Sociedade Harmonia de Tênis

A Sociedade Harmonia de Tênis é um tradicional clube esportivo e social localizado na cidade de São Paulo, fundado em 1930 por antigos sócios do Clube Athletico Paulistano. Estes, que eram Erasmo Assumpção Jr., Anésio Lara Campos, Maércio Munhoz e Décio Novaes, integrantes à época da Sociedade Paulista de Tênis, se fundiram à Sociedade Harmonia de Dança, na época dirigida por Elvira Paula Machado Cardoso e Hermínia Pereira de Queiroz[1][2].

Sociedade Harmonia de Tênis
Sociedade Harmonia de Tênis
Escada para a entrada social da Sociedade
Construção 1935 e 1970
Área
  • 3 000 metro quadrado
Estado de conservação SP
Património nacional
Classificação Condephaat
Data 1992
Geografia
País Brasil
Cidade São Paulo
Coordenadas 23° 34' 24" S 46° 40' 12" O

A junção de ambos grupos esteve diretamente relacionada à crise de 1929. O grupo de tênis, afastado das quadras do Paulistano, possuía um terreno para a construção de oito quadras do esporte, além de um estádio. O grupo de dança, constituido por moças conhecidas como organizadoras dos "bailes do Trianon" e gozadoras de certo patrimônio e prestígio social, tinham condições de arcar com a construção da sede social[1].

A sua sede, inaugurada inicialmente em 1935, foi reformada em 1964 e reinaugurada em 1970, através de um novo projeto idealizado por Fábio Penteado[3], Alfredo Paesani e Teru Tamaki, vencedores de um concurso promovido à época pelo Instituto dos Arquitetos de São Paulo. A edificação, bem como o clube, é patrimônio histórico do Estado de São Paulo, tombado por resolução do Condephaat em 1992[4].

O processo que garantiu a preservação do espaço obteve um relevante aspecto jurídico, ao justificar que uma obra recente já possui condições para ser considerada importante e digna de conservação, dado que o edíficio-sede da SHT tinha pouco mais de 10 anos de construção no momento em que foi tombado[5]. O registro definitivo, no Livro do Tombo do Estado, foi realizado meses depois, no dia 06 de abril de 1993, inscrição de número 300[6]. O lote que abriga o clube é um terreno de pouco mais de 20.000m², com um elevado índice de arborização, que abriga o edifício-sedem construção que, por sua vez, tem espaço de cerca de 2.500m²[4].

História

Construída na rua Canadá, que está localizada no bairro do Jardim América, na zona oeste da cidade de São Paulo, a ampla estrutura do clube ilustrava fisicamente o sucesso social da Sociedade Harmonia de Tênis. Este mesmo sucesso, somado com a performance esportiva dos associados, atribuíram certa vivacidade ao SHT, considerado então um dos melhores clubes da cidade.[1]

A década de 30 foi um marco na história do clube, registrando muitas conquistas reais e simbólicas: a construção de uma moderna sede social e de uma piscina em 1935, a conquista do primeiro campeonato de tênis, o início da prática da natação e do hockey, além da introdução da ginástica. Realizaram-se durante esse período bailes, chás dançantes e festas infantis. Um dos protagonistas deste sucesso era seu então presidente, Erasmo Assumpção Jr., que dirigiu o clube da fundação em 1930 até 1948[7].

Placa de localização

Na década de 1940, o clube sofreu as consequências das dificuldades do cenário internacional, afetado fortemente pela Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939. A principio, uma das mudanças mais sentidas e severas foi a suspensão dos campeonatos internacionais de tênis, limitando o Harmonia somente a disputar torneios internos, fator que intensificou e incentivou as competições interestaduais e impulsionou o crescimento de clubes de tênis, sobretudo nas cidades do interior paulistano. Durante os anos de 1937 até 1945, período de vigência no Brasil da ditadura denominada de Estado Novo, o clube perdeu sócios que foram exilados pelo regime de Getúlio Vargas, como por exemplo Paulo Nogueira Filho, e outros que possuíam nacionalidades oriundas de nações inimigas do Brasil, que foram retirados do quadro social[7].

Após o ápice dos conflitos, dentro e fora do país, o Harmonia deu início a uma nova fase repleta de glórias. As quadras e piscinas tornavam-se palcos onde eram realizadas grandes competições, novas práticas esportivas surgiam, como inúmeros jogos de bridge; aquisição de aparelhos de cinema, bailes realizados nos salões, obras de benemerência e a vida social paulistana.

O SHT sempre dispunha de poucas vagas para sócios e as mesmas se tornavam cada vez mais disputadas. Após uma consulta realizada com os mais jovens do clube, o então presidente, Décio Novaes ampliou o número de associados e, com isso, deu como aberto o debate para uma uma nova sede. Naquele mesmo ano, a rua Canadá ganhava seu primeiro ponto, marcando a partir dali a região como uma verdadeira área urbana. O Harmonia era membro dessa modernização. A cidade de São Paulo ansiava pelo restabelecimento dos projetos anteriormente interrompidos pela guerra. Já eram notáveis as quadras novamente lotadas com o retorno dos torneios de tênis, o som da Orquestra Jazz Columbia animando os salões, o reencontro com o sol na beira das piscinas e a vida social, práticas frequentes para quem adentrava o clube da rua Canadá[7].

Arquitetura

Estrutura original

Uma referência para o urbanismo moderno, o projeto Jardim América, financiado pela Companhia City a partir de 1912, introduziu os conceitos de Garden City no seio da cidade de São Paulo. Neste contexto, a Sociedade Harmonia de Tênis delimitou sua área nesse espaço de inovação. Após a finalização das quadras, das arquibancadas de cimento armado, dos gramados e jardins planejados por Dieberger, o clube optou, entre seus sócios,por dar prioridade entre a sede social e a piscina, e o que deveria ser priorizado: a sede ou a piscina, com a primeira alternativa se saindo vitoriosa[8].

As obras da primeira sede tiveram início em 1934, com recursos advindos dos terrenos que a Sociedade Harmonia de Tênis possuía nos bairros da Água Branca e Barra Funda, herdados da extinta Sociedade Harmonia de Danças. A obra foi entregue após um ano depois, com uma das primeiras piscinas existentes na cidade e uma sede construída baseada em art déco, com características asseguradas pelos traços geométricos que sinalizavam a vigente modernidade do clube e bastante incomuns à arquitetura da época [8].

Reforma

Chegado o fim da década de 1950, a Sociedade Harmonia de Tênis encontrava-se em um impasse que girava entorno de uma reforma ou a total demolição da sua sede. As escolhas, que tentavam realizar uma iniciativa para buscar a alternativa mais viável do ponto de vista econômico, mas que, ao mesmo tempo, suprisse a necessidade estrutural do clube, se davam, em grande parte, pela Companhia City, a empresa proprietária de porcentagem considerável do terreno[9].

Visão da rua Canadá, no Jardim América

A solução encontrada foi a emissão de mais títulos para novos sócios. Devido ao sucesso das vendas, o clube iniciou o processo de aquisição do terreno de 18.280m², que restavam do antigo loteamento. A proposta foi a execução de uma planta do arquiteto Antonio Luís Anhaia Mello, que ergueu um outro anexo, hoje remanescente como bar da piscina[9].

Para administrar a construção do edifício que abrigaria a nova sede, formou-se uma comissão, escolhida em concurso realizado em parceria com o Instituto dos Arquitetos de São Paulo[4], para escolher o melhor projeto entre aqueles que se encontravam inscritos. A Comissão para escolher o vencedor foi presidida por Oswaldo de Moura Abreu e ainda contou com participação de Júlio Neves, Ícaro C. Mello, Luís R. de C. Franco e Rubens C. Vianna. O ganhador foi Fábio Penteado[3], apoiado por Alfredo Paesani e Taru Tamaki[4].

O edifício foi iniciado em 1965 e finalizado em 1970, sintetizando uma perfeita harmonia entre arte e técnica - empregando materiais novos e tecnologia de ponta da época. Um gigantesco vão e uma grelha de concreto que cobria todo o clube foram marcos da arquitetura realizada na época. O projeto foi agraciado com o reconhecimento merecido quando obteve a medalha de ouro na Exposição Internacional de Praga[9].

A edificação que abriga a sede ocupa um lote menor de 2.500m², dentro de um lote de cerca de 20.000m², tendo características arquitetônicas que valorizam ao máximo os visuais dos jardins, contando com iluminação e ventilação naturais. Em termos materialísticos, predominam na construção, sobretudo, elementos como por exemplo concreto aparente, painéis de lona, vidros e piso de madeira.[4]

Significado Histórico e Cultural

Após a fundação, a Sociedade Harmonia de Tênis atravessou um período turbulento da história do brasileira e mundial: a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, uma das razões que proporcionou a fundação do clube, a Revolução Constitucionalista de 1932, que envolveu diretamente o Estado de São Paulo e o regime ditatorial de Getúlio Vargas, e o advento da Segunda Guerra Mundial, em 1939[7]

Entrada para funcionários

Fruto de duas expressões culturais - o passadismo e o modernismo -, a Sociedade Harmonia de Tênis sintonizava-se com os valores desse último, vocábulo de uma vanguarda alinhada com os modos sugeridos por um novo tempo social perdurante[8]. O direito ao voto por parte das mulheres, o voto secreto, os direitos trabalhistas e a Constituição foram algumas conquistas brasileiras dos anos 30, que asseguraram novas práticas à sociedade, do empresário moderno à mulher participativa. Os mais fiéis representantes dessa nova era encontravam-se nas quadras do clube[7].

O clube, indissociável de sua moderna estrutura arquitetônica, teve uma direta relação e envolvimento com o contexto sócio-político-econômico brasileiro e internacional da época, influenciando, diretamente, nos hábitos culturais, esportivos e sociais do país, sobretudo na cidade de São Paulo e no interior do Estado de São Paulo[5].

Instalada na cidade, a Sociedade Harmonia de Tênis acabou por proporcionar à cidade um novo, amplo e arborizado espaço onde se era possível praticadar atividades esportivas, onde extratos importantes da sociedade paulistana da época pudessem reunir-se e estabelecerem suas relações sociais[8]. Indiretamente, acabou exercendo papel relevante no cenário esportivo brasileiro, sobretudo do tênis, um esporte que, até aquele momento, não tinha a cultura de ser praticado no Brasil e que só presenciaria seu auge muitos anos depois, durante o exímio período de sucesso de Gustavo Kuerten[7].

Tombamento

O processo de tombamento do edifício da Sociedade Harmonia de Tênis foi iniciado em 1981 e tinha em mente o objetivo de ratificar uma tese jurídica, a de que um patrimônio cultural não se tange somente a obras antigas, já que o edifício tinha sido inaugurado pouco mais de dez anos anteriormente a entrada da ação[4]. Por isso, a ação representa, conjuntamente, um significado social, de observar o patrimônio histórico como sendo uma edificação significativa para a sociedade, ainda que para a contemporânea, por meio de justificativas comprovadas com importância para a preservação e não somente da estrutura física, mas também do seu significado para a história de um local ou de um povo. Não constam no processo, ao menos de maneira específica, a importância do tombamento para a segurança do prédio[5].

O processo, registrado sob o número 21901/81, resultou na Resolução nº 34/92, do Condephaat, que transformou o edifício em patrimônio histórico do Estado de São Paulo.[10] A edificação foi registrada no Livro do Tombo do Estado sob o nº 300, p. 76, no dia 06 de abril de 1993.[6]

Galeria

Ver também

Referências

  1. Condephaat (1981). Processo de Tombamento nº 21901/81. [S.l.: s.n.] 185 páginas
  2. «Secretaria de Estado da Cultura». www.cultura.sp.gov.br. Consultado em 26 de abril de 2017. Arquivado do original em 17 de setembro de 2016
  3. «Folha.com - Cotidiano - Fábio Penteado (1929-2011) - Um campineiro que presidiu o IAB - 28/06/2011». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2016
  4. «Secretaria de Estado da Cultura». www.cultura.sp.gov.br. Consultado em 22 de novembro de 2016. Arquivado do original em 17 de setembro de 2016
  5. Condephaat (1981). Processo de Tombamento nº 21901/81. [S.l.: s.n.] 138 páginas
  6. «Sociedade Harmonia de Tênis | infopatrimônio». www.infopatrimonio.org. Consultado em 22 de novembro de 2016
  7. Condephaat (1981). Processo de Tombamento nº 21901/81. [S.l.: s.n.] 189 páginas
  8. Condephaat (1981). Processo de Tombamento nº 21901/81. [S.l.: s.n.] 186 páginas
  9. Condephaat (1981). Processo de Tombamento nº 21901/81. [S.l.: s.n.] 197 páginas
  10. «Resolução 34/92» (PDF). Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Consultado em 22 de novembro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 24 de novembro de 2016

Ligações externas

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