Livro de Tomé o Adversário

O Livro de Tomé o Adversário, também conhecido simplesmente como Livro de Tomé (não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé), é um dos Apócrifos do Novo Testamento encontrados na biblioteca de Nag Hammadi.

Título

O título da obra deriva da primeira linha do texto:

As palavras secretas que o salvador disse à Tomé (também chamado de Judas Tomé Dídimo) que eu, mesmo eu, Matias, anotei enquanto estava caminhando, ouvindo-os conversarem entre si
 
Atribuído a Tomé, Livro de Tomé o Adversário[1][a].

Autor e Forma

Existem duas teorias sobre a composição do texto:

  • A primeira propõe que, uma vez que apenas os três quintos iniciais do texto constituem um diálogo, com o resto sendo um monólogo, o texto pode ser a junção de dois textos diferentes, um diálogo e um monólogo.
  • A segunda propõe, muito por conta da existência dos dois títulos, que o texto tenha se originado como uma carta com o título de "Epístola do Adversário", escrita por um judeu defensor da filosofia grega que adaptou o texto a um cenário cristão e o converteu num diálogo, de maneira similar ao que já havia sido feito com outros textos.

Uma consideração adicional é que, uma vez que o escritor é chamado de Matias, este texto pode ser realmente o agora perdido Evangelho de Matias. O diálogo também pode ser lido como uma conversa interior de Jesus com seu "eu inferior", Judas Tomé, o gêmeo (adversário pela supremacia da alma). Tanto o Tomé "duvidador" quanto o Judas "traidor" também podem ser simbólicos e relevantes na batalha interna entre o Cristo em si mesmo e sua identidade (ego).

Conteúdo

O conteúdo deste trabalho é por vezes hiperbólico e gnóstico no estilo, no sentido de transmitir um conhecimento privado, arcano sobre o dualismo do "Bem versus Mal" e, ainda que ele careça de referências à elaborada cosmologia gnóstica, suas alusões ao Pleroma e à "Luz versus Fogo" (dualismo) claramente indicam a sua origem gnóstica:

Então o salvador continuou e disse "Oh inescrutável amor pela luz! Oh amargura do fogo que arde no corpo do homem e na sua essência, queimando dia e noite, e incendiando os seus membros e embriagando sua mente e desconcertando sua alma... Coitados de vós, escravos, pois estais presos em cavernas! Vocês riem! Numa gargalhada louca vocês comemoram! Não percebem sua perdição, não refletem sobre a sua situação e nem percebem que estão vivendo nas trevas e na morte! Pelo contrário, vocês estão embriagados pelo fogo e cheios de amargura. Sua mente está desconcertada pelo fogo que arde em vocês e doce lhes parece o veneno e os golpes dos seus inimigos! E as trevas são para vocês como a luz, pois vocês abandonaram a liberdade pela escravidão! Vocês enegreceram seus corações e rodearam seus pensamentos com idéias tolas, eu encheram seus pensamentos com a fumaça do fogo que está em vocês!
 
Atribuído a Tomé, Livro de Tomé, o Adversário[1].

Pode-se argumentar que o conteúdo gnóstico dos textos na Biblioteca de Nag Hammadi é muitas vezes idêntico ao conceito transmitido por Jesus, mas a linguagem metafórica e o simbolismo é radicalmente diferente. O "Livro de Tomé o Adversário" e seus conselhos sobre como superar os "desejos / prisões" do ego diferem sobremaneira da abordagem psicológica mais prática, mais gentil, dos evangelhos canônicos e do Evangelho de Tomé.

Notas

[a] ^ O colofão anexado ao texto apresenta o título "O Adversário escrevendo ao Perfeito".

    Referências

    1. Robinson, ed., James M. (1990). The Nag Hammadi Library, revised edition. The Book of Thomas the Contender (Trad. de John D. Turner) (em inglês). San Francisco: Harper Collins. ISBN 0-06-066929-2
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