HR 4796

HR 4796 é um sistema estelar na constelação de Centaurus. Com uma magnitude aparente visual de 5,78,[1] pode ser visto a olho nu em locais com poluição luminosa mínima. Com base em medições de paralaxe, está localizado a uma distância de aproximadamente 235 anos-luz (72 parsecs) da Terra.[4]

HR 4796

Imagem infravermelha mostrando o disco ao redor de HR 4796 A
Dados observacionais (J2000)
Constelação Centaurus
HR 4796 A
Asc. reta 12h 36m 01,03s[1]
Declinação -39° 52 10,23[1]
Magnitude aparente 5,774[1]
HR 4796 B
Asc. reta 12h 36m 00,56s[2]
Declinação -39° 52 15,69[2]
Magnitude aparente 13,3[2]
Características
Tipo espectral A0V + M2[3]
Cor (B-V) 0,012[1]
Astrometria
HR 4796 A
Velocidade radial 7,10 km/s[1]
Mov. próprio (AR) -55,653 ± 0,181 mas/a[4]
Mov. próprio (DEC) -23,740 ± 0,230 mas/a[4]
Paralaxe 13,9064 ± 0,1349 mas[4]
Distância 234,5 ± 2,3 anos-luz
71,9 ± 0,7 pc
Magnitude absoluta 1,61 ± 0,11[5]
HR 4796 B
Mov. próprio (AR) -59,236 ± 0,096 mas/a[4]
Mov. próprio (DEC) -29,867 ± 0,125 mas/a[4]
Paralaxe 14.1030 ± 0,0625 mas[4]
Distância 231,3 ± 1,0 anos-luz
70,91 ± 0,31 pc
Detalhes
HR 4796 A
Massa 2,18 ± 0,10[5] M
Raio 1,68[5] R
Gravidade superficial log g = 4,43 cgs[6]
Luminosidade 16[7] L
Temperatura 9311[8] K
Metalicidade [Fe/H] = -0,03[6]
Rotação v sin i = 152 km/s[8]
Idade 10 ± 3 milhões[3] de anos
HR 4796 B
Massa 0,3[9] M
Luminosidade 0,15[7] L
Temperatura 3592[8] K
Rotação v sin i =
12,11 ± 0,93 km/s[10]
Idade 10 milhões[9] de anos
Outras denominações
TW 11, CD-65 7717, HR 4796, HD 109573, HIP 61498, SAO 203621.[1]
HR 4796

Este é um sistema jovem com uma idade estimada de 10 milhões de anos. O componente primário, uma estrela de classe A da sequência principal, é notável por possuir um disco de detritos, a uma separação média de 77 UA, que apresenta evidências de planetas em órbita. Forma um sistema binário com uma anã vermelha a uma separação de 560 UA, e provavelmente é parte de um sistema estelar triplo com uma segunda anã vermelha a 14 400 UA.[3]

Componentes

O sistema HR 4796 é um dos principais membros da associação TW Hydrae, um grupo de estrelas jovens com mesma origem e movimento pelo espaço similar. Essa associação tem uma idade estimada em 10 ± 3 milhões de anos, que é portanto considerada a idade de HR 4796.[11][3]

O componente primário do sistema, HR 4796 A, é uma estrela de classe A da sequência principal com um tipo espectral de A0V.[3] Tem uma massa 2,18 vezes superior à massa solar e um raio de 1,68 raios solares.[5] Irradia energia de sua fotosfera com 16 vezes a luminosidade solar[7] a uma temperatura efetiva de cerca de 9 300 K,[8] a qual dá à estrela a coloração branca típica de estrelas de classe A.[12] Está girando rapidamente com uma velocidade de rotação projetada de 152 km/s.[8] Sua metalicidade, a abundância de elementos mais pesados que o hélio, é similar em proporção à solar.[6]

Separado do primário por 7,6 segundos de arco,[11] o equivalente a 560 UA à distância do sistema, o componente secundário é uma anã vermelha com um tipo espectral estimado de M2[3] e uma magnitude aparente visual de 13,3.[2] De forma consistente com a idade baixa do sistema, é uma estrela da pré-sequência principal que ainda está no processo de contração em direção à sequência principal.[9] Tem uma massa de 30% da solar[9] e está brilhando com 15% da luminosidade solar.[7] Sua temperatura efetiva é de aproximadamente 3 600 K.[8]

O sistema HR 4796 provavelmente contém um terceiro membro, uma outra anã vermelha identificada como 2MASS J12354893-3950245.[13] Essa estrela tem uma magnitude aparente visual de 14,4[14] e está separada do componente A por 174,9 segundos de arco, o que corresponde a cerca de 14 400 UA.[11] Seu movimento próprio é semelhante com o de HR 4796 AB e ela apresenta as características de uma estrela jovem, indicando que também é um membro da associação TW Hydrae e que provavelmente está associada gravitacionalmente com o sistema.[13] Medições de paralaxe pela sonda Gaia indicam que essa estrela está a uma distância de 71,4 ± 0,7 pc da Terra, a mesma distância do resto do sistema.[4] HR 4796 C também é uma estrela da pré-sequência principal e seu tipo espectral é estimado em M4.5. Está brilhando com 7,5% da luminosidade solar e tem uma temperatura efetiva de 3075 K.[14]

Como é normal para estrelas de baixa massa, HR 4796 B e HR 4796 C são fontes de raios X, apresentando, respectivamente, uma luminosidade nessa faixa de 4,5×1029 e 1,2×1029 erg/s, o equivalente a 0,08% e 0,04% da luminosidade total de cada estrela.[15] Um artigo publicado em 2010 analisou uma observação em raios X de HR 4796 B, feita em 2001 pelo observatório XMM-Newton, e encontrou nelas o que foi interpretado como parte de uma longa erupção. Durante as 12 horas de duração da observação, a taxa de raios X da estrela aumentou em 4,2 vezes até atingir um valor máximo pouco antes do fim da observação, que possivelmente foi o pico da erupção.[16] HR 4796 A não apresenta luminosidade de raios X detectável, com um limite superior de 1,3×1027 erg/s.[17]

Disco de detritos

Em 1991, observações de HR 4796 A revelaram excesso de radiação infravermelha vindo da estrela, indicando que ela possui um disco de detritos circunstelar. A partir de 1998, o disco foi observado diretamente no infravermelho e no espectro visível por telescópios terrestres e pelo Telescópio Espacial Hubble. Da Terra, o disco é observado a uma alta inclinação de 76,45° em relação ao plano do céu e apresenta-se como um anel elíptico fino com os semieixos maior e menor medindo 1,065 e 0,250 segundos de arco respectivamente. Está a uma distância média de 77 UA da estrela e tem largura estimada entre 13 e 20 UA, apresentando bordas bastante abruptas, sendo a borda interna mais abrupta que a externa. Uma característica notável do disco é seu aparente deslocamento em relação à estrela (seu centro não coincide com a posição da estrela), indicando que ele é elíptico com uma excentricidade de cerca de 0,06.[3] Seu espectro é avermelhado e indicativo de grãos de poeira compostos por materiais orgânicos complexos similares a tolina.[18]

As bordas abruptas e a excentricidade do disco são evidências fortes para a existência de um ou mais planetas massivos orbitando HR 4796 A e interagindo gravitacionalmente com ele. Possibilidades alternativas, como a presença de uma estrela próxima a HR 4796 A e interior ao disco, interação com HR 4796 B (que estaria em uma órbita excêntrica), e a presença de gás para limitar a dispersão da poeira, já foram descartadas ou são insuficientes para explicar a morfologia do disco.[19][3] Os limites de detecção mais recentes excluem a presença de planetas mais massivos que 2 massas de Júpiter (MJ) interiores ao disco ao longo do semieixo maior e mais massivos que 3,6 MJ interiores ao disco ao longo do semieixo menor. Um planeta com a massa de Saturno a até 6 UA da borda interna do disco em uma órbita de excentricidade similar pode ser suficiente para explicar a excentricidade e a borda interna abrupta.[3] Um planeta externo ao disco, a uma distância de cerca de 95 UA da estrela central e massa de algumas massas de Júpiter, é considerado o cenário mais provável para explicar a borda externa.[19]

Ver também

Referências

  1. «SIMBAD query result - HD 109573». SIMBAD. Centre de Données astronomiques de Strasbourg. Consultado em 10 de junho de 2017
  2. «SIMBAD query result - HD 109573B». SIMBAD. Centre de Données astronomiques de Strasbourg. Consultado em 10 de junho de 2017
  3. Milli, J.; et al. (março de 2017). «Near-infrared scattered light properties of the HR 4796 A dust ring. A measured scattering phase function from 13.6° to 166.6°». Astronomy & Astrophysics. 599: A108, 24. Bibcode:2017A&A...599A.108M. doi:10.1051/0004-6361/201527838
  4. Gaia Collaboration; Brown, A. G. A.; Vallenari, A.; Prusti, T.; de Bruijne, J. H. J.; et al. (2018). «Gaia Data Release 2. Summary of the contents and survey properties». Astronomy & Astrophysics. 616: A1, 22 pp. Bibcode:2018A&A...616A...1G. arXiv:1804.09365Acessível livremente. doi:10.1051/0004-6361/201833051 Catálogo Vizier
  5. Gerbaldi, M.; et al. (junho de 1999). «Search for reference A0 dwarf stars: Masses and luminosities revisited with HIPPARCOS parallaxes». Astronomy and Astrophysics Supplement. 137: 273-292. Bibcode:1999A&AS..137..273G. doi:10.1051/aas:1999248
  6. Saffe, C.; Gómez, M.; Pintado, O.; González, E (outubro de 2008). «Spectroscopic metallicities of Vega-like stars». Astronomy and Astrophysics. 490 (1): 297-305. Bibcode:2008A&A...490..297S. doi:10.1051/0004-6361:200810260
  7. Herczeg, Gregory J.; Hillenbrand, Lynne A. (maio de 2014). «An Optical Spectroscopic Study of T Tauri Stars. I. Photospheric Properties». The Astrophysical Journal. 786 (2): artigo 97, 32. Bibcode:2014ApJ...786...97H. doi:10.1088/0004-637X/786/2/97
  8. da Silva, L.; et al. (dezembro de 2009). «Search for associations containing young stars (SACY). III. Ages and Li abundances». Astronomy and Astrophysics. 508 (2): 833-839. Bibcode:2009A&A...508..833D. doi:10.1051/0004-6361/200911736
  9. Huélamo, N.; Fernández, M.; Neuhäuser, R.; Wolk, S. J. (dezembro de 2004). «Rotation periods of Post-T Tauri stars in Lindroos systems». Astronomy and Astrophysics. 428: 953-967. Bibcode:2004A&A...428..953H. doi:10.1051/0004-6361:20034442
  10. Scholz, Alexander; Coffey, Jaime; Brandeker, Alexis; Jayawardhana, Ray (junho de 2007). «Rotation and Activity of Pre-Main-Sequence Stars». The Astrophysical Journal. 662 (2): 1254-1267. Bibcode:2007ApJ...662.1254S. doi:10.1086/518361
  11. Gagné, Jonathan; et al. (fevereiro de 2017). «BANYAN. IX. The Initial Mass Function and Planetary-mass Object Space Density of the TW HYA Association». The Astrophysical Journal Supplement Series. 228 (2): artigo 18, 51. Bibcode:2017ApJS..228...18G. doi:10.3847/1538-4365/228/2/18
  12. «The Colour of Stars». Australia Telescope, Outreach and Education. Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation. 21 de dezembro de 2004. Consultado em 20 de junho de 2017
  13. Kastner, J. H.; Zuckerman, B.; Bessell, M. (dezembro de 2008). «Identification of the TW Hydrae association member 2M1235-39: a tertiary component of the HR 4796 system». Astronomy and Astrophysics. 491 (3): 829-831. Bibcode:2008A&A...491..829K. doi:10.1051/0004-6361:200810580
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  16. López-Santiago, J.; Crespo-Chacón, I.; Micela, G.; Reale, F. (março de 2010). «A Detailed Study of the Rise Phase of a Long Duration X-Ray Flare in the Young Star TWA 11B». The Astrophysical Journal. 712 (1): 78-87. Bibcode:2010ApJ...712...78L. doi:10.1088/0004-637X/712/1/78
  17. Drake, Jeremy J.; Braithwaite, Jonathan; Kashyap, Vinay; Günther, H. Moritz; Wright, Nicholas J. (maio de 2014). «Burn Out or Fade Away? On the X-Ray and Magnetic Death of Intermediate Mass Stars». The Astrophysical Journal. 786 (2): artigo 136, 8. Bibcode:2014ApJ...786..136D. doi:10.1088/0004-637X/786/2/136
  18. Debes, John H.; Weinberger, Alycia J.; Schneider, Glenn (fevereiro de 2008). «Complex Organic Materials in the Circumstellar Disk of HR 4796A». The Astrophysical Journal Letters. 673 (2): L191,. Bibcode:2008ApJ...673L.191D. doi:10.1086/527546
  19. Lagrange, A.-M. (outubro de 2012). «An insight in the surroundings of HR 4796». Astronomy & Astrophysics. 546: A38, 15. Bibcode:2012A&A...546A..38L. doi:10.1051/0004-6361/201219187
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