

Em 23 de dezembro de 1665, o rei Dom Afonso VI de Portugal outorga a António de Sousa Macedo, seu secretário de Estado, a donataria da Capitania da Ilha Grande de Joanes, constituída pelo território da atual Ilha de Marajó. Em 1754, a coroa portuguesa compra as terras da capitania e reverte sua administração ao Estado do Grão-Pará e Maranhão.

Geografia

Com uma área de 40.100 km², é a maior ilha costeira do Brasil e a maior ilha fluviomarítima do planeta (banhada ao mesmo tempo tanto por águas fluviais quanto por oceânicas),[6] banhada pelo rio Amazonas a oeste e noroeste, pelo oceano Atlântico ao norte e nordeste, pela baía do Marajó a leste e sudeste e pelo complexo de canais distributários do rio Tocantins e do rio Pará a sul.[24]

Clima

A classificação climática dada à região, conforme Köppen, é do tipo Ami, cujo regime pluviométrico anual define uma estação seca, porém com total pluviométrico suficiente para manter este período, não caracterizando a presença de um déficit hídrico na região. A subdivisão climática da região, segundo a classificação bioclimática da Amazônia de Bagnoul e Gaussen, caracteriza-a como sub-região eutermaxérica que compreende um clima equatorial com temperatura média do mês mais frio superior a 20 °C e temperatura média anual de 26ºC. A precipitação anual é sempre maior que 2 000 milímetros. As estações são inexistentes ou pouco acentuadas. A amplitude térmica é muito fraca e os dias têm a mesma duração das noites. A umidade relativa do ar é alta (> 80%), com ausência total de período seco. Nesta região, predomina o centro de massa de ar equatorial e surgem, também, bolsões de ar na foz do rio Amazonas.[25]

Biodiversidade local

Marajós é a maior ilha fluviomarinha do mundo e possui uma rica biodiversidade devido à sua localização estratégica entre a floresta amazônica e o oceano Atlântico [3].

A região abriga uma grande diversidade de ecossistemas, incluindo florestas tropicais, manguezais, savanas e áreas alagadas. Essa variedade de habitats contribui para a existência de uma ampla gama de espécies vegetais e animais [26].

Flora

A flora da Ilha de Marajó é caracterizada por uma vegetação exuberante, com presença de espécies típicas da Amazônia, como açaí, buriti, palmeiras e várias espécies de árvores e plantas medicinais. Os manguezais também são uma parte importante da paisagem, oferecendo abrigo e alimentação para muitas espécies marinhas e aves migratórias [27]

Fauna

Em termos de fauna, a Ilha de Marajó abriga uma grande diversidade de espécies. Existem várias espécies de mamíferos, como o guará vermelho, o cervo-do-pantanal, o macaco-prego e o tamanduá-bandeira. A avifauna é especialmente rica, com mais de 400 espécies de aves registradas, incluindo garças, colhereiros, tuiuiús, araras e várias espécies de aves aquáticas. Além disso, a ilha também abriga répteis, como jacarés, tartarugas e serpentes, além de uma variedade de peixes de água doce e marinhos [26].

Economia

Outro destaque da ilha: é o lugar de maior rebanho de búfalos do Brasil, cerca de 600 mil cabeças.[28]

Búfalo no município de Salvaterra - PA

Divisão política e estatística

O território do arquipélago do Marajó, com 104 606,90 quilômetros quadrados, é dividido em dezesseis municípios distribuídos em duas regiões geográficas imediatas (Região Geográfica Imediata de Breves e Região Geográfica Imediata de Soure-Salvaterra). As duas regiões formam a Região Geográfica Intermediária de Breves.

Antigamente, também era dividida em dezesseis municípios, que integravam a entidade estatística extinta denominada Mesorregião do Marajó. Esta era dividida em três microrregiões:[29]

A ilha do Marajó propriamente dita, com 40 100 quilômetros quadrados, possui 12 sedes de municípios: Santa Cruz do Arari, Afuá, Anajás, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, São Sebastião da Boa Vista e Soure, que formam as Microrregiões do Arari e do Furo de Breves. Já a microrregião de Portel é formada em boa parte por territórios no continente em si[30].[carece de fontes?]

Unidades de conservação

Estão inclusos e sobrepostos na Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó os seguintes locais:

Importância cultural e econômica

A cultura marajoara, uma antiga civilização indígena que floresceu na região entre os séculos 5 e 14 d.C., deixou um rico legado arqueológico na ilha. Suas cerâmicas decoradas são mundialmente conhecidas e podem ser encontradas em museus ao redor do Brasil [31].

Além disso, a Ilha de Marajó atrai turistas interessados em explorar suas belas paisagens naturais, fazer passeios de barco pelos rios e desfrutar das praias de água doce. Também é possível visitar fazendas de búfalos, experimentar a culinária local, que inclui pratos à base de peixe e búfalo, e participar de festivais culturais, como o MarajóFest e o Festival do Carimbó [32].

Fases

Considera-se que a "cultura marajoara" - na visão de que este é um termo global - subdivida-se em várias fases distintas, refletindo níveis de ocupação e desenvolvimento da sociedade: Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Acauã,[33] Alta Marajoara e, Aruã.[34] Nas duas últimas desenvolveu-se o que chama-se de civilização (cacicados amazônicos),[35][36][37][38] desde o rio Tapajós à foz do rio Amazonas.[38]

Desafios da gestão

Por ser um destino turístico muito procurado mudialmente, é importante ressaltar que a infraestrutura turística na ilha pode ser limitada em comparação com outros destinos mais populares do Brasil. É aconselhável fazer um planejamento cuidadoso antes de visitar a Ilha de Marajó e garantir que você tenha informações atualizadas sobre opções de hospedagem, transporte e atividades disponíveis [39].

A pesca é uma atividade importante para as comunidades locais na Ilha de Marajó, e a biodiversidade da região fornece recursos naturais essenciais para sua subsistência. No entanto, como em muitas áreas com alta biodiversidade, a Ilha de Marajó enfrenta desafios relacionados à conservação. A exploração madeireira ilegal, a caça predatória e a degradação dos ecossistemas são ameaças significativas à biodiversidade da região [40]

Esforços de conservação estão sendo realizados para proteger a biodiversidade da Ilha de Marajó. Áreas protegidas, como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Marajó e a Área de Proteção Ambiental do Marajó, foram estabelecidas para promover a conservação da natureza e o uso sustentável dos recursos naturais [30].

Ver também

Referências

  1. Dicionário Aulete
  2. «Cultura, igarapés e búfalos garantem passeio exótico dentro do Brasil na Ilha de Marajó». UOL. Nossa Viajem. Consultado em 11 de setembro de 2023. Arquivado do original em 6 de julho de 2010
  3. Emil August Göldi, Maravilhas da natureza na Ilha de Marajó. (Rio Amazonas), 1902. OCLC 81508027
  4. Jurandyr Luciano Sanches Ross, Geografia do Brasil, EdUSP, 1996 ISBN 8-531-40242-5
  5. Coelho, Lorena (30 de julho de 2015). «Multicampi avança para fortalecer a educação no Marajó». Assessoria de Comunicação. UFPA. Consultado em 14 de novembro de 2016. Arquivado do original em 15 de novembro de 2016
  6. «Qual é a maior ilha do mundo?». Revista Mundo Estranho. Grupo Abril
  7. GALLO, G. Marajó, a ditadura da água. 3. ed. Cachoeira do Arari: Museu do Marajó, 1997.
  8. O nome da ilha. Fundaj.
  9. DIDONÊ, Débora, O Brasil antes do Brasil Arquivado em 16 de setembro de 2014, no Wayback Machine. , ano XXIII, n. 212, maio, 2008.
  10. Eduardo Neves, Arqueologia da amazônia, Zahar, 2006 ISBN 8-571-10919-2
  11. Edithe Pereira, Arte rupestre na Amazônia: Pará, UNESP, 2004 ISBN 8-571-39505-5
  12. Loredana Ribeiro, Brasil rupestre: arte pré-histórica brasileira, Zencrane Livros, 2006 ISBN 8-560-47500-1
  13. Walter A. Neves, Luís Beethoven Piló, O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos, Editora Globo, 2008 ISBN 8-525-04418-0
  14. Helen C. Palmatary, Pottery of Marajo Island, Brazil: Transactions, APS, American Philosophical Society, 2008 ISBN 1-422-37709-1 (em inglês)
  15. Denise Pahl Schaan (2000). «Evidências para a permanência da cultura marajoara à época do contato europeu». Revista de Arqueologia
  16. Sílvio de Oliveira Torres (4 de abril de 2014). «O brazil não conhece o Brasil - Arte Marajoara.». Blog Lavrapalavra
  17. Denise Pahl Schaan (1997). «A linguagem iconográfica da cerâmica Marajoara: um estudo da arte pré-histórica na Ilha de Marajó, Brasil, 400-1300AD» (PDF). EDIPUCRS. 207 páginas
  18. João Augusto da Silva Neto (2014). «Na seara das cousas indígenas: cerâmica marajoara, arte nacional e representação pictórica do índio no trânsito Belém - Rio de Janeiro (1871-1929)» (PDF). Belém/PA: Universidade Federal do Pará
  19. Maria Aucilene Conde de Morais (31 de julho de 2017). «Uma análise sobre as mudanças na linha de produção artesanal de Icoaraci e a reafirmação dos tracejos do artesanato marajoara e tapajônico como cultura regional do Pará» (PDF). XXVIII Simpósio Nacional de História
  20. Robert L. Carneiro (2007). «A base ecológica dos cacicados amazônicos». Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira: 117-154
  21. «Teso dos Bichos e a complexa civilização que habitou a Ilha de Marajó». Mega Curioso. No Zebra Network (NZN). 19 de janeiro de 2022. Consultado em 21 de janeiro de 2022
  22. «Cerâmica Marajoara: Arte que resiste ao tempo!». Portal Amazônia. Consultado em 26 de abril de 2023
  23. «Artistas expõem releitura da cerâmica marajoara na Escola de Artes – Prefeitura de Pará de Minas». Consultado em 26 de abril de 2023
  24. «Qual são os nomes do rios do Pará?». Vivendo Bauru: Biblioteca de Perguntas e Respostas. 31 de maio de 2022
  25. Brasil. (2007): “Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó. Presidência da República”. Casa Civil. Grupo Executivo Interministerial. Grupo executivo do Estado do Pará. 2007. 296p.
  26. SENA, Regian Ferreira et al. USO DA FAUNA E FLORA POR COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ, PARÁ. Ethnoscientia-Brazilian Journal of Ethnobiology and Ethnoecology, v. 6, n. 3, p. 98-115, 2021.
  27. REPOLHO, Silas Moura et al. Percepções ambientais e trilhas ecológicas: concepções de meio ambiente em escolas do município de Soure, Ilha de Marajó (PA). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 13, n. 2, p. 66-84, 2018.
  28. «Paraturismo». Consultado em 5 de agosto de 2009. Arquivado do original em 21 de agosto de 2009
  29. Arquipélago Do MaraJó[ligação inativa]
  30. «Eumednet». www.eumed.net (em inglês). Consultado em 13 de julho de 2018[ligação inativa]
  31. DE LIMA, Aline Maria Meguins et al. Ilha do Marajó: revisão histórica, hidroclimatologia, bacias hidrográficas e propostas de gestão. Holos environment, v. 5, n. 1, p. 65-80, 2005.
  32. REPOLHO, Silas Moura et al. Percepções ambientais e trilhas ecológicas: concepções de meio ambiente em escolas do município de Soure, Ilha de Marajó (PA). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 13, n. 2, p. 66-84, 2018.
  33. Denise Pahl Schaan (2000). «Evidências para a permanência da cultura marajoara à época do contato europeu». Revista de Arqueologia
  34. Sílvio de Oliveira Torres (4 de abril de 2014). «O brazil não conhece o Brasil - Arte Marajoara.». Blog Lavrapalavra
  35. Denise Pahl Schaan (1997). «A linguagem iconográfica da cerâmica Marajoara: um estudo da arte pré-histórica na Ilha de Marajó, Brasil, 400-1300AD» (PDF). EDIPUCRS. 207 páginas
  36. João Augusto da Silva Neto (2014). «Na seara das cousas indígenas: cerâmica marajoara, arte nacional e representação pictórica do índio no trânsito Belém - Rio de Janeiro (1871-1929)» (PDF). Belém/PA: Universidade Federal do Pará
  37. Maria Aucilene Conde de Morais (31 de julho de 2017). «Uma análise sobre as mudanças na linha de produção artesanal de Icoaraci e a reafirmação dos tracejos do artesanato marajoara e tapajônico como cultura regional do Pará» (PDF). XXVIII Simpósio Nacional de História
  38. Robert L. Carneiro (2007). «A base ecológica dos cacicados amazônicos». Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira: 117-154
  39. HAMOY, Juliana Azevedo; BAHIA, Mirleide Chaar; NÓBREGA, Wilker Ricardo Mendonça. Desenvolvimento sustentável e turismo: o desafio da participação na Vila do Pesqueiro, na ilha do Marajó–Pará-Amazônia. [TESTE] RITUR-Revista Iberoamericana de Turismo, v. 11, n. 1, p. 36-59, 2021.
  40. SILVA, Wagner Fernando da Veiga et al. Arqueologia do Marajó das florestas: fragmentos de um desafio. Muito além dos campos: arqueologia e história na Amazônia Marajoara, 2010.

Ligações externas

This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.