-guaçu (sufixo)

-gûasu AFI: [wa'su], ou -usu AFI: [u'su] é um sufixo da língua tupi, o qual chegou ao português com as formas -guaçu e -açu. Trata-se de um sufixo que, no tupi antigo, formava o grau aumentativo. Exemplos:

  • 'Ygûasu: rio grande (literalmente: riozão)
  • Kunumĩgûasu: menino grande, moço
  • Ybytyrusu: montanhão, serra
Exemplo do sufixo -ûasu na toponímia brasileira

Como se pode perceber, o sufixo de grau aumentativo possui dois alomorfes: -gûasu (ou -ûasu) é usado em palavras oxítonas. Já o morfe -usu é usado após paroxítonas, ensejando a queda do 'a' átono no final da palavra, se este existir (como é o caso de ybytyrusu acima, que é derivado da palavra paroxítona ybytyra, com 'a' átono).[1]

O sufixo aumentativo frequentemente é traduzido por "grande". Tal tradução, embora válida, pode levar a equívocos, pois -gûasu não é um adjetivo na língua tupi. A razão disso é que ele não pode ser usado predicativamente. Por exemplo, não é possível falar "a canoa é grande", em tupi, usando -ûasu. Para isso, seria necessário dizer:

  • Ygara seburusu: A canoa (ygara), ela (s-) [é] grande (-eburusu).

Só é possível falar "canoa grande", ou "canoão". Neste caso, seria em tupi: ygarusu.

Outros significados

Além de sufixo de grau aumentativo, -gûasu e suas variantes, no tupi, eram usados adverbialmente ao lado de adjetivos e verbos. Nestes casos, ele assumia o significado de muito (tanto em quantidade como em intensidade).[1]

  • Arurusu: trago muitos (quantidade)
  • Aîemoorybusu: Alegro-me muito (intensidade)

O sufixo em português

Segundo o dicionário Aulete, -guaçu leva hífen "quando tem individualidade morfológica e vai ligado a elemento acabado em vogal graficamente acentuada: araçá-guaçu, amoré-guaçu, maracanã-guaçu."[2]

Na mesma linha, para Evanildo Bechara, um hífen é usado quando o primeiro elemento da composição termina com uma vogal com acento gráfico (como em todos os exemplos menciondos acima), ou quando a pronúncia requer distinção gráfica, como em capim-açu.[3]

Antônimo

-guaçu geralmente se opõe a mirim.[4] Contudo, as palavras não estão sob um mesmo paradigma. Mirim vem do tupi mirĩ, que é um adjetivo que significa 'pequeno'. Não se trata, portanto, de um sufixo. Guaçu, na verdade, tem como antônimo o sufixo diminutivo -'i ou -'ĩ. Exemplos:

  • Itaĩ: pedrinhas
  • Pitangĩ: criancinha (recém-nascido)

Referências

  1. NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição revista e aperfeiçoada. São Paulo. Global. 2005.
  2. «Dicionário Caldas Aulete - guaçu». Consultado em 2 de fevereiro de 2024
  3. Bechara 2019, p. 111.
  4. S.A, Priberam Informática. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 2 de fevereiro de 2024

Bibliografia

  • Bechara, Evanildo (2019). Moderna gramática portuguesa [Moderna gramática portuguesa] 39th ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. ISBN 9788520943199
  • Navarro, Eduardo de Almeida (2013). Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil [Dictionary of Old Tupi: the classical indigenous language of Brazil] 1st ed. São Paulo: Global. ISBN 978-85-260-1933-1
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