Religião na Mesopotâmia

A antiga religião da Mesopotâmia pode se referir às crenças religiosas sumérias, acádias, babilônicas e assírias que existiram desde o 3º milênio a.C.. Pode-se dizer que as crenças e práticas religiosas na Mesopotâmia formam uma única corrente coerente de tradição de origem suméria. Aos existentes, os acádios (semitas que emigraram para a Mesopotâmia vindos do oeste) foram adicionando e modificando aos poucos, cujas próprias crenças foram amplamente assimiladas e integradas com suas próprias tradições e com as de outros povos que viveram ou coexistiram na Mesopotâmia (região que inclui os atuais Iraque, Cuaite, sudeste da Turquia e nordeste da Síria), com destaque para os babilônios ou assírios e, mais tarde, os arameus e os caldeus.[1]

Tábua de Urge (ca 3200–3000 a.C.) que demonstra uma entrega de cereais à deusa Inana atualmente no Museu de Pérgamo.

História

Mapa oficial mostrando todas as cidades da Mesopotâmia.

A Mesopotâmia apresenta três regiões muito distintas, que são: a região do delta, próximo do golfo Pérsico, que constitui propriamente o país da Suméria, pela qual floresceram as cidades de Eridu, Ur, Larsa, Lagas, Uma, Uruque e Xurupaque; a região situada entre os rios Tigre e Eufrates, onde se estabeleceram os primitivos semitas, fundando as cidades de Babilônia, Borsipa, Quis e Sipar; e a região norte, já nas fraldas dos montes, que foi habitada pelos semitas posteriormente, onde foram fundadas as cidades Assur e Nínive.[2]

Sumérios

Ver artigo principal: Suméria

Os sumérios tem uma origem incerta. Acredita-se que haviam surgido das regiões montanhosas devido ao costume de erigir templos em forma de grandes construções escalonadas. A princípio, essas construções eram celeiros levantados na imensa planície da Mesopotâmia para justamente evitar inundações. Como estavam protegidas sob um deus local, transformaram-se em centros religiosos sob um sangu mah (sumo sacerdote), que tinha um auxiliar para o patesi (governador), na qual, com o crescimento econômico das cidades, tornou-se um chefe poderoso, que assumiu o título de lugal (rei).[2]

Acádios

Ver artigo principal: Império Acádio

Os acádios provavelmente eram semitas da periferia do deserto, que pouco a pouco se infiltraram nas regiões férteis da Mesopotâmia, tornando-se sedentários e assimilando à civilização suméria. Em sua cidade chamada Agade, surgiu um aventureiro, cujo nome é Sargão da Acádia, que se tornou rei sobre a Acádia e conquistou toda a Mesopotâmia até a Anatólia.[3]

Invasão dos Gútios

Ver artigo principal: Gútios

Muito tempo depois, uma invasão de bárbaros, vindos dos montes Zagros, destrói o Império Acádio, mas respeitam a civilização existente. Sob o patesi Gudea, o reino de Lagas conhece um novo florescimento. Mas o antigo povo da Suméria conseguiu se libertar sob a liderança da cidade de Uruque.[3]

Amoritas (Amorreus)

Ver artigo principal: Amoritas

Os amoritas eram também povos semitas, mas vindos de Amurru (ocidente), ou seja, a região da atual Síria. Vieram em várias levas, mas se estabeleceram aos poucos na alta Mesopotâmia. Uma leva mais numerosa consegue se impor e fundar a Babilônia, que atinge o poder político e econômico sob o famoso rei babilônico Hamurabi.[3]

A religião da antiga Mesopotâmia alcança seu auge, mas também consegue iniciar um declínio definitivo, como ocorre nos períodos cassitas, assírios e medos.

Crenças

Deuses cosmológicos

'Am' escrito em cuneiforme.
  • Am (Anu em sumério) é o primeiro deus da antiga tríade cósmica. Seu significado é "o céu". Ele, sendo um Deus Supremo, gera outros deuses e dá poderes aos reis. Seu culto era menos importante quanto a de Enlil e Ea. O santuário de Am foi na cidade de Uruque, mas ficou por muito tempo sem culto, relativando à pura transcendência. Sua esposa era Anutum, que tem uma personalidade de menos importância;[4]
  • Enlil recebeu o segundo elemento divino: a atmosfera (além dela a terra). Seu nome significa "o senhor do tufão". Seu culto era no templo de Ecur, em Nipur. Enlil era encarregado das tábuas do destino e executar os decretos dos deuses, castigando com rigor os homens desobedientes. Além disso era temido e muito invocado. Tinha como esposa Ninlil, de secundária importância;[4]
Selo de Ada mostrando Ea
  • Ea (Enqui em sumério) era o terceiro da tríade cósmica, que tinha como elemento as águas subterrâneas. Seu nome significa "o senhor do que está em baixo".[4] O santuário de Ea ficava em Eridu. Ea era um deus benéfico, pois representava a riqueza das terras sedentárias da Mesopotâmia. Sua esposa era Ninqui;[5]
  • Nergal tinha o quarto elemento, cujo seria o mundo inferior, que era o reino de Aralu, uma terra sem retorno. Estava associado à Ninquigal, deusa do submundo. A princípio era um deus solar que executava as ordens de Anu e viveu por 12 meses, seis no céu e seis no inferno.[5]

Deuses astrais

  • Sim (associado como Nana pelos sumérios) era a representação da lua, ou seja, ilumina os passos durante as longas jornadas noturnas do deserto, além de dar sabedoria às pessoas em suas decisões. A sua cidade de adoração ficava principalmente em Ur, o local de nascimento de Abraão, mas seu santuário também ficava em Harã, lugar que cita o patriarca hebreu. Sua esposa era Ningal, que "gerou" o Sol e Vênus;[5]
  • Samas (Utu pelos sumérios) foi um deus do sol e juiz que aplicava as leis rigorosamente, onde via de tudo e depois tomava a nota em seu transcurso diário e após isso iria para o domínio dos mortos, atrás das montanhas, e depois voltava. Seu santuário localizava-se em Larsa, mas tarde em Sipar. Aia, sua esposa, era sua companheira e seu filho Bunoni era o seu conselheiro e cocheiro;[5]
Inana em um selo acádio, c.2 350-2 150 a.C.
  • Istar (Inana em sumério) era a deusa mais adorada pelos mesopotâmicos, sendo representada pelo planeta Vênus e a deusa do amor no seu aspecto verspertino. Era a filha de Sim e, por sincretismo, também de Anu, motivando o título a "rainha dos céus". Ela foi a amante de Dumuzi e, como todas as deusas da fertilidade, passa por momentos de aflição e lamentação pela perda do amante e vai buscá-los nas profundezas da terra, ou seja, em Cur.[6]

Deuses da natureza

Abaixo dos deuses astrais, contém os deuses da natureza, que são populares, e estão mais próximos dos homens simples, sendo os mais típicos da Ásia Menor:[7]

  • Adade (Iscur em sumério) era o deus do trovão que, ao contrário de Enlil, trazia chuvas benéficas. Seu símbolo é o touro, que representa a fecundidade;[7]
  • Gibil era o deus do fogo que dissipa as trevas e purifica a atmosfera;[7]
  • Tamuz (Dumuzi em sumério) era o deus da vegetação e amante de Istar, identificado pelos estudiosos como Adônis.[7]

Deuses estatais

Estátua de Marduque representada em um selo cilíndrico do rei babilônico Marduquezaquirsumi I do século IX a.C..

Os semitas tinham uma cultura de ter sempre um deus protetor em suas cidades, na qual seria uma encarnação do Estado, a quem nomeavam de Baal. Na Mesopotâmia, tiveram dois deuses estatais principais:[8]

  • Assur foi o deus do Sol e guardião da cidade Assur, adorado em Nínive;[9]
  • Marduque era o deus adorado pelos babilônicos e citado no Enuma Elis como "Deus Supremo", a fim de enfrentar a monstro Tiamate.[9]

Ver também

Referências

  1. Foster 2007, p. 161.
  2. Piazza 1996, p. 83.
  3. Piazza 1996, p. 84.
  4. Piazza 1996, p. 85.
  5. Piazza 1996, p. 86.
  6. Piazza 1996, pp. 86-87.
  7. Piazza 1996, p. 87.
  8. Piazza 1996, pp. 88-89.
  9. Piazza 1996, p. 89.

Bibliografia

  • Foster, Benjamin R. (2007). A Handbook of Ancient Religions. Cambridge: Cambridge University Press
  • Piazza, Waldomiro O. (1996). Religiões da humanidade. Ipiranga: Loyola
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