Nothofagaceae
Nothofagaceae é uma família monotípica de plantas com flor da ordem Fagales cujo único género é Nothofagus, um grupo de 43 espécies de árvores e arbustos maioritariamente caducifólios,[3] conhecidos pelo nome comum de faias-do-sul, nativos do Hemisfério Sul (Chile, Argentina, leste e sudeste da Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e Nova Caledónia). Os membros desta família são as espécies dominantes de muitas florestas temperadas dessas regiões, principalmente nas florestas patagónicas, a maior floresta temperada do Hemisfério Sul.[4][5]
| Nothofagaceae Nothofagus | |||||||||||||||||
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| Classificação científica | |||||||||||||||||
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| Distribuição geográfica | |||||||||||||||||
![]() Distribuição natural de Nothofagus. | |||||||||||||||||
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Ver texto. | |||||||||||||||||
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Descrição
Nothofagus, o único género que integra a família Nothofagaceae, conhecido por faias-do-sul dada a sua semelhança morfológica e ecológica com as faias do Hemisfério Norte, agrupa pelo menos 43 espécies de árvores e arbustos nativos das regiões temperadas e frias do Hemisfério Sul com distribuição natural na América do Sul (Chile, Argentina) e Australásia (leste e sueste da Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e Nova Caledónia). Algumas das espécies são ecologicamente dominantes nas florestas temperadas dessas regiões, como ocorre com a lenga (Nothofagus pumilio) nos bosques do extremo sul da América do Sul.[2]
Algumas espécies estão naturalizadas na Alemanha e Grã-Bretanha.[2]
As folhas são dentadas ou inteiras, com espécies perenifólias e espécies decíduas. O fruto é pequeno, achatado ou triangular, do tipo noz, agrupado em cúpulas contendo 1-7 sementes.
Todas as espécies integradas nesta família produzem flores pouco visíveis, cujo pólen é disperso pelo vento.[6]
As espécies desta família apresentam uma fitoquímica distinta, tendo sido isolados triterpenoides com esqueleto de dammarano (dammarano-3,20,24,25-tetrol e o seus ésteres com ácido acético, de Nothofagus pumilio[7]) e oleanano (ácido 2-acetilmalisnico, isolado de Nothofagus dombeyi).[8] Também se obtiveram diversos flavonoides (aromadendrol e ramnoglucósidos de 4′,7-di-hidroxiflavona[9]), chalconas (chalconaringenina) e estilbenos (resveratrol).[10][11]
Várias espécies de Nothofagus são usadas como plantas alimentícias por larvas de várias espécies de borboletas da família Hepialidae dos género Aenetus, incluindo Aenetus eximia e Aenetus virescens.
Muitas árvores individuais são extremamente velhas e, durante algum tempo, algumas populações foram consideradas como incapazes de se reproduzir sexualmente nas condições actuais em que ocorrem, ficando limitada a reprodução à brotação basal (reprodução assexuada e reprodução clonal), sendo consideradas como florestas remanescentes de um período mais frio. Contudo, a reprodução sexual já foi demonstrado possível.
Embora a família agora ocorra principalmente em ambientes frios, isolados e de alta altitude nas latitudes correspondentes a climas do tipo temperado e tropical, o registo fóssil mostra que os seus membros sobreviveram climas que parecem ter ser muito mais quentes que aqueles em que Nothofagus agora ocorre.[12]
A cada quatro ou seis anos, aproximadamente, as espécies de Nothofagus produzem uma safra mais volumosa de sementes, conhecida na Nova Zelândia por « beech mast». Na Nova Zelândia, este evento provoca um aumento na população de mamíferos introduzidos, como murganhos, ratos e arminhos (Mustela erminea). Quando nos anos imediatos a população de roedores entra em colapso, os arminhos atacam as espécies de aves nativas, muitas das quais estão ameaçadas de extinção.[13]
Distribuição
O padrão de distribuição desta família em torno da margem sul do Pacífico sugere que a disseminação data da época em que Antárctica, Austrália e América do Sul estavam ligadas numa massa terrestre comum, o supercontinente conhecida por Gondwana.[14] No entanto, a evidência genética obtida pelo uso dos métodos dos relógios moleculares permite argumentar que as espécies hoje presentes na Nova Zelândia e Nova Caledónia evoluíram a partir de espécies que chegaram a essas massas de terra por dispersão através dos oceanos.[15]
Existe incerteza nas datações determinadas por métodos moleculares o que criou incerteza sobra se a expansão de Nothofagus ter derivado da fragmentação do supercontinente Gondwana (ou seja, por vicariância), ou se ocorreu dispersão a longa distância através do oceano. Na América do Sul, o limite norte de expansão da família está localizado no Parque Nacional La Campana e nas Montanhas Vizcachas, localizados na região central do Chile.[16]
Filogenia e sistemática
Filogenia
No passado, as espécies que oram integram a família Nothofagaceae foram incluídas na família Fagaceae, mas os estudos filogenéticos revelaram que eram geneticamente distintas,[17] razão pela qual estão agora incluídas na sua própria família.[18]
A aplicação das técnicas da filogenética molecular sugere que Nothofagaceae é o grupo basal das Fagales e mantém as seguintes relações com as restantes famílias que integram aquela ordem:[1]
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O género apresenta um rico registo fóssil de folhas, de cúpulas e pólen, com fósseis que recuam até ao final do período Cretáceo em depósitos da Austrália, Nova Zelândia, Antárctica e América do Sul.[19]
Sistemática
O género Nothofagus foi descrito por Carl Ludwig Blume e publicado em Museum Botanicum 1: 307. 1850,.[20] tendo como espécie tipo Nothofagus antarctica (G.Forst.) Oerst. A etimologia do nome genérico Nothofagus deriva de notho = "falso" e fagus = "faia", ou seja, "falsa faia".[21]
Na sua presente circunscrição taxonómica, o género está subdividido nos seguintes subgéneros:[22]
- Subgénero Brassospora - tipo N. brassi (ou género Trisyngyne[23])[24]
- Nothofagus aequilateralis (Nova Caledónia)
- Nothofagus balansae (Nova Caledónia)
- Nothofagus baumanniae (Nova Caledónia)
- Nothofagus brassii (Nova Guiné)
- Nothofagus carrii (Nova Guiné)
- Nothofagus codonandra (Nova Caledónia)
- Nothofagus crenata (Nova Guiné)
- Nothofagus discoidea (Nova Caledónia)
- Nothofagus flaviramea (Nova Guiné)
- Nothofagus grandis (Nova Guiné)
- Nothofagus nuda (Nova Guiné)
- Nothofagus perryi (Nova Guiné)
- Nothofagus pseudoresinosa (Nova Guiné)
- Nothofagus pullei (Nova Guiné)
- Nothofagus resinosa (Nova Guiné)
- Nothofagus rubra (Nova Guiné)
- Nothofagus starkenborghii (Nova Guiné)
- Nothofagus stylosa (Nova Guiné)
- Nothofagus womersleyi (Nova Guiné)
- Nothofagus mucronata (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus serrata (extinto) (Tasmânia, Oligocene inferior)[19]
- Nothofagus balfourensis (extinto) (Tasmânia, Oligocene tardio - Mioceno inferior)[19]
- Nothofagus cooksoniae (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus peduncularis (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus robusta (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus smithtonensis (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus palustris (extinto) (Nova Zelândia, Oligoceno tardio - Mioceno inferior)
- Subgénero Fuscospora - tipo N. fusca (ou género Fuscospora[23])
- Nothofagus alessandri (centro do Chile)
- Nothofagus fusca (Nova Zelândia)
- Nothofagus gunnii (Tasmânia)
- Nothofagus solandri (Nova Zelândia)
- Nothofagus truncata (Nova Zelândia)
- Nothofagus cethanica (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Subgénero Lophozonia - tipo N. menziesii (ou género Lophozonia[23])
- Nothofagus alpina (=N. procera) (Central Chile/Argentina)
- Nothofagus cunninghamii (Austrália: Victoria, Tasmânia)
- Nothofagus glauca (centro do Chile)
- Nothofagus leonii (centro do Chile), (provavelmente um híbrido entre N. glauca e N. oblicua)[25]
- Nothofagus macrocarpa (centro do Chile, prov. Argentina)
- Nothofagus menziesii (Nova Zelândia)
- Nothofagus moorei (Austrália: New South Wales, Queensland)
- Nothofagus obliqua (Chile/Argentina)
- Nothofagus smithtonensis (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus muelleri (extinto) (New South Wales, Eoceno tardio)[19]
- Nothofagus novae-zealandiae (extinto) (Nova Zelândia, Mioceno médio a tardio)[19]
- Nothofagus pachyphylla (extinto) (Tasmânia, Pleistoceno inferior)[26]
- Nothofagus tasmanica (extinto) (Tasmânia, Eoceno - Oligoceno inferior)[19]
- Subgénero Nothofagus - tipo N. antarctica
- Nothofagus antarctica (sul da Argentina e Chile)
- Nothofagus betuloides (sul da Argentina e Chile)
- Nothofagus dombeyi (centro do Chile e Patagónia andina - Argentina)
- Nothofagus nitida (sul do Chile e provavelmente Argentina)
- Nothofagus pumilio (Argentina/Chile)
- Nothofagus lobata (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Nothofagus bulbosa (extinto) (Tasmânia, Oligoceno inferior)[19]
- Incertae sedis
- Nothofagus beardmorensis (extinto) (Antárctica, com 3 Ma (milhões de anos) ou cerca de 15 Ma de idade).[27]
A classificação das Nothofagaceae em géneros foi recentemente proposta para revisão, com a elevação dos quatro subgéneros ao nível taxonómico de género.[23] Contudo, a subdivisão não é considerada taxonomicamente essencial,[2][28] não tendo merecido aceitação generalizada fora da Nova Zelândia.
Galeria

Nothofagus alessandri.

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Nothofagus obliqua.
Nothofagus pumilo.
Nothofagus betuloides.
Ramo com inflorescência feminina de rauli (Nothofagus alpina).
Ramo com inflorescência masculina de rauli (Nothofagus alpina).
Ver também
- Cyttaria, género de fungos ascomicetas associados com Nothofagus
- Misodendrum, parasitas especializados de Nothofagus.
Referências
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- «Nothofagaceae». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Consultado em 24 de maio de 2012
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- Jordan, GJ (1999). «A new Early Pleistocene species of Nothofagus and the climatic implications of co-occurring Nothofagus fossils». Australian Systematic Botany. 12 (6): 757–765. doi:10.1071/sb98025
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- Hill, RS; Jordan, GJ; Macphail, MK (2015). «Why we should retain Nothofagus sensu lato». Australian Systematic Botany. 28 (3): 190–193. doi:10.1071/sb15026
Ligações externas
- (em inglês) Informação sobre Fagales - Angiosperm Phylogeny Website
- (em inglês) Imagens e descrição de famílias de angiospérmicas - segundo sistema Cronquist
- "Nothofagus" En Enciclopedia de la Flora de Chile
- Proyecto de Difusión de Especies de Flora Nativa Chilena
- Defensores del Bosque Nativo Chileno
- Revista Chilena de Flora y Vegetación
- Página en francés con excelente material

