Conflito Ruainga

O conflito Ruainga refere-se aos violentos confrontos no norte do estado de Raquine, em Mianmar (anteriormente conhecido como Arracão, Birmânia). O conflito tem sido caracterizado pela violência sectária entre as comunidades budistas arracanesas e o povo muçulmano ruainga (rohingya), ataques a civis ruaingas pelas forças de segurança de Mianmar,[36][37][38] e confrontos armados entre insurgentes e forças de segurança nos municípios de Buthidaung, Maungdaw e Rathedaung, que fazem fronteira com Bangladexe.

Conflito Ruainga
conflitos armados em Mianmar

Mapa do Estado de Raquine com os distritos de Buthidaung e de Maungdaw destacados em vermelho.
Data Violência sectária: 1942 – presente
Insurgência: 1947 – presente
Local Norte do Estado de Raquine[1]
Situação Em andamento
Beligerantes
 Birmânia Britânica
(1947–1948)
União da Birmânia
(1948–1962)

Mujahidin
(1947–1961)

Apoiado por:
 Paquistão (até 1950)


  • Exército de Libertação Ruainga (1972–1974)

Frente Patriótica Ruainga (1974–1986)
Organização da Solidariedade Ruainga (1982–1998)
Frente Islâmica dos Ruaingas de Arracão (1986–1998)[2]
Organização Nacional dos Ruaingas de Arracão (1998–2001)[2]
Apoiado por:
Al-Qaeda (alegado)[3]
Talibã (alegado)[3]


Comandantes
Comandantes atuais:

Win Myint
Aung San Suu Kyi
Min Aung Hlaing
Sein Win
Maung Maung Soe[4]
Aung Myat Moe[5]
Sein Lwin[5]


Ex-comandantes:
Aung Gyi (1947–1963)
Tin Oo (1947–1976)
Than Shwe
(1992–2011)
Thein Sein
(2011–2016)

Htin Kyaw (2016–2018)
Comandantes atuais:

Ataullah abu Ammar Jununi[6][7]


Ex-comandantes:
Mir Kassem
(1947–1952)
Abdul Latif
(1947–1961)
Annul Jauli
(1947–1961)
Zaffar Kawal
(1961–1974)
Muhammad Jafar Habib (1972–1982)
Muhammad Yunus (1974–2001)
Mohammad Zakaria (1982–2001)[8]

Nurul Islam (1974–2001)
Unidades
Tatmadaw Exército Nacional Ruainga (1998–2001)[2][10]
Forças
<2,000[11]

Totais anteriores:

1.100 (1947–1950)[12]
~200 (estimativa do governo)[13][14]

Totais anteriores:
2.000–5,000 (1947–1950)[12]
2.000 (1952)[12]
170 (2002)[3]

500[9][15]–600[16] (2016–2017)
2012–2018:

6.900+ civis mortos no total[b]
53.000 deslocados internos[17][18]
950.000+ fugiram para o exterior[n 1]


    a 14 soldados, 30 policiais e 1 oficial de imigração.[27] b 2012: 168,[28][29] 2013: 50+,[30][31] 2016–18: 6.700+[32][33][34][35]

    O conflito na região surge principalmente a partir da diferenciação religiosa e social entre os budistas arracaneses e os muçulmanos ruaingas. Durante a Segunda Guerra Mundial na Campanha da Birmânia (atual Mianmar), os muçulmanos ruaingas, que se aliaram aos britânicos devido a promessa de um estado muçulmano em troca, lutaram contra os budistas arracaneses locais, que eram aliados dos japoneses. Após a independência em 1948, o recém-formado governo de união predominantemente budista negou cidadania aos ruaingas, submetendo-os a uma extensa discriminação sistemática no país. Isso tem sido amplamente comparado ao apartheid[39][40][41][42] por muitos acadêmicos internacionais, analistas e figuras políticas, incluindo Desmond Tutu, um famoso ativista sul-africano anti-apartheid.[43]

    De 1947 a 1961, os mujahidins ruaingas locais combateram as forças do governo na tentativa de permitir que a região majoritariamente povoada pelos ruaingas em torno da península de Mayu no norte de Arracão (atual Estado de Raquine) obtivesse autonomia ou se separasse, para que pudesse ser anexada pelo Paquistão Oriental (atual Bangladexe).[44] Durante o final da década de 1950 e início da década de 1960, os mujahidins perderiam a maior parte do seu ímpeto e apoio, levando a maioria deles a se renderem às forças do governo.[45][46]

    Na década de 1970, um movimento separatista ruainga emergiu a partir dos remanescentes mujahidins, e os combates culminaram com o governo birmanês lançando uma enorme operação militar chamada Operação Rei Dragão em 1978 para expulsar os chamados "forasteiros".[47] Na década de 1990, a bem armada Organização da Solidariedade Ruainga (OSR) foi a principal responsável por ataques às autoridades birmanesas perto da fronteira entre Bangladexe e Mianmar.[48] O governo birmanês respondeu militarmente com a Operação Pyi Thaya, mas não conseguiu desarmar a Organização da Solidariedade Rohingya.[49][50]

    Em outubro de 2016, surgiram confrontos na fronteira entre Bangladexe e Mianmar entre as forças de segurança governamentais e um novo grupo insurgente, o Harakah al-Yaqin, resultando na morte de pelo menos 40 combatentes.[51][52][53] Foi o primeiro grande ressurgimento do conflito desde 2001.[2] Em novembro de 2016, a violência irrompeu novamente, elevando o número de mortos para 134.[27]

    Na manhã de 25 de agosto de 2017, o Exército de Salvação dos Ruaingas de Arracão, anteriormente Harakah al-Yaqin, lançou ataques coordenados contra 24 postos policiais e a 552.ª base do Batalhão de Infantaria Leve no Estado de Raquine, deixando 71 mortos. Foi o primeiro grande ataque do grupo desde os confrontos em novembro de 2016.[54][55][56]

    Ver também

    Referências

    1. Myint, Moe (24 de outubro de 2017). «Rakhine Crisis in Numbers». The Irrawaddy
    2. «Bangladesh Extremist Islamist Consolidation». by Bertil Lintner
    3. Brennan, Elliot; O'Hara, Christopher (29 de Junho de 2015). «The Rohingya and Islamic Extremism: A Convenient Myth». The Diplomat
    4. «Myanmar military denies atrocities against Rohingya, replaces general». Reuters. 13 de novembro de 2017
    5. «New Rakhine Police Chief Appointed». www.irrawaddy.com. 6 de setembro de 2017
    6. Millar, Paul (16 de fevereiro de 2017). «Sizing up the shadowy leader of the Rakhine State insurgency». Southeast Asia Globe Magazine
    7. J, Jacob (15 de dezembro de 2016). «Rohingya militants in Rakhine have Saudi, Pakistan links, think tank says»
    8. «Arakan Rohingya National Organisation - Myanmar/Bangladesh | Terrorist Groups | TRAC». www.trackingterrorism.org (em inglês)
    9. CNN, Katie Hunt. «Myanmar Air Force helicopters fire on armed villagers in Rakhine state». CNN
    10. «PRESS RELEASE: Rohingya National Army (RNA) successfully raided a Burma Army Camp 30 miles from nort...». rohingya.org. 28 de Maio de 2001
    11. Lone, Wa (25 de Abril de 2017). «Command structure of the Myanmar army's operation in Rakhine». Reuters
    12. Yegar, Moshe (2002). «Between integration and secession: The Muslim communities of the Southern Philippines, Southern Thailand, and Western Burma/Myanmar». Lanham. Lexington Books. p. 37,38,44. ISBN 0739103563
    13. Olarn, Kocha; Griffiths, James (11 de janeiro de 2018). «Myanmar military admits role in killing Rohingya found in mass grave». CNN
    14. «'Beyond comprehension': Myanmar admits killing Rohingya». www.aljazeera.com. 11 de janeiro de 2018
    15. Lintner, Bertil (20 de setembro de 2017). «The truth behind Myanmar's Rohingya insurgency». Asia Times
    16. Bhaumik, Subir (1 de setembro de 2017). «Myanmar has a new insurgency to worry about». South China Morning Post
    17. «Rohingyas and the Right to have Rights». Arquivado do original em 14 de agosto de 2012
    18. «Myanmar: Humanitarian Bulletin, Issue 4 | October 2016 - January 2017». ReliefWeb (em inglês). 30 de janeiro de 2017
    19. «Bangladesh is now home to almost 1 million Rohingya refugees». The Washington Post. 25 de outubro de 2017
    20. «Pope apologizes to Rohingya refugees for 'indifference of the world'». CBC News (em inglês)
    21. «Pope Francis Says 'Rohingya' During Emotional Encounter With Refugees». Time
    22. «Pope uses term Rohingya during Asia trip». BBC News. 1 de dezembro de 2017
    23. «Myanmar bars U.N. rights investigator before visit». Reuters. 2017
    24. «China and Russia oppose UN resolution on Rohingya». The Guardian. 24 de dezembro de 2017
    25. «Myanmar Military Investigating a Mass Grave in Rakhine». Time
    26. «100,000 Rohingya on first repatriation list | Dhaka Tribune». www.dhakatribune.com
    27. Slodkowski, Antoni (15 de novembro de 2016). «Myanmar army says 86 killed in fighting in northwest». Reuters India
    28. «Press Release» (PDF). Government of the Republic of the Union of Myanmar Ministry of Foreign Affairs. 21 de agosto de 2012. Consultado em 27 de outubro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 27 de outubro de 2012
    29. «Burma violence: 20,000 displaced in Rakhine state». BBC News. 28 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 29 de outubro de 2012
    30. «Burma jails 25 Buddhists for mob killings of 36 Muslims in Meikhtila». The Guardian. 11 de Julho de 2013
    31. Hodal, Kate (22 de março de 2013). «Ethnic violence erupts in Burma leaving scores dead». The Guardian
    32. «Photo Story: Bangladesh: A living nightmare». Médecins Sans Frontières (MSF) International (em inglês)
    33. Griffiths, James. «Report: 6,700 Rohingya killed in first month of crackdown». CNN
    34. «MSF: More than 6,700 Rohingya killed in Myanmar». www.aljazeera.com
    35. McPherson, Poppy (14 de dezembro de 2017). «6,700 Rohingya Muslims killed in one month in Myanmar, MSF says». The Guardian
    36. «Rohingya crisis: Satellite images of Myanmar village burning»
    37. «A state-led massacre triggers an exodus of Rohingyas from Myanmar»
    38. "Aung San Suu Kyi To Skip U.N. Meeting As Criticism Over Rohingya Crisis Grows," 13 de setembro de 2017.
    39. Ibrahim, Azeem (fellow at Mansfield College, Oxford University, and 2009 Yale World Fellow),"War of Words: What's in the Name 'Rohingya'?," June 16, 2016 Yale Online, Yale University, September 21, 2017
    40. "Aung San Suu Kyi’s Ultimate Test," Sullivan, Dan, January 19, 2017, Harvard International Review, Harvard University
    41. Emanuel Stoakes. «Myanmar's Rohingya Apartheid». The Diplomat
    42. Kristof, Nicholas (28 de Maio de 2014). «Myanmar's Appalling Apartheid». The New York Times
    43. Tutu, Desmond, former Archbishop of Cape Town, South Africa, Nobel Peace Prize (anti-apartheid and national-reconciliation leader), "Tutu: The Slow Genocide Against the Rohingya," January 19, 2017, Newsweek, citing "Burmese apartheid" reference in 1978 Far Eastern Economic Review at Oslo Conference on Rohingyas; also online at: Desmond Tutu Foundation USA
    44. Yegar, Moshe (1972). Muslims of Burma. Wiesbaden: Verlag Otto Harrassowitz. p. 96
    45. Yegar, Moshe (1972). Muslims of Burma. [S.l.: s.n.] pp. 98–101
    46. Pho Kan Kaung (Maio de 1992). The Danger of Rohingya. [S.l.]: Myet Khin Thit Magazine No. 25. pp. 87–103
    47. Escobar, Pepe (Outubro de 2001). «Asia Times: Jihad: The ultimate thermonuclear bomb». Asia Times
    48. Lintner, Bertil (19 de outubro de 1991). Tension Mounts in Arakan State. This news-story was based on interview with Rohingyas and others in the Cox's Bazaar area and at the Rohingya military camps in 1991: Jane's Defence Weekly
    49. «Bangladesh: The Plight of the Rohingya». Pulitzer Center (em inglês). 18 de setembro de 2012
    50. Hodal, Kate (20 de dezembro de 2012). «Trapped inside Burma's refugee camps, the Rohingya people call for recognition». The Guardian
    51. «Myanmar Army Evacuates Villagers, Teachers From Hostilities in Maungdaw». Radio Free Asia
    52. «Myanmar policemen killed in Rakhine border attack». BBC News. 9 de outubro de 2016
    53. «Rakhine unrest leaves four Myanmar soldiers dead». BBC News. 12 de outubro de 2016
    54. «Myanmar tensions: Dozens dead in Rakhine militant attack». BBC News
    55. Htusan, Esther (25 de agosto de 2017). «Myanmar: 71 die in militant attacks on police, border posts». AP News
    56. Lone, Wa; Slodkowski, Antoni (24 de agosto de 2017). «At least 12 dead in Muslim insurgent attacks in northwest Myanmar». Reuters
    This article is issued from Wikipedia. The text is licensed under Creative Commons - Attribution - Sharealike. Additional terms may apply for the media files.