Mariz e Barros (corveta)

Mariz e Barros foi uma corveta encouraçada, ou simplesmente encouraçado, da classe Mariz e Barros operada pela Armada Imperial Brasileira. A embarcação foi originalmente construída para a Marinha do Paraguai, entretanto não foi entregue visto que o país não conseguiu efetuar o pagamento por causa da guerra. O Império do Brasil acabou por adquiri-la em 1865, sendo renomeada para Mariz e Barros em homenagem ao Capitão-Tenente Antônio Carlos de Mariz e Barros, morto em ação.

Mariz e Barros
Mariz e Barros (corveta)
 Brasil
Operador Armada Imperial Brasileira
Marinha do Brasil
Fabricante J. & G. Rennie
Homônimo Antônio Carlos de Mariz e Barros
Lançamento 1866
Comissionamento 23 de julho de 1866
Descomissionamento 23 de julho de 1897
Estado Descomissionado
Características gerais
Tipo de navio Corveta encouraçada
Classe Mariz e Barros
Deslocamento 1,196 t (2 640 lb)
Comprimento 58,2 m (191 ft)
Boca 11 m (36,1 ft)
Calado 2,5 m (8,20 ft)
Propulsão máquinas a vapor acoplados a dois eixos.
600 hp (447 kW)
Velocidade 9 nós (17km/h)
Armamento 2 canhões Whitworth de 120 libras
2 canhões de 68 libras
Blindagem Cinturão:76 mm - 114 mm
Tripulação 125 oficiais e praças

Mariz e Barros participou de várias batalhas da Guerra do Paraguai, como no ataque do forte de Curupaití em 2 de fevereiro de 1867. No dia 15 de agosto, foi integrado à frota que forçou com sucesso a passagem do forte, em uma ação que durou cerca de duas horas. Auxiliou a esquadra durante a passagem de Humaitá, em 19 de fevereiro de 1868, e quando da abordagem aos encouraçados Cabral e Lima Barros em 2 de março. No fim daquele ano, participou no ataque e transposição do forte de Angostura.

Em 1869, os encouraçados de grande porte, como o Mariz e Barros, não eram mais necessários no conflito e eles foram enviados aos diversos distritos navais da costa brasileira. O encouraçado foi encaminhado para o 2.º Distrito Naval que patrulhava a costa da fronteira entre às províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo até a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Foi desativado em 23 de julho de 1897.

Características

Mariz e Barros tinha 58,2 metros de comprimento, 11 metros de boca e 2,5 metros de calado. Deslocava 1 196 toneladas longas, possuía um par de motores a vapor com cada um acionando uma hélice. Produziam um total de 600 cavalos de potência indicados que davam à corveta uma velocidade máxima de 17 quilômetros por hora. A embarcação carregava 140 toneladas de carvão, porém não há registro de alcance ou resistência. Era armada com três mastros. Sua tripulação consistia de 125 oficiais e praças.[1]

A corveta era equipada com dois canhões Whitworth de 120 libras e dois canhões de calibre 68. O cinturão na linha d'água de ferro forjado variava de 114 milímetros à meia-nau a 76 milímetros nas extremidades.[1]

Construção

O governo paraguaio encomendou cinco encouraçados a estaleiros europeus, quatro britânicos (Meduza, Triton, Bellona e Minerva) e um francês (Nêmesis). Ao longo do ano de 1865, o governo brasileiro disponibilizou créditos à marinha para a compra desses navios, visto que o Paraguai já não conseguia efetuar o pagamento por eles devido à Guerra da Tríplice Aliança.[2] Na armada imperial, o encouraçado Triton foi batizado de Mariz e Barros, em homenagem ao Primeiro Tenente Antônio Carlos Mariz e Barros, filho do ex-Ministro da Marinha Joaquim José Inácio. Mariz e Barros morreu por complicações após ser ferido por estilhaços causados por um projétil vindo da bateria da fortaleza de Itapirú que atingiu o encouraçado Tamandaré, que comandava, e que vitimara também outros 33 que o guarnecia.[3]

Mariz e Barros foi construído no estaleiro inglês J. and G. Rennie e adquirido pelo Brasil em 1865.[1] Pertencia a mesma classe da Corveta Encouraçada Herval. O navio chegou ao Brasil em 8 de julho de 1866, sendo incorporado à Armada no dia 23, sob o comando do Capitão-Tenente Silvino José de Carvalho Rocha.[4]

Serviço

O primeiro contato do Mariz e Barros com a Guerra do Paraguai se deu em 2 de fevereiro de 1867, quando o navio e mais outros sete encouraçados e quatro embarcações de madeira, frota sob comando do vice-almirante Joaquim José Inácio, atacaram a fortaleza de Curupaití, com apoio de atiradores aliados da fortaleza de Curuzú, tomado meses antes, e também do 48.º Corpo de Voluntários da Pátria. Em simultâneo, uma frota de seis canhoneiras e lanchas sob a liderança do Chefe de Divisão Elisiário dos Santos, de uma outra posição da fortaleza, lançou cerca de 300 bombas sobre o alvo. Não há registro de baixas no Mariz e Barros, mas houve ao menos 14 na armada que incluiu a morte do capitão do encouraçado Silvado. Entre os paraguaios houve muitas baixas e o comandante da fortaleza general José E. Diaz ficou gravemente ferido. Curupaití voltou a ser atacada pela frota de Inácio no dia 29 de maio.[5]

Após essas operações e algumas outras realizadas por outros encouraçados, Mariz e Barros integrou-se à frota ordenada a forçar a passagem da fortaleza no dia 15 de agosto. A esquadra imperial foi organizada do seguinte modo: Comandante-chefe da operação Vice-almirante Joaquim José Inácio; à frente da esquadra estaria a 3.ª Divisão de Encouraçados, sob comando do Capitão de Fragata Joaquim Rodrigues da Costa, composta pelo Brasil, Tamandaré, Colombo, Bahia e Mariz e Barros. À retaguarda, estaria a 1.ª Divisão de Encouraçados, sob comando do Capitão de Mar e Guerra Francisco Cordeiro Torres e Alvim, composta pelo Cabral, Barroso, Herval, Silvado e Lima Barros. Para fornecer fogo de supressão aos encouraçados, estaria a divisão do Chefe de Divisão Elisiário Antônio dos Santos composta pelos navios de madeira Recife, Beberibe, Parnaíba, Iguatemi, Ipiranga, Magé, Forte de Coimbra e Pedro Afonso. Em contrapartida, os defensores paraguaios estavam organizados do seguinte modo: Comandante-chefe da Defesa de Curupaiti Coronel Paulino Alén; baterias compostas por 29 canhões, sendo um de calibre 80, chamado de El Cristiano, e 28 de calibres 32 e 68; guarnição composta por 300 artilheiros apoiados pelo 4.º batalhão de 800 homens e um esquadrão de cavalaria.[6]

Transposição de Curupaití em 15 de agosto de 1867

Sob comando do capitão tenente Neto de Mendonça, o Mariz e Barros iniciou a passagem às 6h40 do dia 15.[7] Para total surpresa dos paraguaios, a transposição dos encouraçados imperiais ocorreu em uma passagem próxima dos seus canhões ao invés do canal mais distante, porém cheia de obstáculos. A proximidade dos navios aos canhões permitia que a fuzilaria ocorresse à queima-roupa, impactando praticamente todos os projéteis lançados por eles. Apesar disso, a esquadra imperial conseguiu efetuar a passagem sem grandes danos aos navios e com poucas baixas entre as tripulações. A transposição durou cerca de duas horas e foi acusado três mortos e 22 feridos aos brasileiros.[5]

O próximo obstáculo da esquadra encouraçada foi a fortaleza de Humaitá. A passagem desta ocorreu no dia 19 de fevereiro de 1868, com o Mariz e Barros atuando na proteção dos depósitos e hospitais de sangue do Porto Elisiário,[8] que ficava entre as duas fortalezas na margem direita do rio Paraguai.[9] Alguns dias depois, em 2 de março, o encouraçado se encontrava à foz do rio do Ouro, que desagua no Paraguai, juntos de outros que haviam passado Curupaití, quando ocorreu a tentativa de abordagem dos encouraçados Cabral e Lima Barros por parte dos paraguaios em canoas. Entretanto, esta foi frustrada pela rápida chegada dos encouraçados Herval e Silvado, que ajudaram a fustigá-los de lá. O Mariz e Barros e o Brasil chegaram logo em seguida, conseguindo dominar os últimos inimigos. Cerca de um mês depois, o Mariz e Barros contribuiu no bombardeio de Humaitá em preparação para um grande ataque da esquadra e das forças terrestres aliadas à fortaleza que ocorreria em julho.[10][11]

Uma segunda passagem pelo forte foi planejada para reforçar a frota que o havia transporto em fevereiro, devido à informação de que os paraguaios planejavam tentar abordar essa divisão avançada com quatros vapores que sobraram de sua esquadra e para ter uma força naval maior para operar no rio Tebiquary onde sabia-se que havia mais uma fortificação.[12] O encouraçados escolhidos para a passagem foram o Cabral, Silvado e Piauí. A transposição ocorreu em 21 de julho, com o Cabral na liderança, porém devido ao mau governo do navio acabou abalroando o Lima Barros, que atuava como suporte, e teve que parar para reparos. Silvado e Piauí conseguiram efetuar a passagem, e o Cabral o fez algum tempo depois. Nessa operação, o Mariz e Barros contribuiu fornecendo fogo de supressão.[13][11]

No início de outubro, a esquadra iniciou ataque sobre o forte de Angostura. A 1, alguns encouraçados forçaram a passagem e outros navios bombardearam a linha fortificada que margeava o arroio Piquissiri. Entre os dias 5 e 28, o baluarte seria fortemente atacado pelos navios brasileiros. O Mariz e Barros participou da ação apenas no dia 19 de novembro, quando efetuou diversos disparos contra as baterias do forte, com apoio de outras embarcações. A corveta encouraçada retornou fogo à posição defensiva no dia 9 de dezembro. Na ocasião, os paraguaios devolveram forte bombardeio contra o Mariz e Barros, o que ocasionou na morte do capitão Augusto Neto de Mendonça e 12 feridos entre a tripulação. Em algum momento após essa ação, o Mariz e Barros se encontrava adiante do forte. Em 16, a corveta retrocedeu o passo, forçando a transposição rio abaixo. Três dias depois, voltou a forçar a passagem de Angostura com apoio do Silvado que também havia retrocedido dias antes. Por fim, os paraguaios que defendiam o forte se renderam às forças aliadas no dia 30.[14]

Após a conquista de Assunção, em 1 de janeiro de 1869, os já desgastados encouraçados de grande porte, como o Mariz e Barros, não tinham mais tanta utilidade no conflito, com os combates navais ocorrendo, a partir de então, em pequenos arroios muito estreitos. Os navios foram chamados de volta para o Rio de Janeiro, onde passaram por grandes obras de reparo. No início da década de 1870, o comando naval imperial começou a distribuir os encouraçados pelos vários distritos navais de defesa de portos do Brasil.[15] Mariz e Barros e seu navio-irmão Herval foram designados para o 2.º Distrito Naval que patrulhava a costa da fronteira entre às províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo até a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.[16] Há poucos registros do Mariz e Barros após sua última comissão. Em 1884, foi transformado em bateria flutuante com o objetivo de defender o Arsenal de Marinha de Ladário, na província de Mato Grosso. Por fim, foi desativado em 23 de julho de 1897.[8]

Ver também

Referências

  1. Gardiner 1979, p. 406.
  2. Martini 2014, p. 127.
  3. Scavarda 1966, p. 117.
  4. Mendonça & Vasconcelos 1959, p. 177.
  5. Donato 1996, p. 276.
  6. Donato 1996, p. 277.
  7. Rio Branco 2012, p. 463.
  8. Marinha do Brasil.
  9. Exército Brasileiro.
  10. Bittencourt 2008, p. 106.
  11. Donato 1996, p. 307.
  12. Barros 2018, p. 48.
  13. Barros 2018, p. 50.
  14. Donato 1996, pp. 185-186.
  15. Martini 2014, pp. 148-149.
  16. Martini 2014, p. 149.

Bibliografia

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